Cultura

Domingo, 17 de Outubro de 2021, 10h11

HISTÓRIA

'Mistério' sobre cruzes desperta curiosidade da população em Cuiabá

Khayo Ribeiro

Gazeta Digital

 

Símbolos do sagrado para muitos, as cruzes são tradicionalmente reconhecidas como ícones do cristianismo, sobretudo quando em espaços religiosos. Em Cuiabá, contudo, em diversos pontos é possível encontrar estes signos da fé distantes de casas de culto, o que desperta a curiosidade da população.

Sem descrições, assinatura ou até mesmo um nome popular, a cruz na Travessa Diamantino, no encontro com a rua Benedito de Melo segue sendo uma incógnita para os moradores do bairro Lixeira. Rodeado de superstição dos mais velhos, o símbolo religioso faz parte da paisagem do bairro há décadas, mas sua origem é desconhecida.

Nascida e criada no Lixeira, Jacina Angelina César contou à reportagem que sempre ouviu histórias da mãe sobre a cruz. As memórias da infância trazem de volta as falas da mãe repletas de visões de assombrações próximas à cruz.

"Antigamente, essa cruz era aqui, onde tem aquele poste ali. Era uma cruz feita de adobe, de barro. Então, quando passou o asfalto mudaram ela para esse canteiro aí", disse.

"Minha mãe contou para a gente, quando eu era pequena, que aqui era cemitério. Isso que eu sei. E que tinham sepultado um padre nessa cruz quando era ali, mas a gente era muito pequeno e ela falava que tinha assombração", relembrou a moradora.

Distante dali, no bairro Porto, outra cruz concentra em si décadas de adoração e mistério. Conhecido como cruz preta, o símbolo está localizado na rua Benedito Leite, próximo à avenida Comandante Costa.

Similar à cruz do Lixeira, este outro marco também tem atravessado gerações sem que os moradores do bairro conheçam seu real significado. Ao longo dos anos, o símbolo religioso passou por adaptações, com a substituição da madeira pelo concreto, mas a fé em torno do ícone segue reunindo a população do Porto em uma festividade anual.

"Eu creio que isso daí é da época que foi abrindo a cidade, mas não tenho certeza sobre a história verdadeira dela", revelou seo Cláudio Martins Colman, que tem um imóvel em frente ao espaço onde a cruz está instalada.

À reportagem, o homem contou que foi sua mãe a responsável por substituir a madeira inicial da cruz pela estrutura de concreto atual. Ele contou ainda que vizinhança realiza uma festa anual em torno da cruz, com direito a missa, proteção da polícia e jantar gratuito.

Mesmo estando "mais à mostra" que às demais, a cruz branca instalada em frente ao 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, guarda semelhança aos demais símbolos no que diz respeito à falta de conhecimento em torno de sua origem.

Diariamente, milhares de pessoas passam pelo local, que não conta com identificação do símbolo. O fato de estar ao lado da Galeria Lava Pés, contudo, revela parte da origem da cruz, como aponta o padre Felisberto, que é mestre em História formado pela Universidade Gregoriana da Itália.

Com estudos voltados ao desenvolvimento da igreja, o padre explicou que o símbolo foi instalado como um memorial religioso devido ao fato de que muitas pessoas eram executadas no local, onde passava o córrego Lava Pés.

Também relacionada a mortes, a cruz preta foi colocada em memória às pessoas que não resistiram à varíola e que tiveram os corpos enterrados antes de chegarem ao cemitério do Porto.

"Era da época da varíola. Era porque as pessoas não conseguiam chegar ao hospital e morriam na estrada. Daí, colocaram  aquela cruz relembrando os mortos do 'período da bexiguinha'", contou o padre, que atualmente reside na Mitra Arquidiocesana de Cuiabá.

Com menos registros que às demais, a cruz do Lixeira é reconhecida apenas como uma "cruz familiar", como explicou o padre. Segundo o historiador, o símbolo teria sido instalado a mando da família Adolfo Vilela, que era tradicional no bairro.

 

Comentários (4)

  • Freakazoid! |  18/10/2021 09:09:43

    Tem outra cruz assim no Lixeira, fica na rua Tenente Eulálio Guerra e a rua Luís de Caio Pinheiro.

  • Carlos Eduardo |  18/10/2021 08:08:01

    Produção! Faltou a Cruzinha do Bairro Santa Helena!

  • Jessica Trans Corintiana  |  17/10/2021 18:06:40

    Cruzes tenho pavor dessas histórias. Uma vez um político cliente meu daqui veio com essas conversa fiada bem no nosso momento intimus e eu larguei ele lá no motel. Eu ein.

  • Seu Ramiro - aposentado  |  17/10/2021 14:02:54

    O do bairro da lixeira é pq realmente se tratou de um cemitério no passado. Aliás, muito próximo a a cruz morava um senhor, já falecido, que se tornava lobisomem nas noites de lua cheia.

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