Uma mulher de 49 anos, a caminho do trabalho em Cuiabá, é assassinada a golpes de faca. Uma jovem de 19 anos é esfaqueada e morta dentro de sua própria casa, em Araputanga (a 300 km de Cuiabá). As duas foram atacadas por ex-companheiros que não aceitaram o fim do relacionamento. Crimes que deixam os familiares das vítimas de feminicídio traumatizados.
Mulheres com diferentes idades, em diferentes cidades, mas que mantinham a relação abusiva em segredo. “Ela não contava das ameaças para a gente. Acho que esse foi o erro mais grave dela”, avalia Renan da Silva Oliveira Santos, filho de Domingas Cecília de Oliveira, de 49 anos, morta em 19 de dezembro de 2020.
“Quem vê cara não vê coração. Para ter noção ele é um cara livre de qualquer suspeita e fez isso com minha filha”, desabafa Selma Dantas da Silva, mãe de Denilla Cris Dantas Barbosa, 19 anos, assassinada no dia 16 de junho deste ano, pelo namorado, um estudante de odontologia de 24 anos, com quem a filha mantinha um relacionamento à distância. Quando a jovem decidiu terminar, o agressor viajou até Araputanga e a esfaqueou.
O feminicídio que vitimou Domingas foi registrado por câmeras de segurança e mostram ela caminhando em uma calçada, quando um homem em uma bicicleta se aproxima e a ataca com chutes e um golpe de faca na altura do pescoço. “Ele foi muito traiçoeiro. Ele a esperou sair para trabalhar, planejou aquilo ali”, revolta-se a filha da vítima, Thaís Bruna da Silva Oliveira.
Em meio ao choro, Selma relembra o dia do crime e diz que vive um pesadelo sem fim. “Quando eu vi minha filha daquele jeito, eu cai. Fiquei desesperada, no meio da rua, no sol quente, gritando. E está difícil demais”, desabafa.
A juíza da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Ana Graziela Vaz de Campos destaca que uma pesquisa aponta que 97% das vítimas de feminicídio no país não registraram Boletim de Ocorrências contra o agressor e muito menos chegaram a pedir ao Judiciário uma Medida Protetiva. Em Mato Grosso, esse percentual gira em torno de 70% “O primeiro passo é registrar o BO, pedir a medida protetiva e avisar amigos, vizinhos, parentes, que existe essa medida protetiva e que o réu não pode se aproximar dela. Informar também para colegas de trabalho. Todo o cuidado é pouco”, aconselha.
A atual gestão do Tribunal de Justiça promove a campanha “A vida recomeça quando a violência termina: quebre o ciclo”, que incentiva as vitimas a denunciarem a violência doméstica e assim reduzirem os índices de feminicídio. Para facilitar a denúncia e agilizar o atendimento das vítimas de violência doméstica, no mês de junho deste ano, o Poder Judiciário e a Polícia Civil lançaram duas ferramentas virtuais: o aplicativo 'SOS Mulher MT', que permitirá às vítimas o acesso ao Botão do Pânico (ao ser acionado uma viatura é enviada ao local para socorrer a mulher) e o portal Medida Protetiva Online, no qual a mulher, de posse do BO, pode solicitar proteção.