Segunda-Feira, 28 de Abril de 2025, 18h06
Conhecimento promove práticas mais humanas no Judiciário
Da Redação
Compreender o Transtorno do Espectro Autista (TEA) a partir da ciência é um dos passos mais importantes para construir uma sociedade mais empática e inclusiva. Foi com essa premissa que palestras marcaram as discussões no Poder Judiciário de Mato Grosso, reunindo especialistas que trouxeram dados, vivências e reflexões sobre o papel do conhecimento científico na promoção de direitos e da inclusão efetiva.
A neurocientista de renome nacional Anita Brito, por meio das palestras "O que nós precisamos saber sobre Ciência" e “Inclusão Social e Neurodiversidade”, compartilhou sua jornada pessoal que a levou a mergulhar nos estudos sobre neurodesenvolvimento após o diagnóstico do próprio filho com autismo.
Na oportunidade, ela destacou os perigos das terapias sem comprovação e a importância das intervenções baseadas em evidências. Anita alertou sobre a popularização distorcida da ciência e reforçou que compreender dados, estudos e evidências é imprescindível para proteger e garantir direitos, inclusive nos processos judiciais. “Para que haja uma inclusão de fato na sociedade, todos precisam estar cientes das diferenças e das habilidades das pessoas”.
A pesquisadora também aprofundou as diferenças entre doença e transtorno, explicando que o TEA não tem cura porque não é uma patologia, mas sim uma forma divergente de desenvolvimento cerebral. Por isso, o foco deve estar na adaptação, no suporte e na valorização do protagonismo da pessoa neurodivergente. Para ela, boas práticas de inclusão começam com ações simples, como o uso de linguagem acessível, tecnologia assistiva, planejamento individualizado e capacitação contínua de todos os envolvidos, inclusive os profissionais do Judiciário.
Já na palestra “Quando suspeitar de TEA?”, conduzida pela médica pediatra Anna Letícia Yanai e pela psicóloga Tatiany Chocair, foram evidenciados como a identificação precoce e a atuação interdisciplinar entre profissionais de saúde, educação e justiça são determinantes para garantir qualidade de vida às crianças autistas. As especialistas evidenciaram instrumentos diagnósticos, marcos do desenvolvimento e a importância das consultas pediátricas de rotina como ferramenta essencial para detectar sinais de alerta. “O diagnóstico precoce traz uma janela de oportunidades para o neurodesenvolvimento. Quanto menor a criança diagnosticada, melhor por conta da plasticidade cerebral”, reforçaram.
O diálogo entre ciência, saúde, educação e justiça revelou-se indispensável. Conhecer o que a ciência já sabe sobre o TEA é uma necessidade ética e institucional. Magistrados, servidores e demais operadores do direito ganharam, com esse conhecimento, um olhar mais sensível e fundamentado para lidar com processos que envolvem pessoas neurodivergentes. Além disso, passam a atuar como agentes de inclusão, capazes de transformar a realidade por meio de decisões justas, humanas e cientificamente embasadas.
Acolhimento real - Luciana Goffi, presidente da Associação das Diversidades Intelectuais (Adin) de Sorriso e mãe de um adolescente com TDAH e TOD, destacou o acolhimento proporcionado pelo evento. “Foi de suma importância. Muitas vezes, nós, mães, passamos por processos dolorosos de aceitação e solidão. Estar aqui, ouvindo profissionais e sendo ouvida, foi acolhedor. Cada história compartilhada abriu espaço para mais empatia. Senti que, finalmente, o Judiciário está disposto a nos escutar e caminhar junto”.
Já Edielen Silva, mãe de duas meninas com TEA, avalia que os debates permitiram mais visibilidade às famílias com pessoas autistas. “Traz conforto porque nossa voz está sendo ouvida, nossa situação está sendo vista, e a esperança de que nossos filhos recebam tratamentos adequados e bom desenvolvimento”, apontou. “Quando a gente vê as autoridades se preocupando com toda essa situação, nos traz alívio porque sabemos a quem buscar ajuda. São muitos direitos que a gente desconhece”, complementou.
A artesã Jéssica Gomes, que participou ao lado da família, resumiu a experiência como transformadora. “Foi completo e informativo. Abriu minha mente para entender melhor comportamentos do meu filho que já tinham virado rotina. Me senti acolhida”. Dirceu Guerra, seu padrasto, reforçou o impacto do evento. “Foi emocionante. Para minha geração, que teve pouco acesso à informação, foi uma lição”.
Opinião compartilhada por Geysiane Araújo da Silva, também mãe atípica. “Ver o Judiciário falando de inclusão com tanta seriedade aqueceu meu coração. É um assunto que deveria estar mais presente nas escolas, nos postos de saúde, em todo lugar. Foi emocionante perceber que não estamos sozinhas”.
Essas ações integraram a ampla programação do “TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo”, realizada em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril. A iniciativa foi promovida pelo Poder Judiciário de Mato Grosso, por meio da Comissão de Acessibilidade e Inclusão, presidida pela desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, que também exerce a vice-presidência do TJMT.
O evento ocorreu em três etapas, em parceria com a Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e a Escola dos Servidores do Poder Judiciário de Mato Grosso, e mobilizou milhares de pessoas nas cidades de Sinop (500 km de Cuiabá), Sorriso (397 km de Cuiabá) e Cuiabá. Reunindo magistrados(as), servidores(as), profissionais da saúde, educadores(as), pais e responsáveis, a programação teve como objetivo central promover um ambiente mais acessível, empático e acolhedor para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no âmbito do Judiciário quanto na sociedade em geral.
As gravações completas dos eventos estão disponíveis no canal de eventos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso no YouTube, com links para as edições realizadas em Sinop (https://www.youtube.com/watch?v=25OzkYkUZU4&t=9714s), Sorriso (https://www.youtube.com/watch?v=ZPIk59-cdvM&t=3s) e Cuiabá (https://www.youtube.com/watch?v=DIwsD7wg0CE).
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