Economia

Quinta-Feira, 07 de Agosto de 2025, 07h24

CRIME NO AGRO

Operação flagra 500 escravos em usina bilionária de "gigante do agro" em MT

Funcionários colocaram fogo em alojamentos e são vítimas de tráfico de pessoas

Da Redação

 

Auditores-Fiscais do Trabalho, vinculados à Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), resgataram mais de 500 trabalhadores em condições análogas à de escravo em Porto Alegre do Norte (MT), durante operação de grande envergadura iniciada em 28 de julho de 2025. A ação, que também constatou indícios de tráfico de pessoas, ocorreu em um canteiro de obras de uma usina de etanol de milho da empresa Três Tentos Agroindustrial, que investe R$ 1 bilhão na unidade que tem funcionamento previsto para ainda este ano geração de de 935 mil litros de etanol por dia, 587 toneladas de DDGS e 37 toneladas de óleo de milho.

A operação foi motivada por um incêndio que destruiu o alojamento principal dos trabalhadores que atuavam para TAO Construtora, que tem sede em Sorriso. O sinistro revelou um cenário de extrema precariedade: quartos com apenas 12m² abrigavam até quatro pessoas sem ventilação ou climatização. 

Segundo apurado pela equipe de fiscalização, alguns trabalhadores atearam fogo no alojamento por revolta em razão das constantes falhas no fornecimento de energia elétrica e água potável, o que comprometia a saúde e conforto dos trabalhadores, tornando impossível o descanso adequado diante do calor extremo da região. Após o sinistro, os trabalhadores foram transferidos para casas e hotéis em Porto Alegre do Norte e em Confresa, a cerca de 30 quilômetros do canteiro de obras, e também foram alojados em um ginásio de esportes em um dos municípios da região.

Mas ainda assim muitos continuaram em situação degradante, dormindo em colchões no chão, sem camas, sem roupa de cama ou locais adequados para guardar os poucos pertences que lhes restaram, pois muitos dos trabalhadores perderam seus bens pessoais no incêndio. Além dessas irregularidades, a equipe de Auditores Fiscais do Trabalho apurou que não foram emitidas Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs) para todos os trabalhadores que se feriram durante o incêndio, comprometendo o possível acesso a benefícios previdenciários e acompanhamento médico adequado.

TRÁFICO DE PESSOAS

Para além das condições degradantes, a equipe de inspeção do trabalho apurou um grave esquema de aliciamento e servidão por dívida, com fortes indícios de tráfico de pessoas. A empresa, sem conseguir preencher localmente as vagas para a obra, adotou estratégia de recrutamento ostensiva em estados do Nordeste e Norte do país, especialmente Maranhão, Pará e Piauí.

Os anúncios eram veiculados por carros de som e mensagens em grupos de WhatsApp, com promessas enganosas de ganhos elevados por horas extras. Trabalhadores relataram que, após o acerto contratual, algumas vezes com pagamento pela vaga a atravessadores ou aliciadores, tiveram que arcar com os custos da viagem até o canteiro de obras, incluindo passagens e alimentação.

Em outros casos, as despesas foram pagas pela empresa, mas integralmente descontadas dos salários, uma prática ilegal e abusiva, uma vez que transferia aos trabalhadores o risco da atividade econômica, pois não conseguiam trabalhadores na região e para a continuidade dos trabalhos era necessário sempre contratar mais pessoas.  A empresa adotava ainda um sistema paralelo de controle de jornada, conhecido pelos trabalhadores como “ponto 2”, no qual as horas extras eram registradas fora dos controles oficiais e pagas em dinheiro vivo ou cheque, sem qualquer registro nos contracheques, tampouco recolhimento do FGTS e previdência social. 

Relatos colhidos pela fiscalização indicam que vários trabalhadores laboravam por semanas consecutivas, inclusive aos domingos, sem qualquer folga, uma vez que as horas extras foram prometidas no ato da contratação, através das já mencionadas promessas veiculadas por carros de som e por mensagens de WhatsApp aos trabalhadores. A ausência de repouso semanal é um claro descumprimento à legislação. 

Diante do conjunto de infrações apuradas, a Auditoria Fiscal do Trabalho procedeu à caracterização formal da condição análoga à de escravo, conforme previsto no artigo 149 e artigo 149-A do Código Penal Brasileiro, além da Instrução Normativa 02/2021 do Ministério do Trabalho. A empresa responsável, apesar das graves irregularidades, tem colaborado com o desfecho da ação, sinalizando disposição para assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Trabalho, com o objetivo de reparar os danos e prevenir futuras violações.

A equipe de Auditores-Fiscais do Trabalho permanece no local, acompanhando o desdobramento da operação para garantir que os trabalhadores resgatados tenham seus direitos assegurados e o retorno à origem. Os fiscais já confirmaram que os trabalhadores receberão o seguro-desemprego na modalidade resgatado, além do pagamento integral das verbas trabalhistas, incluindo reflexos de verbas salariais pagas por fora, horas extras, férias proporcionais, 13º salário, FGTS e demais indenizações devidas. 

Além disso a empresa se comprometeu a arcar com os custos de passagem e alimentação dos trabalhadores para retorno aos seus locais de origem, além de proceder à devolução dos valores cobrados indevidamente dos trabalhadores das passagens de vinda para Porto Alegre do Norte. Por fim será também disponibilizado um valor de R$ 1 mil em ressarcimento pelos pertences pessoais perdidos pelos trabalhadores no incêndio.

A operação contou com a participação do MPT e apoio da Polícia Federal e do Projeto Ação Integrada. Os trabalhadores serão acompanhados no pós resgate pelo projeto ação integrada (PAI) para a qualificação profissional e reinserção no mercado de trabalho a fim de evitar possível revitimização dos operários em condições análogas a de escravizado. 

A ação encontra-se no escopo da atuação constante da Auditoria-Fiscal do Trabalho para a promoção do trabalho digno no país, para garantir o resguardo da dignidade dos trabalhadores e o respeito a legislação trabalhista em todas as situações laborais. Casos semelhantes de exploração podem ser denunciados de forma anônima pelo Disque 100.

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Comentários (9)

  • A força do Agro |  07/08/2025 12:12:12

    O agro é pop, o agro espolia os trabalhadores e a sociedade.

  • VÉIO DU PORTO |  07/08/2025 11:11:13

    CAGAR FORA DO VASO NAO TEM NADA HAVER, É FALTA DE EDUCÇAO MESMO, COISA DE QUEM FAZ L.

  • muito louco |  07/08/2025 10:10:15

    Isso acontece por que o Brasil é um Pais de salário minimo e cujo indice de analfabeto é grande, então os que tem poder(dinheiro), escraviza os prórpios irmãos fazendo-os trabalhar em troca de um salário que eles não recebem porque o desconto do almoço é grande e o que ganham não cobre as despesas, então é melhor fechar essa empresa que contratou os boias frias, e multá-la em alguns milhões de reais, bem como regularizar as contratações com base na CLT sob pena de enviar seus diretores para a cadeia, caso persista a conduta escravista.

  • Marina Lima |  07/08/2025 09:09:29

    Tem que expropriar essa empresa e passar para os funcionários vítimas desses filhos da p.

  • Jordan |  07/08/2025 09:09:18

    Segundo consta, se baixar impostos o empresário vai pagar melhor aos funcionários. Taí um exemplo do que o empresário vai fazer.

  • MARIA AUXILIADORA  |  07/08/2025 09:09:04

    Psicopatas, canalhas, filhos do demônio!

  • elias  |  07/08/2025 09:09:03

    e a população do MT agro esta como na pior quem fica rico sao os baroes e politicos que defendem o agro enquanto o povo nem tem comida a mesa Deus, patria e familia kkkk ou seja Deus agro e tubaroes

  • Paulo Roberto Ferreira |  07/08/2025 08:08:21

    "O Agro é Pop"... e escravista

  • Emilio Costa |  07/08/2025 07:07:28

    Deus, Pátria e Pilantragem!

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