Cidades

Domingo, 04 de Maio de 2025, 08h33

SAÚDE DO PET

Veterinária alerta sobre benefícios e risco da castração animal

VITHORIA SAMPAIO

Gazeta Digital

 

Por muitos anos, a castração de cães e gatos foi considerada um ato de responsabilidade e amor. No entanto, o procedimento também pode desencadear alterações hormonais, doenças graves e comprometer o sistema imunológico dos animais. Hoje, é fundamental realizar uma avaliação criteriosa para que o pet não seja exposto a riscos desnecessários e a castração indicada apenas quando realmente necessária.

Em entrevista, a médica veterinária Kamila Lara esclareceu mitos e verdades em torno do tema, destacando tanto os benefícios quanto os riscos da castração. Segundo ela, o procedimento deve ser realizado principalmente para o controle populacional, visando reduzir o número de animais nas ruas e em abrigos ou quando há riscos concretos à saúde do pet, como infecções uterinas ou neoplasias testiculares.

Gazeta Digital - Quais são os principais benefícios da castração para a saúde dos animais? 

Doutora Kamila - Castração sempre foi falada como um ato de amor, de promoção de saúde, mas, conforme o tempo foi passando, chegamos a conclusão que não. O benefício da castração é para controle populacional, diminuir a quantidade de animais nas ruas e em abrigos. Também teremos doenças que envolvem o sistema reprodutor, como infecção uterina ou neoplasia testicular. 

Gazeta Digital - Existem riscos envolvidos na castração? Quais cuidados devem ser tomados? 

Doutora Kamila - Hormônios sexuais são extremamente importantes para fisiologia do corpo do animal, já que também estão ligados a outros hormônios e neurotransmissores, como cortisol, serotonina, dopamina. A decisão sobre procedimento deve ser avaliada de forma individual. Há estudos que relataram maiores riscos de desenvolver distúrbios reprodutivos, urinários, metabólicos e musculoesqueléticos em cães castrados. 

Gazeta Digital - Essas alterações hormonais são prejudiciais ao animal? 

Doutora Kamila - Os hormônios sexuais têm papel fundamental para o corpo, quando para a produção temos um desequilíbrio. Exemplo disso, a agressão pode estar relacionada ao medo, que é modulada por hormônios do estresse, como o cortisol, com a testosterona atuando como um antagonista. O cortisol, um hormônio do estresse, é liberado em situações de perigo e pode aumentar o medo e a ansiedade. A testosterona, por outro lado, pode ter um efeito antagonista, reduzindo a reatividade ao estresse em alguns casos. Consequentemente, na ausência de testosterona após a castração, pode-se esperar um aumento do medo e da insegurança. 

Gazeta Digital - Há risco de o animal desenvolver doenças após ser castrado? 

Doutora Kamila - Sim, fêmeas castradas têm o risco 11 vezes maior de desenvolver tumores cerebrais e disfunção cognitiva (estrogênio pode ser um protetor contra o envelhecimento cerebral e o crescimento de tumores cerebrais). Aumenta risco de distúrbios articulares, como displasia do quadril, ruptura do ligamento cruzado e displasia do cotovelo (o papel dos hormônios gonadais no controle do fechamento das placas de crescimento ósseo). Aumenta chance de linfoma, mastocitoma, hemangiossarcoma, carcinoma de células transacionais de bexiga e osteossarcoma, incontinência urinária, obesidade, diabete e hiperadrenocorticismo.  

Gazeta Digital - Castrar muito cedo pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento do animal? 

Doutora Kamila - Quanto mais cedo as consequências são piores, pois o corpo teve pouco contato com os hormônios sexuais. Entretanto, não existe uma idade ideal absoluta para castrar todos os cães e gatos. A idade ideal pode depender de vários fatores, incluindo espécie, raça, tamanho corporal.

Gazeta Digital - A castração pode afetar negativamente o sistema imunológico?

Doutora Kamila - Como o procedimento altera fisiologia normal do corpo, dessa forma sim. Já que a testosterona, estrogênio e progesterona, por exemplo, podem influenciar a maturação, ativação e resposta de células imunes, assim como a produção de anticorpos e citocinas. 

Gazeta Digital - Existe risco de depressão, ansiedade ou letargia após a castração?

Doutora Kamila - Animal pode apresentar a ansiedade, pois pode ficar mais medroso já que não tem a testosterona, dessa forma aumenta o cortisol. Letargia pode ser causada pela obesidade ou alteração do metabolismo. Já sobre a depressão, não há comprovação.

Gazeta Digital - Como o tutor pode perceber se o animal não está se adaptando bem ao pós-castração?

Doutora Kamila - Hormônios demoram alguns meses para parar de circular no corpo, dificilmente o tutor irá perceber algo. Mas existe a possibilidade de dosar hormônios e, se for necessário, repor.  

Gazeta Digital - Há alguma raça ou condição de saúde específica que torne a castração mais arriscada? 

Doutora Kamila - Se for a cirurgia, não! Importante procurar um cirurgião e anestesista de confiança.

Gazeta Digital - A castração pode interferir na socialização ou comportamento natural do animal? 

Doutora Kamila - Pode, porém, não podemos atribuir APENAS a castração, já que elementos intrínsecos como sexo, raça, idade e influências externas, como o estilo de vida do cão-dono, personalidade do dono; todas as variáveis auxiliam no desenvolvimento do comportamento do animal. 

Gazeta Digital - Em que casos você não recomenda a castração?

Doutora Kamila - Não recomendo nos casos em que os tutores têm apenas um sexo (todos são fêmeas ou machos) ou quando tem só 1 animal.   

Comentários (4)

  • Zélia Filha |  13/05/2025 06:06:53

    Eu tenho 2 fêmeas adotadas e 1 macho adotado e são castrados ! Castrei devido a saúde e recentemente qdo adotei um macho tive que castrar devido as fêmeas!! Mas sinceramente não sabia dos contras da castração!! Conheci recentemente a Dra. Camila e gosto de suas postagens!!

  • Rosângela dos santos gomes |  12/05/2025 17:05:27

    Tenho somente 5 fêmeas resgatadas, porém castrei para evitar problemas futuros, sei que tem problemas castrando ou não. Porém em falta minha seria pior elas não serem castradas pq poucas pessoas têm essa consciência. Infelizmente existem riscos de todas as formas. Obrigada pelo conteúdo.

  • Joelma Lopes de Oliveira |  12/05/2025 13:01:26

    Drª só tenho uma fêmea da raça pastor alemão, me disseram que se ela nunca tiver nenhuma gestação deveria castrar porque pode adquirir uma doença e vir a óbito, pois aconteceu isso com a cadela de uma amiga, não sei exatamente o que ela teve no útero, mas foi a explicação do veterinário! Poderia me esclarecer melhor?

  • tem que ter responsabilidade |  07/05/2025 13:01:28

    Realmente para não deixar os bichos jogados na rua com fome e doentes é melhor castrar, tem muitos bichos na rua abandonados por irresponsáveis

Confira também: Veja Todas