Cidades Sexta-Feira, 25 de Julho de 2025, 15h:12 | Atualizado:

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MULHER NEGRA

Escritora reflete sobre autoestima e representatividade

 

Da Redação

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A história de três meninas negras que sofrem preconceito por causa de seus cabelos crespos, mas que, aos poucos, aprendem a amá-lo. Esse é o enredo do livro “Cabelo Ruim?” da jornalista e escritora Neusa Baptista. Ela é a convidada da TRT FM desta sexta (25), data em que se comemora o Dia Nacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

Neusa é mestra em Estudos de Cultura Contemporânea e graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Qual a importância do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha?

Essa data é fundamental para o movimento de mulheres negras, pois é uma resposta ao 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, que nem sempre contempla as especificidades da mulher negra. Nós vivemos piores condições de acesso à educação, saúde e empregabilidade. Em 2023, por exemplo, 63% das vítimas de feminicídio foram mulheres negras.

É importante termos essa data reconhecida, como já é em Cuiabá, para refletirmos sobre a exclusão histórica que essas mulheres enfrentam, mesmo sendo maioria na nossa capital.

Quais os principais desafios que a mulher negra ainda enfrenta na sociedade?

Falo como mulher negra e pesquisadora: um dos principais desafios é a ocupação dos espaços de poder. Ainda somos poucas no Legislativo, no Judiciário e no Executivo. Isso impede que políticas públicas com nosso recorte sejam efetivamente pensadas e aplicadas.

Na saúde, por exemplo, o índice de mortes maternas entre mulheres negras é maior. Precisamos estar nesses espaços para mudar isso. A política não é só partidária, está no cotidiano, e a mulher negra já faz política dentro de casa, na educação dos filhos, nas relações. Precisamos transformar isso também em representatividade institucional.

Apesar de tantos desafios, quais as conquistas que a mulher negra já alcançou no Brasil?

No meio acadêmico, por exemplo, as mulheres negras já ocupam espaços importantes. Apesar do acesso ao ensino superior ainda ser desigual, temos vozes como Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro, referências fundamentais. Essas pensadoras vieram do movimento negro e abriram caminho para muitas de nós, eu mesma me inspirei nelas na minha dissertação. Isso mostra como nossas vivências podem se transformar em conhecimento, o que chamamos de escrevivências. Hoje, a mulher negra está mostrando sua cara na ciência, na educação e em outras áreas do conhecimento.

Como surgiu a ideia para escrever o livro “Cabelo Ruim?” ?

Veio da minha vivência. Cresci em uma família com sete mulheres, e via minhas irmãs tentando alisar o cabelo com métodos agressivos. Depois que me formei em Jornalismo, me perguntei por que tanta rejeição a algo natural nosso.

O livro nasceu desse incômodo. Nele, três meninas, Bia, Tatá e Ritinha, vivem experiências relacionadas ao cabelo crespo. A Tatá, por exemplo, começa a questionar a necessidade de alisar os fios e passa a refletir com as outras sobre a aceitação do próprio cabelo.

Você acredita que o livro contribui para a conscientização nas escolas?

Sim. Desde que o lançamos, em 2006, realizamos diversos projetos em escolas públicas, com oficinas de tranças, peças de teatro e rodas de conversa. O livro não fala só para meninas negras, mas também ajuda outras crianças a entenderem o valor da diversidade.

Muitas meninas negras rejeitam soltar o cabelo por vergonha. Isso mostra o quanto a autoestima ainda é impactada por padrões racistas.

Qual o papel das famílias e dos educadores na construção da autoestima de crianças negras?

É central. A família passa os primeiros valores. Em nossos projetos, vimos meninas que não queriam fazer tranças para não passar vergonha. Isso vem de casa.

Na minha experiência, minha própria mãe não aceitava meu cabelo natural. Isso não é culpa dela, mas reflexo do racismo estrutural. A sociedade inteira foi moldada com essa visão, e isso se perpetua dentro das famílias.

Que mensagem você deixa para as mulheres negras que nos acompanham?

Minha mensagem é: busquem informação. Leiam. Conheçam a história dos seus ancestrais. A história negra é rica, mas foi silenciada. Se você está aqui hoje, é porque faz parte de uma linhagem forte. O autoamor nasce do conhecimento. Se ame, se aceite, entenda o seu valor como mulher negra. Ainda temos muito a conquistar, mas já caminhamos bastante  e vamos continuar resistindo.

Dia Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

O Dia Nacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em 25 de julho, e também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no Brasil. Esta data é um reconhecimento da luta e resistência das mulheres negras contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração.





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Comentários (1)

  • aiaiai

    Sexta-Feira, 25 de Julho de 2025, 16h01
  • aiaiai....
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    0











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