Economia

Quarta-Feira, 16 de Julho de 2025, 16h24

Com R$ 14,7 bilhões movimentados em junho, Bitcoin e USDT impulsionam retomada do mercado local

Da Redação

 

O mercado brasileiro de criptoativos atravessou junho em ritmo acelerado. Depois de meses de volume morno, as mesas de negociação voltaram a ficar agitadas. Só o Tether (USDT) e o Bitcoin (BTC) somaram R$ 14,8 bilhões em operações no país, segundo o relatório mensal da plataforma Biscoint.

A cifra representa um enorme salto, tanto sobre maio quanto sobre o mesmo período de 2024, e recoloca o Brasil entre os mercados emergentes mais líquidos para cripto. Além da pujança nos números, o mês foi marcado por fatos que mexem diretamente com as decisões do investidor local.

O recuo do dólar comercial de R$ 5,69 para R$ 5,57 barateou o acesso a stablecoins lastreadas na moeda norte‑americana, e a discussão em Brasília sobre o fim da isenção de Imposto de Renda para vendas mensais de cripto até R$ 35 mil passou a favorecer plataformas sediadas no país.

Em um ambiente em que câmbio, tributação e geopolítica se misturam, buscar a melhor cripto para investir hoje envolve muitos fatores. Um deles é entender quem puxou a alta de volume e quais são as consequências para o mercado cripto brasileiro.

Bitcoin e USDT reacendem mercado brasileiro em junho

Mais do que estatística bruta, o avanço de 32% nas negociações do USDT, que atingiram R$ 9,63 bilhões, reflete a consolidação da stablecoin como porta de entrada preferencial do investidor nacional nos mercados internacionais.

Já o Bitcoin, mesmo em plena oscilação de preço após o ataque de Israel ao Irã e tensão subsequente envolvendo os EUA, movimentou R$ 5,18 bilhões, uma alta de 5,7% em relação a maio. Mas não é só sobre volume.

Segundo alguns analistas, todos os benefícios da dolarização do dinheiro fiat se aplicam às stablecoins, mas com menos custos, menos intermediários e muito mais agilidade. E a combinação de câmbio favorável e tecnologia de liquidação 24/7 explica por que estabelecimentos brasileiros já aceitam USDT como forma de pagamento.

Isso enquanto empresas adotam o token para remessas rápidas a fornecedores no exterior. O gatilho cambial ajudou. Dados compilados pelo InfoMoney mostram que o preço médio do USDT em reais caiu de R$ 5,69 para R$ 5,57 no intervalo de um mês.

Redução que, na prática, ampliou o poder de compra de quem precisa converter reais em dólares digitais. Esse desconto implícito reforçou o apelo da stablecoin como hedge cambial, um clássico em tempos de dólar volátil.

Liquidez troca de mãos nas exchanges

Mesmo conservando a dianteira, a Binance viu sua participação encolher. No par USDT‑BRL, a corretora global ficou com 81,9% da liquidez em junho, enquanto em BTC‑BRL o market share foi de 53,5%, queda de 4,9 pontos‑percentuais ante maio. As brasileiras Mercado Bitcoin e BitPreço aproveitaram a fresta para avançar.

Em março, o país ultrapassou 2 milhões de declarantes de criptoativos à Receita Federal, sinal de que a base de usuários começa a se descolar da ainda restrita comunidade de entusiastas. Para os analistas, a migração de parte do volume para exchanges nacionais se deve tanto à MP 1.303/2025 quanto ao avanço de ofertas em reais nessas plataformas.

Se há dois anos USDT era sinônimo de “porta de entrada” no ecossistema, em 2025 o token virou também instrumento de gestão de caixa para empresas exportadoras e importadoras. Um estudo indica que uma parte das transferências de stablecoins em junho tiveram origem em contas corporativas, mais do que em janeiro.

Na prática, companhias compram USDT quando o real está valorizado, como aconteceu na primeira quinzena de junho, pagam fornecedores asiáticos em poucos minutos e evitam tarifas bancárias. A tendência deve ganhar força caso o Congresso aprove o texto final da MP 1.303/2025 nos próximos meses.

Regulação e tributação no horizonte

O frenesi de junho não ocorreu num vácuo, já que a Medida Provisória 1.303/2025 , que retira a tradicional isenção de Imposto de Renda para vendas mensais de cripto até R$ 35 mil e fixa uma alíquota única de 17,5% retida na fonte, que está ainda em Comissão Mista.

A Associação Brasileira da Criptoeconomia (ABCripto) classifica o texto como um retrocesso que pode empurrar investidores para corretoras estrangeiras ou carteiras descentralizadas. Em defesa da proposta, o Ministério da Fazenda argumenta que a mudança equaliza o tratamento tributário entre renda variável tradicional e criptoativos.

 

O investidor, porém, passa a ter menos margem para usar a antiga regra de isenção como instrumento de rebalanceamento mensal. O tributarista Ewerton Pereira lembrou que operar cripto sem contabilidade clara de custos de aquisição já rendeu autuações milionárias. Operações com criptomoedas informadas à Receita somaram R$ 14 bilhões em apenas dois meses de cruzamento de dados entre corretoras e o Fisco.

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