As obras da rede de transmissão de energia elétrica para o funcionamento do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) não foram executadas pelas Centrais Elétricas Mato-grossenses (Cemat). O interventor federal Jaconias de Aguiar afirma que os trabalhos não começarão até que seja entregue à distribuidora o cronograma definitivo de implantação do meio de transporte. “Eu não vou executar obra do VLT, se ele não fizer o VLT. Não tem sentido eu construir uma linha, porque eu só faturo depois dele estar operando. Embora ele tenha um contrato de demanda comigo, esse contrato só começa a valer financeiramente a partir do dia que ele entrar em operação”.

Jaconias de Aguiar, que deixa hoje (14) a Cemat com o fim da intervenção federal iniciada em agosto de 2012, ressalta que o investimento não é tão grande, mas ficará com a Energisa. “Não tem jeito de ser antes. Esse VLT, pelo que eu vejo, não sai tão cedo. Eu não gostaria de fazer juízo de valor sobre obras de outros, mas eu não consigo entender como técnico, se um dia, antes da Copa, esse VLT estará funcionando. Não tem a mínima lógica para isso. Se ocorrer, nós faremos as obras”.

O interventor reforça que a distribuidora precisa saber o novo cronograma do Veículo para fazer as obras da Cemat simultaneamente. “Se não eu invisto um ‘mundo’ de dinheiro num lugar e vai ficar lá sem eu ter retorno. Isso, na linguagem do setor elétrico, é ‘investimento imprudente’. Nós não vamos fazer assim”.

A demanda por energia do VLT, segundo Jaconias, é imensa (32 megawatts). Para que ele funcione, a Cemat tem que fazer alimentadores saindo de determinada parte da rede para ir até o ponto das subestações.

COPA - Nove obras estão na lista de obrigações da Cemat para o megaevento, que totalizam um investimento de R$ 21,106 milhões. Resta apenas uma obra para ser entregue: a construção de um segundo circuito de 138 kV entre a subestação Cidade Alta e CPA, em Cuiabá, onde estão sendo aplicados R$ 1,547 milhão. “Só temos uma obra que não está concluída. Nós tivemos um problema de percurso. Foi um acidente na torre, que caiu. Houve uma intervenção. Nós tivemos que paralisar a obra e isso acarretou um atraso. Mas ela está prevista para entrar dia 31 de maio e vai entrar. As demais estão todas concluídas”.

No início de março, tanto a CAB Ambiental quanto a Cemat assumiram um compromisso com o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de eliminarem as interferências apontadas pela Secretaria Estadual Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa) como obstáculos para a continuidade das obras de mobilidade urbana. O objetivo era justamente entregar as obras necessárias para a realização dos jogos até o dia 31 de maio. A Secopa chegou a dizer que as empresas precisavam fazer a sua parte, caso contrário, os prazos não seriam cumpridos.

“A Cemat, nesse aspecto, é uma empresa responsável e sabe o que ela pode fazer ou não. Não é justo que a Secopa e quem quer que seja fique dizendo na imprensa que a Cemat não fez ou deixou de fazer certas coisas. Se ele (Secopa) abre uma frente de obra e não me manda o projeto antecipadamente de realocação do poste, que tem que ser feita, o que eu posso fazer?”, desabafa Jaconias, que, após o encontro com o TCE, visitou todas as obras apontadas pela Secopa. “Fiz uma carta ao presidente do Tribunal com as datas das obras que tínhamos na mão naquele dia. Porque ele (governo) inventa obra todo o dia e não termina as anteriores. Ai fica dizendo que está parado porque não tem Cemat. Não tem nada a ver com a Cemat e outras empresas. É um problema único e exclusivo de gestão da Secopa das obras”.

O sentimento nas ruas não é muito diferente. Pelo menos do ponto de vista de Neide Coelho Cavalcante, a Copa não está valendo a pena. A cabeleireira diz que, além de atrasados, os serviços estão sendo mal feitos. “O pós-copa vai ser a treva. Um monte de coisa inacabada e as feitas vão se deteriorar antes do tempo. É fato”.

Outro lado - Por meio de nota, o Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande informou que “está construindo todo o sistema elétrico para alimentação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A alimentação das subestações é de responsabilidade do contratante, ou seja, o governo de Mato Grosso. Portanto, todos os alimentadores que deverão chegar até cada uma das nossas subestações é do governo do Estado”.

O governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo Fifa 2014 (Secopa), afirmou que todas as medidas necessárias para garantir o abastecimento de energia elétrica para o novo modal foram tomadas. Destaca que a concessionária de energia elétrica foi comunicada oficialmente há mais de um ano e já discutiu com os engenheiros da Secopa os projetos essenciais para providenciar a demanda do VLT que tem como matriz a energia elétrica.

De acordo com a Comissão do VLT (composta por 10 engenheiros) inúmeras reuniões foram realizadas na Secopa e na Cemat para tratar especificamente do assunto. Serão 12 subestações construídas e equipadas pelo Consórcio VLT Cuiabá/Várzea Grande e 6 alimentadores devem ser construídos pela concessionária de energia elétrica. Já está pronta no Centro de Comando de Operação (CCO), a subestação e os equipamentos comprados. O CCO fica ao lado do Aeroporto, em Várzea Grande. As outras serão construídas ao longo dos 2 eixos, sendo 8 no eixo 1 (Aeroporto/CPA) e 4 no eixo 2 (Centro/Coxipó).

O governo afirma que “confia no compromisso da empresa concessionária de energia elétrica e reforça que todas as informações são de conhecimento da concessionária, que inclusive tem canais diretos com o setor de engenharia da Secopa”. Informa ainda que o novo cronograma do VLT prevê a conclusão da obra para dezembro de 2014, conforme anunciado pelo governador de Mato Grosso, Silval Barbosa. Tem o eixo 1 como prioritário e trabalha para que o viário do aeroporto ao porto fique pronto até a Copa do Mundo.