Cidades Quinta-Feira, 10 de Julho de 2025, 16h:00 | Atualizado:

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27 ANOS

Mãe revisita Beco do Candeeiro em Cuiabá

 

MARIANA DA SILVA
GAZETA DIGITAL

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MARIA DOS SANTOS - BABY.jpg

 

Uma luta solitária e de longa data cobrando por justiça resume os dias dos últimos 27 anos de Maria dos Santos, 75. Na noite de 10 de julho, de 1998, o filho Adileu dos Santos, de apelido Baby, na época com 13 anos, foi assassinado a tiros, no Beco do Candeeiro, em Cuiabá. Os colegas Edgar Rodrigues de Arruda, o Indinho, 15, e Reginaldo Dias Magalhães, o Nado, 16, também foram baleados na rua, a primeira fundada na Capital, e até hoje o culpado segue sem penalidade.

Assim como faz anualmente, nesta quinta-feira (10) a mãe viajou de Cáceres, onde reside, para visitar o local onde o filho passou os últimos minutos de vida. Além de homenagear o garoto, ela clama por respostas das autoridades após quase 3 décadas do crime.

“Eu não consigo deixar isso quieto. A Justiça tem que existir. Não pode ser só para rico. A Justiça tem que ser para filho de rico e para filho de pobre. Se fosse filho de um juiz, de qualquer outra pessoa que tivesse acontecido isso, garanto que essa pessoa estaria presa. Então eu peço Justiça”, desabafou a mãe, a poucos metros de onde o caçula foi executado.

Ao GD, Maria lembra do ano em que o menor veio passar uns dias na casa do irmão mais velho na Capital, visto que a escola de Cáceres estava em greve, e retornaria quando as aulas normalizassem. No entanto, pouco tempo depois, recebeu a notícia por telefone de que o filho havia sido assassinado no beco.

O caso ganhou repercussão nacional ao ser comparado a chacina da Candelária, ocorrida em julho de 1993, em frente à Igreja, no centro do Rio de Janeiro. Naquela noite, 8 jovens foram assassinados e dezenas ficaram feridos pelos tiros disparados por policiais.

Se estivesse vivo, Adileu hoje teria 41 anos. A mãe lamenta a morte precoce e sente a falta do garoto até hoje. Idosa e com problemas de saúde, conta que poderia ter o apoio e cuidado de Baby, se o filho não tivesse perdido a vida naquela noite. “Não tenho mais saúde. Já não aguento mais muita coisa, mas eu não deixo quieto. Enquanto eu viver, vou vir aqui. Continuo cobrando, porque a Justiça tem que existir. É muita dor, sofrimento, é um pedaço meu que tá ali”, diz apontando para o local onde o filho foi baleado. “Vou continuar vindo até quando Deus me permitir”, afirma categoricamente.

O processo

O crime, no entanto, já está prescrito devido ao tempo que se passou desde então. Em 17 de setembro de 2014, um julgamento ocorreu. O policial militar Adeir de Guedes Filho foi absolvido por falta de provas. O júri também o inocentou das acusações feitas por Edilson Alves Ferreira Júnior, considerado a quarta vítima, mas este por tentativa de homicídio, já que sobreviveu. Ele tinha 16 anos na época.

BECO DO CANDEEIRO.jpg

 

Ele e outra testemunha do crime apontavam o militar como o autor dos disparos. Conforme os autos, Adeir ainda teria tentando matar o jovem, que fugiu do beco assim que percebeu os disparos. Segundo a sentença proferida pela juíza que presidiu o Tribunal do Júri, Mônica Catarina Perri Siqueira, o Conselho de Sentença não reconheceu que Adeir fosse o atirador daquela noite.

O caso foi marcado por falta de pistas sobre o assassino dos menores, sumiço de provas dos arquivos da Polícia Civil e diversas linhas de investigação inconclusivas. Uma delas, inclusive, apontava o ex-cabo Hércules de Araújo Agostinho, conhecido como ex-braço armado de João Arcanjo Ribeiro, como executor dos menores por supostamente terem assaltado sua esposa.

O caso também foi acompanhado à época pela Associação dos Familiares Vítimas de Violência (AFVV). O representante jurídico da entidade, o advogado Wantuir Luiz Pereira, que também teve seu pai assassinado nos anos 80, esteve nesta quinta-feira (10) no local. "A ONG nasceu da necessidade de fazer uma associação de pessoas que tiveram seus entes queridos assassinados para acompanhar os casos, prestar as assessoria jurídica, solidariedade, ajudar a cobrar as instituições como Polícia Civil, Tribunal de Justiça, Promotoria, uma solução dos casos", recorda.

Ele narra que a AFVV acompanhou casos emblemáticos e prestou apoio a familiares de forma gratuita, de modo que os parentes tivessem além de apoio emocional, equiparação na luta judicial. "Vivemos a angustia dos familiares. O 'outro lado'  tem advogados muito bem pagos, tem cobertura de pessoas que não querem que os casos sejam solucionados para não pegar gente grande, então fazemos esse trabalho para os familiares", cita.

Crime narrado em livro

O jornalista Johnny Marcus se debruçou sobre o inquérito policial e todo o processo. Escritor do livro Beco Sem Saída - A Chacina do Beco do Candeeiro 20 anos depois, resgatou a história e analisou os pormenores da investigação, marcada por pontas soltas e muitas interrogações. De acordo com o escritor, seria necessário recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para que o caso fosse reaberto.

“Esse fato, hoje em dia, seria o testemunho do sobrevivente, que cumpre pena em penitenciária em Cuiabá, mas não temos acesso a ele porque o sistema prisional dificulta o acesso. O testemunho dele, que levou ao julgamento, seria importante trazer uma nova luz e esclarecimentos com detalhes do caso. Eu acredito que ele ainda se lembraria, foi um fato traumático que marcou a vida dele. Se fosse provado na Corte que houve omissão ou má gerência da condução da investigação, a Corte tem autoridade para obrigar o governo brasileiro a reabrir o caso”, sugere.

Além do livro lançado por Johnny Marcus, em 2024, o podcast Crimes em Pauta, temporada chacina do Beco do Candeeiro aborda o crime. Com 7 episódios, o programa em áudio conta a história desde a origem da rua 27 de dezembro, conhecida como Beco do Candeeiro, até a tragédia envolvendo os jovens e ouviu jornalistas que acompanharam o caso na época, defensores dos direitos humanos e familiares dos adolescentes.

Contudo, caso segue sem solução até hoje.





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Comentários (2)

  • Mato grosso

    Sexta-Feira, 11 de Julho de 2025, 07h02
  • Tem que ficar esperto pra não acontecer o mesmo ; com o caso do carcereiro Japão!! As coisas estão caminhando p mesma situação dessa senhora......o sacola atirou nas costas de um agente público; também no centro de Cuiabá, e está livre ; leve e solto....de boa; inclusive recebendo salários pago pelo povo!!
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  • Indigninadissimo

    Quinta-Feira, 10 de Julho de 2025, 16h42
  • A justiça de MT assim como a do Brasil é para os três P"s,se fosse um filho de juiz como a senhora comparou,o culpado nem que fosse inventado já estaria há muitos anos presos ou morto .
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