Sábado, 16 de Novembro de 2024, 12h36
TURÍSTICO
Cânion surgiu após tromba d’água rachar rocha em MT
Da Redação
O Cânion do Jatobá, que secou por completo em agosto deste ano e começou a se recuperar com a chegada das chuvas na região, foi moldado ao longo de milhões de anos pela força das águas da Cachoeira do Jatobá, que, ao despencarem sobre o terreno rochoso, abriram um corte profundo no paredão de pedra, dando origem ao cânion, em Vila Bela da Santíssima Trindade, a 562 km de Cuiabá, segundo o guia de turismo e gestor ambiental Alcindo Chaves.
A Cachoeira do Jatobá, localizada em Vila Bela da Santíssima Trindade, tem uma das maiores quedas d'água do Brasil. Com 252 metros de altura, ela ocupa a terceira posição no ranking das maiores do país, ficando atrás apenas da Cachoeira da Fumaça, na Bahia (com 340 metros) e da Cachoeira de Santo Antônio, em Rondônia (alcançando 271 metros).
Ao g1, Alcindo contou que a região de Vila Bela é famosa pela geografia única, no entanto, as mudanças climáticas têm impactado no comportamento do cânion. De acordo com o guia, o cânion é alimentado por um rio subterrâneo, que, devido ao ciclo natural e, mais recentemente, às alterações climáticas, chega a secar por períodos durante o ano, geralmente entre julho e setembro.
Além disso, ele tem observado que as chuvas, que antes começavam no final de setembro, têm se atrasado e alterado os ciclos naturais dos rios na região.
"É normal que o cânion fique seco uma vez por ano, mas essa seca tem durado mais tempo nos últimos anos. O ciclo das chuvas tem mudado, e isso tem afetado muito nossa região", explicou.
Para o gestor ambiental, as ações humanas, especialmente o desmatamento na região, são algumas das principais causas das mudanças climáticas, com impactos diretos no comportamento do cânion e nas nascentes que o alimentam. Essas intervenções têm afetado de forma significativa o equilíbrio natural do local.
"Os ciclos de seca têm se prolongado mais, e a vegetação local também tem sido muito impactada. Isso não é só um problema de Vila Bela, é um problema do Brasil e do mundo", alertou.
O Cânion do Jatobá também abriga um fenômeno natural interessante relacionado aos peixes. Durante o período de cheia, que ocorre após fortes chuvas, um movimento migratório de peixes pode ser observado. Segundo Alcindo, "o cânion é alimentado por um rio subterrâneo que se conecta ao Rio Guaporé, e é nesse momento que os peixes realizam um movimento de desova".
Quando ocorre a tromba d'água — um fenômeno em que o nível do rio sobe rapidamente, alcançando até 4 metros em algumas áreas — "os peixes, como o pintado, sobem pelo Guaporé em direção ao cânion".
Alcindo explicou que essa subida é crucial para a reprodução da espécie, mas o fenômeno dura apenas algumas horas e é altamente dependente da intensidade das chuvas. Após a desova, os peixes maiores retornam ao Guaporé, enquanto os menores permanecem no cânion, aproveitando as águas mais rasas até migrarem para o rio.
Já quando o cânion começa a secar, geralmente entre julho e setembro, o ciclo se repete, mas nem todos os peixes conseguem voltar para o rio. Nesse momento, o cenário muda: animais como gaviões e cães-do-mato aparecem para se alimentar dos peixes que ficam encalhados nas pequenas poças de água.
Em contrapartida, o professor de geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, disse ao g1 que o cânion é o resultado de uma complexa interação entre as forças geológicas e a ação da água. A formação remonta a processos naturais que ocorreram ao longo de milhares de anos, moldando as rochas da área e criando as impressionantes falhas e fraturas que hoje caracterizam o local.
“Nesse local onde o rio fica bem reto e encaixado é como se fosse uma linha reta. São antigas estruturas geológicas. Nesses locais onde existem essas falhas e fraturas na rocha, é muito mais fácil a água remover as partículas, ou seja, carregar o material. Somado a isso, tem a força do próprio rio, que vai fazendo com que a erosão vá esculpindo o cânion. Então, o cânion é resultado dessa interação entre as estruturas geológicas que existem no local e a ação da água, que vai esculpindo esse relevo”, explicou.
Recuperação e fim da seca
O Cânion do Jatobá começou a se recuperar com a chegada das chuvas na região, após mais de 100 dias de seca. Registros feitos nesta semana mostram que o local voltou a esbanjar beleza com suas águas cristalinas.
Após a seca severa que chamou atenção na época, o cânion agora volta a atrair moradores e turistas que buscam aventura em meio à natureza revigorada. A guia de turismo Luana Samaia Neves de Souza contou que, apesar do retorno da água, são necessários ainda mais alguns dias de chuva para que o local possa estar pronto para receber um público maior.
O local costuma reunir de sete a oito mil pessoas por temporada devido à aparência paradisíaca e às águas cristalinas. Segundo Luana, o movimento de turistas deverá crescer, especialmente, a partir de dezembro, quando começa a alta temporada e com a chegada de mais chuva.
Conforme o meteorologista Guilherme Borges, não há informações de quando aconteceu a primeira chuva desde a seca que atingiu o município entre agosto e setembro. No entanto, somente neste mês, a cidade registrou 87,2 mm de chuva, segundo a Climatempo. A tendência é de que a chuva continue presente ao longo dos próximos dias e fique acima da média de chuva esperada para novembro que é 203mm.
Para quem planeja visitar o cânion nas próximas semanas, Luana orienta a ter um pouco de paciência, já que alguns pontos de banho ainda não estão cristalinos e há cachoeiras que permanecem sem água.
Seca severa
A seca que atingiu o município em agosto trouxe consequências para o turismo local e para o meio ambiente. Devido à estiagem, o volume de água no cânion diminuiu drasticamente, impactando a visitação e prejudicando a economia local, que depende do fluxo de turistas. Além do impacto direto no turismo, a seca também levou preocupações para a população local.
O cânion começou a ser visitado por turistas a partir de 2017. O local se tornou um dos atrativos mais visitados desde então no Parque Serra de Ricardo Franco. O maior fluxo de visitações ocorre de dezembro a junho.
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