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Segunda-Feira, 28 de Abril de 2014, 06h31

Lula diz que julgamento do mensalão no STF teve 80% de decisão política

G1

Em uma de suas poucas manifestações públicas após o fim do julgamento do mensalão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as decisões do Supremo Tribunal Federal no processo foram, em sua maior parte, políticas e não jurídicas. A afirmação foi feita numa entrevista realizada na última sexta (25) à TV portuguesa RTP e publicada neste domingo (27) no site da emissora.

Lula falou sobre o caso quando indagado sobre o impacto do escândalo sobre a campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff e sua própria popularidade. Ele negou a existência do esquema, que segundo o STF, consistiu na compra de apoio político no Congresso no início de seu governo, entre 2003 e 2005.

O tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica [...] É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada\"

\"O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica\", disse. \"O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade\", afirmou o ex-presidente.

O PT sempre negou a existência de distribuição de dinheiro para políticos em troca de votos e alega que os pagamentos eram para honrar dívidas de campanha de partidos aliados não contabilizadas.

Deixa o povo ir para a rua, não tem nenhum problema. É um povo indo para a rua protestando e outro povo indo para a rua para ver o jogo. O que importa é que nós temos que garantir tranquilidade para os jogadores\"

Eleições e Copa

Na entrevista, que durou quase 40 minutos, embora questionado, o ex-presidente evitou falar sobre as atuais dificuldades da presidente Dilma Rousseff no governo. Voltou a negar que será candidato do PT e demonstrou convicção de que sua sucessora será reeleita em outubro.

\"Ela vai ganhar as eleições, ela vai vencer\", afirmou. \"Eu vou ser cabo eleitoral da Dilma, eu vou para a rua fazer campanha para a Dilma. Eu não quero cargo político\".

Ele também comentou sobre a possibilidade de protestos durante a Copa do Mundo, que poderiam abalar a popularidade de Dilma, como ocorreu em junho do ano passado.

\"Deixa o povo ir para a rua, não tem nenhum problema. É um povo indo para a rua protestando e outro povo indo para a rua para ver o jogo [...] O que importa é que nós temos que garantir tranquilidade para os jogadores. Não é em qualquer momento que a gente pode receber no Brasil um Cristiano Ronaldo, um Leonel Messi, um Neymar. Não é em qualquer momento que a gente pode receber essas figuras importantes\", disse.

Num dos momentos em que foi mais enfático na entrevista, Lula rebateu críticas relacionadas ao custo da Copa e à deficiência do país em infraestrutura, educação e saúde que motivaram as manifestações de junho do ano passado. Ao enumerar uma série de conquistas do governo petista, explicou que o \"povo quer mais\".

\"Nós não vamos conseguir em 11 e nem 15 anos resolver as mazelas e as responsabilidades de cinco séculos. O dado concreto é que nós conseguimos evoluir de maneira extraordinária\", disse. Afirmou também achar \"ótimo\" o povo querer mais, \"porque quanto mais as pessoas reivindicam, mais nós temos que fazer\".

Para Lula, não se faz a Copa do Mundo \"pensando em dinheiro\", referindo-se aos gastos. \"A Copa é um encontro de civilizações. É a oportunidade que o Brasil tem de mostrar sua cara, do jeito que o Brasil é, com pobreza, com tudo o que o Brasil tem, mas com beleza também. É hora de o mundo ver o Brasil como é, colocar os pés no chão do Brasil\".

Economia e política internacional

Mais da metade da entrevista focou a situação econômica de Portugal e da União Europeia, ainda em crise. Ao falar sobre a relação comercial entre o Brasil e Portugal, Lula considerou uma \"vergonha\" o valor das transações entre os dois países, de cerca de 2 bilhões de euros, \"muito pouco\", segundo ele.

\"Eu acho que o Brasil tem que olhar com muito mais carinho para Portugal e Portugal olhar com muito mais carinho para o Brasil\", afirmou o ex-presidente, que também lamentou o fato de empresários chineses, e não brasileiros, terem comprado estatais portuguesas privatizadas.

Questionado sobre a atual política externa brasileira, Lula negou que ela tenha deixado o \"protagonismo\" e uma \"visão política global\", como sugerido pela entrevistadora.

\"A política do governo é a mesma. A Dilma tem a mesma convicção e a mesma força que eu tinha para a política internacional. Acontece que quando a Dilma assumiu a Presidência houve um fortalecimento da crise econômica\", justificou, dizendo que a preocupação da presidente passou a ser mais interna.

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