Terça-Feira, 23 de Julho de 2024, 16h52
Lélica Lacerda
A Terra Plana capota: lições feministas sobre o assassinato de Raquel Cattani
Lélica Lacerda
Na semana em que professoras da UFMT, UNEMAT e IFMT acordam o projeto de fundação do "Nenhuma a menos: Laboratório de Teorias e Práticas de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Meninas", fomos surpreendidas com a notícia de que Raquel Cattani, filha do deputado Gilberto Cattani, foi morta a facadas. O feminicídio é uma das linhas de investigação.
Como feministas que somos, cada uma de nós que tomba é um ataque e uma dor a todas nós mulheres, que temos nossos corpos subordinados ao poder patriarcal.
Como mulheres feministas, não podemos deixar de observar que, tanto quanto lamentável, terá sido também irônico, caso seja comprovado feminicídio, que a vítima tenha sido filha do maior inimigo público das mulheres em Mato Grosso: o deputado Cattani, que já comparou mulheres a vacas; que já afirmou que LGBTfobia é opinião e ainda contou com o apoio do Judiciário de MT, que condenou Edna Sampaio por calúnia ao considerá-lo LGBTfóbico na ocasião.
O ódio patriarcal expresso na fala de Cattani sempre mirou o extermínio de corpos como o meu: sou a professora Lélica Lacerda, mulher, lésbica, militante feminista e sindicalista. Tive minha liberdade de cátedra atacada numa análise histórica feita na Câmara Municipal de Sinop em 2021, durante debate acerca da então proposta de Reforma Administrativa do Governo Bolsonaro.
Nesta ocasião, a Câmara de Vereadores de Sinop aprovou uma moção de repúdio a minha fala; a elite sinopense, em parceria com a mídia local, pautou por semanas a minha intervenção, deturpando o sentido da análise científica feita, para fomentar o ódio contra mim e contra a ciência.
Neste episódio, o deputado Cattani tentou me processar por racismo reverso, o terraplanismo das relações Raciais; e até o conservador Poder Judiciário de Mato Grosso não aceitou a acusação. Tratava-se de mais uma ação de coação de uma mulher e do pensamento crítico.
Mas o patriarcado é um poder que nos desumaniza e nos afeta a todas e todos e a vida foi implacável com Cattani.
Se o seu discurso mira corpos como os meus, no dia 19 de julho, ele acertou o corpo de sua própria filha, que foi encontrada pelo próprio deputado, morta com mais de 30 facadas, tendo como suspeita inicial – ainda não descartada - um crime de feminicídio.
"Ódio gera ódio e mais ódio", afirmam Mary Jane, Bocaum, e outros em “Primavera Fascista”. A gente não controla onde o ódio vai incidir. Por isso, para a segurança de todos e todas nós, o discurso de ódio é um crime que deve ser tratado com seriedade e tolhido implacavelmente. Porque todas nós ficamos desprotegidas quando ele é aceito e não consequenciado de forma coerente.
Quando alguém profere um discurso de ódio, diminuindo ou inferiorizando alguém por características que são tornadas marcadores sociais de discriminação (raça, sexo, etc.) e nenhuma ação de cerceamento e reparação é tomada, está se construindo uma inferiorização humana no imaginário social, que viabiliza que um grupo de pessoas se autorize a explorar e matar outro.
Quando um deputado, ocupando cargo público e, portanto, na condição de representante do povo, vem a público comparar mulheres a vacas, a comunicação que passa é que para o Poder do Estado de Mato Grosso, as mulheres são equiparadas a animais. Mais do que isso, dentre os animais, as vacas são amplamente exploradas como leiteiras ou abatidas para consumo de todas as suas partes, inclusive o feto.
Então, a sociedade assimila a mensagem e passa a conceber mulheres equiparáveis a animais de exploração ou abate, tal como se faz com as vacas; e com isso temos MT como o Estado que mais mata mulheres no Brasil, com índice de feminicídio 90% maior do que a média nacional. O Brasil o quinto país que mais mata mulheres no mundo.
Foi por isso que nós feministas reagimos à fala do deputado indo a uma plenária da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso (ALMT), protestar. Foi pela vida das mulheres que, na ocasião, chamamos atenção de que quem profere discursos de ódio não possui decoro para ocupar o cargo de legislador do povo e por essa razão defendemos a cassação do referido deputado.
Temos, então, um estado de Mato Grosso que é uma máquina de moer mulheres e meninas, de tal sorte que Sorriso é a cidade com maior índice de estupros no Brasil. E em Nova Mutum, Raquel Cattani foi morta e encontrada pelo pai, que agora é um defensor do patriarcado que, contraditoriamente, chora a morte da filha.
Contra o ódio patriarcal, nós, feministas, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Termino expressando toda a nossa solidariedade a todas as famílias de mulheres vítimas de feminicídio! E almejando que este momento extremo sirva para a sensibilização do deputado que sempre zombou da dor alheia, e que soube da pior forma como é perder para a violência de gênero alguém que se ama.
Lélica Lacerda é Professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), diretora geral-adjunta da Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind)
Hamilton Antônio da Silva | 31/07/2024 08:08:24
Quando é para lutar para causas concretas de igualdade, eu estou junto. Mas quando o discurso vem com o femismo, estou fora! o movimento não é para lutar por igualdade? o Artigo ai é fora de contexto. A causa que deveria ser mais importante é a morte da filha do deputado!
LULADRÃO | 24/07/2024 12:12:19
As mesmas feministas que defendem bandidos..ladrões...corruptos ??? Essas não tem moral e nem credibilidade alguma !
Hélio Rubano | 24/07/2024 10:10:52
Quanta bobagem ! O ódio não é exclusivo de A, B ou C. Recentemente em uma manifestação de bolsonaristas no Rio de janeiro uma MULHER de esquerda gravou um vÃdeo dizendo que alguém tinha que PARAR ESSA GENTE, propagando explicitamente DISCURSO DE ÓDIO, dizendo que aquela gente tinha que MORRER. Naquela GENTE haviam homens, MULHERES, idosos, crianças, etc. Gente ruim existe em TODOS os lugares.
Cuiabano | 24/07/2024 10:10:26
ARTIGO TOTALMENTE RIDICULO, INOPORTUNO E SEM NOÇÃO. POR FAVOR RESPEITE O LUTO DA FAMÃLIA E TENHA UM MÃNIMO DE DECÊNCIA MORAL.
Lucas Leivah | 24/07/2024 09:09:14
De vez em quando esse pessoal "acadêmico" sai da casca do falso moralismo e do palco do teatral dessa vidinha e nos traz alguns rompantes de extrema sinceridade, e aà vem todo o ódio. Esse texto foi um desses episódios. Cuidado com esse povo. Não tenha gente assim como amigos. Eles precisam ser desmascarados para mostrar verdadeira intenção desse povo, é que o ódio e morte dos que rotulam como inimigos, como o próprio Cattani, o Bolsonaro e os que eles dizem que são de direita. Essa gente é perigosa!!
João Carlos Quixabeira | 24/07/2024 09:09:09
Quanto ódio em suas palavras, não???? Como pode alguém ter a "coragem" de destilar tanto ódio e dizer que está combatendo-o? Como pode alguém ter a insensatez de dizer frases como: "defensor do patriarcado que, CONTRADITÓRIAMENTE, chora a morte da filha? Professora, procure urgentemente um psicólogo. Vá se tratar para se encontrar na vida e ser mais feliz.
João | 24/07/2024 08:08:18
Péssimo artigo. Nunca vi o Cattani desrespeitar mulher, só não visão distorcida de vocês mesmo. Fazendo palanque na morte dos outros, a cara da canhota.
Moraes | 24/07/2024 08:08:18
Que se lasquem todos os bolsonaristas escrotos ! Não tenho pena do tal deputado ! Quem cospe pra cima cai na testa ! Foda-se ! E foda-se o tal do Gustavo logo abaixo ! O deputado semeou vento e está colhendo tempestade ! É um destilador de ódio profissional ! Não passa de um baba ovo de miliciano genocida !
Carlos Nunes | 24/07/2024 08:08:03
Pois é, vai entender...ultimamente as Mulheres, coitadas, tão valendo menos do que estrupador. Tio Xandão, com a desculpa do Golpe que não houve, tá dando 14 anos ou mais de pena pra elas. Dona JUPIRA, cuidadora de idosos...VILDETE DA SILVA, 73 anos, aposentada...IRACI HIROSHI, 71 anos, professora...teve uma que foi presa, e será condenada, porque escreveu, com batom, na estátua do Supremo: PERDEU MANÉ...e tem muitas mais Mulheres que serão premiadas pela pena de 14 anos. Enquanto isso...a Imprensa revelou que um estuprador perigoso pegou pena de 10 anos. Placar: Mulheres 14 X 10 pro estrupador. Ou Batom 14 X 10 pro estupro. Convenhamos...essas Mulheres são insignificantes pra dar qualquer Golpe. JAMAIS dariam. Nem quebraram coisa alguma. Nem Golpe nem Vandalismo. Por que deixaram tio Xandão transformar o Supremo, de maior Corte Constitucional do paÃs em Vara Criminal...pra ferrar as Mulheres? Coitadas.
Gustavo | 23/07/2024 19:07:07
Discurso Racista e cheio de Ódio. A maioria esmagadora das feministas são lésbicas. Tá explicado o ódio pelos Homens, e como não gosta dos mesmos, não seja hipócrita e nós esqueça.
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