Quinta-Feira, 17 de Julho de 2025, 18h03
Círculo de Construção de Paz sobre Idadismo cria ambiente de escuta e acolhimento de pessoas idosas
Da Redação
“Sinto que, pela primeira vez, fui ouvida.” O desabafo foi repetido por quase todos os 15 participantes do ‘Círculo de Construção de Paz - Idadismo’ realizado na Academia da Saúde, em Chapada dos Guimarães, nesta quinta-feira (17 de julho). O momento de escuta permitiu que a população 60+ compartilhasse as dificuldades enfrentadas no dia a dia, como a falta de respeito, de acolhimento e paciência. Ao mesmo tempo, o encontro permitiu a integração de agentes da saúde e operadores do Direito.
A roda de conversa e escuta foi promovida pelo Poder Judiciário de Mato Grosso (PJMT), por meio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejuscs) de Chapada dos Guimarães. O encontro foi conduzido pelo juiz diretor do Foro, Leonisio Salles de Abreu Junior, com a aplicação da metodologia da Justiça Restaurativa, que promove a cultura de paz a partir do diálogo.
“A Justiça Restaurativa cumpriu seu papel de agregar diálogo, escuta e pertencimento às pessoas presentes. Nesta oportunidade, tivemos a chance de ouvir diretamente as deficiências existentes no município, como nas áreas de comércio, saúde, agências bancárias e outros serviços. Isso me possibilita, como juiz, dialogar com o prefeito, com o terceiro setor e com a sociedade civil para buscar melhorias e transformações reais para a população idosa”, destacou o magistrado que atuou como facilitador do grupo.
Buscar soluções para a inclusão concreta da população idosa no país é uma preocupação social, respaldada por números estatísticos. Hoje, os idosos representam 15,8% da população total, conforme o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2050, a previsão é que essa população represente um terço do total de brasileiros.
“Estamos vivendo o século do envelhecimento. Em 2030, a população idosa vai se igualar à de crianças, e em 2050, a previsão é que uma em cada três pessoas no Brasil seja idosa. Por isso, é urgente trabalhar com educação e informação, para que as pessoas conheçam seus direitos e saibam como denunciá-los quando forem violados”, alertou Leonisio Salles.
O envelhecimento iminente acende o alerta para a elaboração de políticas públicas e cumprimento das já existentes, como observou a advogada Natália Magalhães, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Chapada dos Guimarães.
“A partir dessa vivência, surgiu a proposta de dar um pontapé inicial para que a subseção da OAB na comarca crie uma comissão ou núcleo voltado especificamente à população idosa. A ideia é que essa ação se consolide a partir de estudos, planejamento e articulação com a sociedade civil, envolvendo também outras áreas como criança e adolescente, mas com foco prioritário, neste momento, na pessoa idosa”, destacou a advogada.
Escuta ativa
Ter um espaço para acolhimento e escuta ativa permitiu que a aposentada Verionice Rosa dos Santos compartilhasse uma de suas dores, sendo elas a falta de paciência e respeito. “O que mais me tocou foi que consegui falar e, ao mesmo tempo, fui ouvida. Isso é algo que nem sempre acontece na nossa vida, principalmente quando a gente é mais velha. Foi importante demais poder expressar minhas palavras e saber que tinha gente ali me escutando de verdade”, disse Verionice.
A também aposentada Eva Faborete Borele Scalco agradeceu o espaço de escuta e reforçou a necessidade da luta pela garantia dos direitos dos idosos. “Participar do Círculo foi muito gratificante. Precisamos relatar aquilo que vivemos no nosso dia a dia, como a sociedade nos trata, como somos vistos”, garantiu Eva, que hoje realiza trabalhos com oficinas para idosos.
“Muitas vezes somos tratados com desdém ou como se fôssemos invisíveis. O encontro de hoje foi importante para fortalecer o nosso conhecimento, a nossa autoestima e a nossa consciência de direitos. Acredito que o Estatuto do Idoso nos ampara e nós, enquanto idosos, temos que lutar pelo nosso direito. Mas nem todos sabem como fazer isso, ou sequer sabem que têm direitos garantidos por lei. Aqui, neste Círculo, aprendemos mais sobre como nos defender e como buscar respeito e dignidade”, defendeu.
Frequentador assíduo de Círculos de Construção de Paz, Valdeir José de Oliveira, mais conhecido como professor Brasil, contribui para a melhora da saúde e qualidade de vida de crianças, adultos e idosos. Valdeir é arteterapeuta na Academia da Saúde. Sua vivência no Círculo reforçou seu compromisso, pessoal e profissional, de promover transformações por meio da arte.
“Além de ser facilitador, participei também como alguém que se permitiu ser cuidado. Como também sou idoso, me identifico com os desafios enfrentados por esse público. Participar dessa roda foi um fortalecimento emocional para mim. Saio daqui fortalecido, tanto para continuar doando quanto para me permitir receber”, reforça o professor.
Compromisso
O Círculo de Construção de Paz - Idadismo ocorreu no espaço dedicado ao cuidado e qualidade de vida da população de Chapada dos Guimarães. O local oferece Práticas Integrativas e Complementares (PICS), como auriculoterapia, reiki, massagem e educação física.
“O público idoso é muito presente em todas as ações que promovemos. Além das atividades físicas e terapêuticas, temos um trabalho voltado para aumentar a sociabilidade e a autoestima, valorizando esse público”, explica a enfermeira Tamara Stephanie Melo Malta, coordenadora geral da Atenção Básica de Chapada dos Guimarães.
O encontro também reforçou a necessidade de fiscalização de estabelecimentos públicos e privados, para verificar se há o cumprimento do Estatuto do Idoso. “Assumimos hoje o compromisso de verificar, em estabelecimentos comerciais e públicos, se há visibilidade adequada das informações sobre os direitos da pessoa idosa. É fundamental que o Estatuto do Idoso esteja afixado nos locais de fácil acesso, com clareza, para o idoso poder exercer seus direitos, especialmente no que diz respeito à prioridade no atendimento e à acessibilidade”, garantiu a representante da OAB, Natália Magalhães.
Justiça Restaurativa
Leonísio Salles destacou as possibilidades criadas pela Justiça Restaurativa nos encontros. “Em vez de julgar, ela acolhe; em vez de silenciar, ela escuta. E os Círculos de Paz são instrumentos potentes para transformar relações, porque abrem espaço para o reconhecimento mútuo e para a corresponsabilidade entre gerações. Quando uma sociedade valoriza o tempo vivido, ela protege seu próprio futuro.”
O magistrado finaliza com um alerta para todas as gerações. “Combater o idadismo exige mudança de atitude individual e ação coletiva. Precisamos de mais escuta, mais inclusão e mais respeito. Cabe a todos nós, famílias, instituições e poder público, garantir que o envelhecimento seja uma etapa plena, digna e respeitada. Porque o modo como tratamos nossos idosos revela o grau de humanidade que cultivamos.”
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