O espírito da Copa do Mundo e o nacionalismo que unia os brasileiros do Oiapoque ao Chuí em prol da seleção brasileira ainda está adormecido a um mês da bola rolar no gramado. Na avaliação do sociólogo do esporte da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco Xavier Freire Rodrigues, o atraso nas obras, os custos elevados, denúncias de superfaturamento e os transtornos causados com as intervenções em várias partes da cidade foram os principais fatores que refletiram negativamente nesse sentimento de nação, de “pátria de chuteiras”.
O sociólogo dirige um projeto de pesquisa intitulado “Estudo sobre investimentos e legados da Copa do Mundo em 2014 em Cuiabá/Mato Grosso” e argumenta que o “jeitinho brasileiro” e o comportamento cultural de deixar tudo para a última hora também pesaram na organização da Copa. “Somos profissionais para participar de uma Copa, mas amadores para organizar uma. É a Copa da última hora”.
Contudo, ele pondera que se o governo se atrasou com o cronograma de obras, falhou em dialogar com a população - somente na semana passada que representantes da Presidência da República vieram a Cuiabá para prestar contas do que foi feito com recursos públicos - a população também foi tardia em ir às ruas para cobrar. “A sociedade civil demorou para se mobilizar. Em 2007 foi anunciado que o Brasil sediaria a Copa e em 2009 foram escolhidas as cidades-sedes e as manifestações vieram em 2013. Até mesmo a seleção que deveria estar em clima de união, treinando na Granja Comary, não está concentrada, também vai deixar para a última hora. Acredito que o clima da Copa do Mundo possa ser instalado na última hora, quando a bola começar a rolar”.
A falta de experiência em organizar grandes eventos e atender os níveis de exigência da Fifa também pesaram para o país. “Há uma diferença entre organizar uma Copa e de participar de uma Copa do Mundo. Quando se participa, o país entra em clima de euforia, de sentimento de nação e as diferenças culturais e étnica são esquecidas. Mas quando se organiza há o risco de dividir o país entre os que são contrários e favoráveis ao futebol”.
Ele aponta que quando o Brasil sediou a Copa do Mundo em 1950 a situação era outra, pois a Fifa não exigia tanto dos países, o evento não era midiático e se havia os contrários não aparecia pois os veículos de comunicação não tinham a mesma força de hoje. “Naquela época, o rádio criou o imaginário do futebol arte, bonito, da estética brasileira. Atualmente na TV, você assiste os jogos e percebe que não é tão bonito como se dizia no rádio”.