Cidades Domingo, 22 de Junho de 2025, 08h:52 | Atualizado:

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DESCOBERTAS

Fosséis de dinossauro e conchas do mar em Chapada contam evolução do planeta

materiais foram encontrados por pesquisadores da UFMT

GAZETA DIGITAL

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Descobertas de fósseis de dinossauros e conchinhas fossilizadas trazem luz para mais detalhes da história da região de Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte), que um dia já foi mar. Os materiais foram encontrados por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em sítios paleontológicos da cidade e datam de períodos distintos, sendo as conchas de quando o oceano cobria a cidade turística.  

A iniciativa, além do apoio da UFMT, também recebeu auxílio financeiro de uma emenda parlamentar da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel). Caiubi Kuhn é geólogo, doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pela Universidade de Tubingen, na Alemanha. O pesquisador atua nas escavações realizadas em Chapada e contou ao  como o processo de busca ocorre e quais os próximos passos diante dos fósseis encontrados.

Gazeta Digital: Primeiro eu gostaria que você me explicasse como funciona o projeto de pesquisa que é realizado por vocês atualmente nos sítios.

Caiubi Kuhn: Nesse projeto, nós estamos fazendo a escavação de vários sítios paleontológicos em Chapada dos Guimarães e pesquisas em alguns outros pontos do município. Nós realizamos a escavação em dois sítios que contam diferentes momentos da história do planeta.

Um deles é o sítio na região do Cambambe, onde são encontrados fósseis de dinossauros ali do final do período Cretáceo, de aproximadamente 70 milhões de anos. O outro sítio conta a história de quando Chapada foi recoberta pelo mar, há cerca de 410 ou 420 milhões de anos, até 360 milhões de anos. Então, este é um sítio mais antigo do que o anterior.

Além disso, nós também realizamos trabalhos de campo na região das cavernas, do complexo Aroe Jari. Nessas cavernas também se tem registros de icnofósseis, que são marcas deixadas por seres vivos no passado e que também são importantíssimos para se entender essa história geológica dali.

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Gazeta Digital: O que são os fósseis encontrados recentemente e o que já se sabe sobre eles?

Caiubi Kuhn: No sítio da região do Cambambe, nós encontramos fósseis de vertebrados, mais especificamente de dinossauros, provavelmente de dois tipos diferentes.

Um de dinossauros terópodes, carnívoros um pouco parecidos com o que seria o Tiranossauro Rex, uma outra espécie, uma outra família, mas ali tem essa característica de serem grandes e carnívoros. Também tem fósseis de saurópodes, que são aqueles herbívoros e quadrúpedes.

Além disso, também existe a possibilidade de fósseis de alguns outros animais menores em meio aos achados que encontramos. Lá na região existe histórico também de tartarugas testudines e de crocodilos. Chapada tem uma diversidade de fósseis bastante interessante dessa era dos dinossauros. No Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, nós encontramos as famosas conchinhas de Chapada dos Guimarães.

Gazeta Digital: O que existe em Chapada que faz com que ela seja tão diversa em relação aos tipos de fósseis encontrados lá?

Caiubi Kuhn: Podemos dizer que foi um presente, porque em poucos lugares no Brasil ou no mundo se tem tantas rochas diferentes. Isso é resultado da evolução geológica e da história do nosso planeta. Quanto maior a diversidade geológica de lugar, maior a quantidade que nós teremos de tipos de solos, ambientes e de formas de vida.

Chapada foi mar quando os continentes tinham outra forma, outra configuração. Naquele momento, por exemplo, não existia Cordilheira dos Andes, então toda a borda oeste da nossa placa tectônica era muito mais baixa. Não é só Chapada que foi mar, existem rochas que estão a 4 ou 5 mil metros de altitude na Cordilheira dos Andes, que era um fundo de mar. Não é que o mar chegava até 800 metros, toda essa região estava muito mais baixa antes, então, por isso, que o mar recobria.

Nós temos em Chapada registros de diferentes idades, com rochas muito diferentes. Se nós formos olhar, não os fósseis, mas as rochas de Chapada, veremos rochas que se formaram no fundo do oceano e depois esse oceano se fechou e formou uma cordilheira.

Gazeta Digital: Como funciona esse trabalho de paleontologia do grupo de pesquisa, desde escolher os lugares a serem escavados até a organização?

Caiubi Kuhn: Para fazer esse trabalho, a gente segue uma sequência de etapas e a primeira delas é analisar registros que já existem, de artigos científicos, históricos, para ver áreas potenciais, onde tem um histórico de ter se encontrado algum tipo de fóssil. Depois vem a etapa de prospecção.

Na prospecção, nós vamos a campo, para andar pelos lugares buscando vestígios que indiquem que ali tem um fóssil. Depois que a gente encontra essas áreas potenciais, aí nós fazemos a parte de escavação.

A escavação é realizada em áreas onde nós identificamos que tem um potencial muito grande e nós vamos com uma equipe composta por muitas pessoas para fazer um trabalho minucioso, bastante detalhado e cuidadoso para tentar encontrar e retirar esses fósseis no local.

Nosso grupo é composto por pesquisadores de vários institutos e faculdades, desde geociências, ligado ao curso de geologia, até a faculdade de engenharia, do curso de engenharia de minas e o Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD).

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É um conjunto de profissionais que desenvolve essas ações com estudantes que têm ali uma oportunidade para também se tornarem pesquisadores no futuro. Além disso, nós temos pesquisadores de instituições como a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade de Brasília (UNB) e até mesmo os pesquisadores de outros países, por exemplo, da Argentina.

Gazeta Digital: Quanto tempo leva em média para realizar uma descoberta desse tipo?

Caiubi Kuhn: Pode demorar desde alguns anos até décadas entre as etapas de localizar locais potenciais até realizar escavação. Neste trabalho atual, por exemplo, o projeto está com a duração de 2 anos.

Nós temos todo um trabalho de pesquisa realizado anteriormente à etapa de campo e posterior à etapa de campo. É bastante complexo, mas já é resultado de outros trabalhos anteriores que identificaram áreas potenciais.

Gazeta Digital: Com relação às descobertas recentes, que estão sendo escavadas e retiradas, quais os próximos passos?

Caiubi Kuhn: Após realizar esses trabalhos de escavação, são feitos os trabalhos científicos de descrição dos materiais coletados e se inicia uma nova etapa, que é descrever, olhar na literatura científica, comparar, ver se é uma espécie nova ou se é algo que já foi encontrado. A partir disso, vamos escrever para conseguir publicar isso em revistas científicas que sejam relevantes para que a ciência mundial conheça esses achados de Chapada.

Depois disso, ainda tem mais uma etapa muito importante que é a gente criar formas para que a população conheça isso, por exemplo, réplicas, formas de exposição, desenhos e ilustrações que demonstrem como era essa vida com os animais que já viveram na nossa região.

Gazeta Digital: De que forma você acha que realizar esse trabalho de pesquisa e descobertas impacta a região mato-grossense?

Caiubi Kuhn: É muito importante destacar que esse trabalho é realizado e liderado por pesquisadores daqui da UFMT, para mostrar que na nossa região temos achados, muitos registros relevantes.

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Às vezes, se tem aquela ideia de que só existem fósseis ou registros importantes em outros locais, mas não. A nossa região é riquíssima em relação a isso, o que traz um legado muito importante para a educação, ciência e até mesmo para o turismo. Para valorizar aqui tem possibilidades de desenvolvimento até mesmo em coisas artísticas como filmes, produtos de artesanatos, entre muitas outras coisas.

Quando a gente encontra esse tipo de achado tão importante do ponto de vista científico, a gente está valorizando também o estado de Mato Grosso e criando possibilidades para o nosso desenvolvimento.

É muito importante nós termos investimento na parte de história e de pré-história. É muito importante também a população entender o estado que vive, o que ela está enxergando ao seu redor para gente até mesmo conseguir não só preservar o que é importante, mas também saber como foi a evolução do nosso planeta no lugar onde a gente vive.

A descoberta científica não é só uma coisa para colocar na prateleira, ela significa ciência, educação, desenvolvimento econômico e social, porque ela cria produtos. Ela significa aumentar o interesse dos nossos jovens por estudar.

Investir em ciência e no fortalecimento das instituições museológicas é importante, porque se a gente não tiver recursos para desenvolver essas ações, a gente não tem como fazer essas descobertas. Pode acontecer igual normalmente acontece, que vêm pesquisadores de outros estados ou até de outros países fazem a descoberta, coleta o material, leva para outras instituições e, às vezes, a nossa própria população do estado de Mato Grosso fica sem ter acesso aos materiais e a própria pré-história do estado.





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