A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat) publicou nota em que conclama boicote às eleições para reitoria na instituição, na última segunda-feira (29). Apontado diversos motivos, a associação não reconhece a eleição, que será feita de maneira antidemocrática.
De acordo com a nota, o primeiro motivo para anular a realização da eleição seria a pandemia do coronavírus, contexto atual que a universidade e sociedade vivem. Com mais de 60 mil brasileiros mortos em decorrência da doença em três meses, a Adufmat aponta que a eleição deveria ser prorrogada.
Além disso, a associação alega que a reunião do Colégio Eleitoral, realizada no dia 17 de junho, não foi válida. Conforme a Adufmat, o pleito não cumpriu protocolos regimentais, o que servirá de base ainda para uma eventual ação judicial, com objetivo de anular a sessão.
Ainda na reunião, os participantes relatam que o condutor da pauta atacou representantes, tentando desqualifica-los, além de não dar espaço para contribuições do debate. Segundo o diretor da Adufmat, Aldi Nestor, outras eleições foram suspensas e universidade deveria acompanhar esse processo.
“É preciso ter a compreensão de que nós não temos que abrir mão de uma conquista histórica tão importante, que é a autonomia universitária, para cumprir à risca o que determina o MEC. Nesse sentido, se as eleições que ocorreriam esse ano para o Senado foram suspensas, as eleições para prefeitos e vereadores estão em processo de adiamento, o ENEM foi adiado, então, nós podemos suspender também a eleição para a Reitoria da Universidade”, disse.
Outro problema indicado pela categoria é a quebra de paridade, isto é, a igualdade de peso dos votos de docentes, técnicos administrativos e estudantes. Após reunião, ficou decidido que as eleições contarão com votos de 70% de docentes, e estudantes e técnicos de 15%.
Embora a legislação ainda verse sobre pesos diferentes, o reconhecimento do modelo paritário foi conquistado pelas universidades ainda na década de 1980, no processo de derrocada da ditadura militar.
Veja a carta aberta da Adufmat na íntegra
Carta aberta à Comunidade Acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso e aos seus Conselheiros
A última reunião dos Conselhos da UFMT, realizada no dia 17 de junho de 2020, feriu os princípios da tradição democrática em nossa universidade. Ignorando o princípio da autonomia universitária inscrito na Constituição Federal, a reunião foi conduzida de forma autoritária e estabeleceu um Colégio Eleitoral para realizar uma consulta que quebrará a paridade, reduzindo drasticamente o peso do voto de discentes e trabalhadores técnico-administrativo, realizando algo realmente inédito e digno de repúdio: a quebra institucional do rito democrático estabelecido pelas entidades da UFMT desde 1982.
A insensibilidade do Presidente do Conselho diante do cenário que nos é apresentado, no qual até mesmo as eleições municipais estão em processo de prorrogação (a eleição para o Senado Federal de Mato Grosso já foi prorrogada), nos faz pensar: a interesse de quem o Colégio Eleitoral foi estabelecido? Não foi em favor da Comunidade Acadêmica.
Cuiabá está hoje entrando em lockdown, os hospitais estão lotados; e a consulta eletrônica que inviabiliza inclusive a igualdade das candidaturas, parece ser uma covardia para com a comunidade acadêmica, tal qual a acusação de omissão das entidades no processo eleição (vide nota anterior https://bityli.com/KelBa ).
A sociedade passa por um momento delicado, onde estão morrendo mais de mil pessoas por dia, e essa conjuntura não pode ser utilizada para que o comandante do Conselho reproduza pensamentos de instituições pretensamente antidemocráticas que se estabelecem em nosso país, recuperando normas redigidas em plena Ditadura Militar, como a ausência de paridade entre docentes, discentes e técnicos, que a tempos foram superadas.
A Diretoria da Adufmat-Ssind vem reiterar a sua postura em favor das liberdades democráticas e sua luta pela igualdade, se solidarizando com os técnicos e estudantes que foram diminuídos em favor de uma consulta caracterizada pelo autoritarismo e pela desigualdade.
Em flagrante desrespeito à decisão democrática, a ADufmat-Ssind solicita a dissolução do Colégio Eleitoral estabelecido, bem como a nulidade da reunião do dia 17 de junho de 2020, e ainda, se coloca favorável a prorrogação do mandato do atual Reitor Evandro Soares da Silva até a volta das aulas presenciais, quando será possível fazer a consulta de forma presencial.
Francisco
Domingo, 05 de Julho de 2020, 09h34