Cidades Domingo, 27 de Junho de 2021, 11h:55 | Atualizado:

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LONGA FILA

EM MT, 2 mil pessoas aguardam cirurgias cardíacas

Espera pelo procedimento pode passar de um ano

DANTIELLE VENTURINI
JORNAL A GAZETA

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hospital geral

 

Em meio a uma pandemia e com apenas 24 vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ofertadas para cirurgias cardiológicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Mato Grosso tem uma fila de quase 2 mil pacientes aguardando por algum tipo de procedimento na área. Com um único hospital de referência para atender a maior parte da demanda estadual, a espera por um procedimento eletivo por vezes pode chegar a mais de um ano.

Dados da Central de Regulação em Cuiabá indicam atualmente são 1.376 pacientes aguardando na fila de eletivos. Já de acordo com o Sistema de Regulação (SISREG III) estadual, existem 692 pacientes aguardando via SUS por algum tipo de procedimento cardiovascular em Mato Grosso. Desse total estadual, 96,% são urgência e emergência, em que o número é flutuante, uma vez que é dada prioridade para essa classificação. 

O Hospital Geral (HG) realiza os procedimentos em adultos pelo SUS, que são cerca de 142 mensais, com uma oferta de 20 vagas públicas, sendo apenas 10 para cirurgias cardíacas. As outras 15 vagas são ofertadas na Santa Casa de Misericórdia de Rondonópolis. No Estado, outras unidades que poderiam contribuir com o aumento de vagas para zerar essa demanda não têm nem mesmo previsão de oferecer a especialidade. Entre os problemas para essa adesão estão os valores pagos pelos procedimentos pelos SUS.

Luzinete Siqueira Rosa, diretora de Regulação, Controle e Avaliação da Central de Regulação em Cuiabá, responsável pela gerência de parte das vagas ofertadas para todo o Estado, explica que a demanda pelo atendimento é grande, uma vez que são concentradas as necessidades de todos municípios. A maior demanda dos serviços atualmente é da Capital, mas outras cidades do Estado, assim como Várzea Grande, também fazem parte da lista de pacientes. Um dos procedimentos mais aguardados é a angioplastia que, em média, pode demorar até 4 meses.

Abertura de mais vagas para serviços especializados não avançou nos últimos anos e, segundo a responsável, isso se deve ao desinteresse por parte das unidades de saúde nas licitações que são abertas, em especial pela defasagem da tabela SUS. “A última ficou aberta um ano, e não tivemos nenhum interessado em oferecer os procedimentos que precisamos”.

Luzinete esclarece que esses procedimentos cardiológicos possuem um protocolo a ser seguido e, por isso, a liberação das vagas para que novas pessoas sejam chamadas varia, o que impacta no tempo de espera na fila. Quando chamado pelo hospital, em média o paciente fica 15 dias na unidade, entre a realização de exames, da cirurgia e a alta médica. Para cada cirurgia realizada é necessário que uma UTI esteja liberada. Tudo isso torna o trâmite da fila mais lento, pois há pacientes que um dia após a cirurgia estão muito bem, outros levam mais dias para a recuperação e, enquanto não tem UTI, não se pode realizar outras cirurgias.  

O Estado informou que os municípios também têm autonomia para contratualizar o serviço diretamente com os hospitais. Em relação às novas habilitações, o governo estadual afirma que já está providenciando a contratação do serviço de cardiologia em hospital de referência fora do Estado, visando diminuir o tempo de espera pelo Tratamento Fora de Domicílio (TFD), tendo em vista que, atualmente, quando ocorre uma solicitação de TDF, a SES realiza cotações. Com o contrato firmado com uma unidade de saúde, o processo para transferência tende a ser mais ágil.

Referência

Diretor técnico do HG, o médico Alexandre Maitelli, afirma que o hospital é o único credenciado no Estado para cirurgias cardíacas e dos 20 leitos de UTI adulto contratados pelo SUS, 10 são UTIs coronárianas. Segundo ele, a estrutura de atendimento à especialidade no Estado é limitada e a maior dificuldade encontrada para o aumento na oferta de serviços por parte das unidades de saúde hoje é a defasagem da tabela SUS. Em média a unidade disse realizar cerca de 46 cirurgias cardíacas de alta complexidade ao mês. “Temos uma tabela que não sofre reajuste há 20 anos, a maioria do material é coberto parcialmente o que dificulta muito”.  

Falta de vaga

Prioridade essa que a jornalista Alessandra Barbosa da Silva, 49 anos, não chegou a ter oportunidade de receber. Ela morreu no último dia 11, vítima de insuficiência cardíaca, após ser internada na Policlínica do Verdão. De acordo com a família de ‘Leleca’, como era conhecida, um dia antes da morte, ela deu entrada na unidade de saúde e foi identificado um quadro de pneumonia grave e coração inchado. A partir daí, foi identificada a necessidade de transferência para uma UTI.

“Começamos a correr atrás e ficamos aguardando essa transferência”, diz a irmã da jornalista. Durante a espera, a situação de Leleca piorou, teve uma parada cardíaca e não resistiu. Segundo a família, o quadro de pneumonia foi o que mais atrapalhou a transferência, mas a jornalista não foi diagnosticada com covid-19. “Ela foi entubada na madrugada do dia 11, teve uma parada cardíaca e não resistiu. Só ficamos sabendo de manhã cedo, quando chegamos lá”. A família não teve tempo de recorrer a outros meios como, por exemplo, à Defensoria Pública, que diante dessa dificuldade no acesso aos serviços atua para agilizar o atendimento necessário.

A Defensoria Pública de Mato Grosso já ingressou com mais de 138 ações em pouco menos de um ano e, segundo o defensor público, Fábio Barbosa, responsável pelo Grupo de Atuação Estratégica de Direitos Coletivos (Gaedic), muitas ações acabam sendo resolvidas e atendidas pelo próprio SUS, mas, na grande maioria das vezes, fora dos prazos estabelecidos.

Ele lembra que, apesar dos prazos extrapolarem, isso demonstra que diversas vezes o que falta para o Estado e municípios é a organização. “Se é resolvido com a ação da Defensoria, isso demonstra que o mesmo poderia acorrer sem a judicialização”.

Segundo o defensor, o Gaedic tem trabalhado na orientação junto ao governo, na fiscalização das medidas tomadas, mediação entre o cidadão e as unidades de saúde por leitos e, quando preciso, judicialização de ações para assegurar os direitos dos assistidos, aqueles com mais dificuldades no acesso à Justiça.

 

 





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