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Cidades Domingo, 06 de Abril de 2025, 10h:22 | Atualizado:

Domingo, 06 de Abril de 2025, 10h:22 | Atualizado:

BOA ESPERANÇA DO NORTE

Novo município vive entre o brilho do agro e a escassez

 

BÁRBARA SÁ
Gazeta Digital

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boa esperanca do norte

 

Em Boa Esperança do Norte, a 476 km de Cuiabá, a plantação cobre os campos, o gado ruma ao pasto, e o Rio Teles Pires corta a mata como um espelho da abundância mas é a bandeira do Brasil que tremula soberana em cada canto. Oficialmente, a cidade nasceu 1º em janeiro de 2025. A caçula de Mato Grosso ostenta menos de 20% de suas ruas asfaltadas e coleta de lixo ainda é feita pelo município Sorriso, enquanto seus 7 mil habitantes vivem entre a opulência agrícola e a precariedade urbana.

Nós começamos ricos, mas precisamos de socorro urgente, clama o vereador Sidney Ferreira da Silva, o Sidney de Piratininga, 46 anos. Por lá, a direita finca raízes: comércios são patriotas desde os cardápios que celebram a greve dos caminhoneiros de 2018, a cidade grita sua fé na pátria e no conservadorismo.

A reportagem do Jornal A Gazeta, por dois dias, percorreu o chão de contrastes, onde fazendas de milho, feijão e soja margeiam uma cidade nascida dos municípios de Nova Ubiratã, que perdeu 360 mil hectares, ou 80% do território, e Sorriso, que cedeu os 20% restantes. Bandeiras verde e amarelas enfeitam lojas e bares, um eco do orgulho nacional que pulsa em uma região que se vê como esteio do Brasil. Nos restaurantes, cardápios exibem fotos da paralisação dos caminhoneiros de 2018 um marco para a direita brasileira. Mas, sob essa fachada, a infraestrutura range: ruas de terra, distritos sem saneamento e uma prefeitura improvisada revelam um município ainda em gestação.

Em meio a este cenário, a nova cidade conta com um orçamento total de R$ 55 milhões para este ano. Contudo, os recursos destinados a áreas essenciais expõem as contradições da gestão. A Secretaria Municipal de Assistência Social, Trabalho e Habitação recebeu R$ 2.061.427,00, valor crucial para viabilizar moradias e serviços básicos, enquanto a Secretaria Municipal de Obras, Transporte, Serviços Públicos Urbanos e Saneamento conta com R$ 9.630.668,00 para enfrentar a realidade dos 300 km de estradas que viram lama na chuva, a ausência de rede de esgoto e a precariedade das vias.

Nos distritos como Piratininga, a realidade é crua. Zero asfalto, zero rede de esgoto, nada, diz Sidney. Ele descreve as dificuldades enfrentadas nas estradas: Já socorri caminhoneiro atolado de madrugada, com criança. Só temos uma pá pequena pra tampar valeta. O apoio aos caminhoneiros, exaltado nos cardápios locais, não se traduz em pontes firmes ou máquinas suficientes. Duas patrolas e uns caminhões não sustentam, critica e apela ao estado: Se não bater na porta do governador, ele nem sabe que a gente tá precisando.

O prefeito Calebe Francio (MDB) governa de um prédio doado por uma cooperativa, que é da sua família, com mais de 25 anos na região, símbolo do espírito comunitário que os moradores valorizam, mas que evidencia a falta de estrutura. Tudo aqui é improvisado: licitações, começamos do zero em janeiro, conta, enquanto planeja alugar um espaço maior para aliviar as limitações do local atual. Enquanto isso, a produção de 700 mil toneladas de grãos por ano escoa por estradas precárias, contrapondo a riqueza agrícola com a fragilidade urbana.

A vereadora Danielly Rocha (DC) aponta a moradia como um nó a desatar. Precisamos de mão de obra, mas não tem casa. Um lote 15 por 30 custa R$ 180 mil. Como sonhar assim? Ela destaca que o custo de vida, aluguel, água, luz obriga os dois adultos da família a trabalharem, mas ainda assim sobra pouco para outras despesas. A falta de habitação acessível trava o crescimento. Sem gente, não vem indústria, e o município não destrava, alerta após 100 dias da primeira eleição na cidade.

Calebe, filho de Alberto Francio, fundador da colonizadora Sorriso que abriu essas terras nos anos 1970, carrega o legado familiar e a responsabilidade de transformar o improviso em estrutura sólida. Essa cooperativa que nos cedeu o prédio tem mais de 25 anos, diz o prefeito, orgulhoso, mas consciente de que, para além das bandeiras hasteadas, é preciso investimento e planejamento para que o orçamento de R$ 55 milhões traduza progresso real.

O Rio Teles Pires reflete as fazendas que ajudam a sustentar o país, enquanto a precariedade urbana clama por investimentos que tornem a cidade não só um símbolo do agro, mas um lugar onde a infraestrutura e a habitação sejam prioridade.





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Comentários (8)

  • Jmaiko

    Quinta-Feira, 10 de Abril de 2025, 09h24
  • Faalam falam valor de um lote 180 mil mas há pesquisas imobiliárias e não encontrei nada para ver questão de compras e parcelamentos facilitados nesta cidade
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  • Edio Ferraz

    Segunda-Feira, 07 de Abril de 2025, 20h11
  • Com toda essa geração de riqueza. Estava abandonada pelo município a que pertencia! Isso mostra o acerto da emancipação. Agorá vai cuidar de suas carências com a parte que lhe couber na participação do bolo orcamentario..
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  • Amanda Duarte

    Segunda-Feira, 07 de Abril de 2025, 19h41
  • O Agro enriquece poucos.
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  • Citizenship

    Segunda-Feira, 07 de Abril de 2025, 12h28
  • O modelo político-administrativo anterior à Constituição de 1988 sempre preteriu as populações locais e valorizou a concentração de poder. A Constituição de 1988, ao contrário, estimulou a autonomia política e administrativa para reconhecer a plenitude da cidadania às pessoas mesmo quando residissem distantes dos "centros" urbanos das grandes cidades. Isso estimulou o movimento de surgimento de novos pequenos municípios, com receitas minimamente asseguradas, provenientes, no mínimo do FPM - Fundo de Participação dos Municípios, valores coletados pela União Federal obrigatoriamente repassados aos municiípios segundo regras legalmente aprovadas no Congresso Nacional. Tais recursos direcionados aos novos municípios foram essenciais (e continuam sendo) para estruturar as redes municipais de educação, de saúde, de assistência social, etc. Os novos munic[ipios tem, além do FPM, participação nos impostos estaduais, e a possibilidade de estruturar seus próprios impostos municipais, como o IPTU. Parece errado explicar que os municípios sobrevivem com os impostos, mas no caso dos novos municípios, essa estruturação assegurou desconcentração de recursos, melhorando os indicadores de qualidade de vida em todo o território nacional, quando se comparam as situações atuais frente às situações dos antigos distritos, mesmo em cidades que já no passado eram ricas, mas que não destinavam valores adequados aos distritos. A nova cidade em breve começará a colher os primeiros resultados dos meses de administração autônoma. Com pouco menos de 4 meses de administraçao própria, ainda é muito pouco tempo para querer já resultados expressivos, mas certamente ainda neste ano algumas melhorias a população local já começará a observar. Ressalte-se que o antigo governo Bolsonaro, na proposta do seu ministro Paulo Guedes, pretendia exitnguir milhares de municípios que eles consideravam que não tinham "arrecadação própria", em uma conta que, desafiando a Constituição de 1988, não considerava que os recursos do FPM, ainda que arrecadados pelo governo federal, é "receita própria" dos municípios, mesmo quando recebidos por transferência federal. Para simplificar a compreensão: seria como se o salário do trabalhador, recebido de uma empresa, na conta salário, por exemplo, não fosse considerado como receita própria do trabalhador, já que a empresa a obteve ao vender produtos para seus clientes. Não. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que os valores do FPM são receita própria dos municípios e não podem ser impedidos de chegarem aos moradores dos pequenos municípios. Nem deveriam ter sido bloqueados de serem destinados aos distritos, pelas prefeituras, antes da emancipação. Mas, péssimos prefeitos, faziam isso. Então, parabéns aos moradores do novo município. Que sua cidade possa se estruturar e crescer, melhorando a qualidade de vida das pessoas.
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  • pedro

    Segunda-Feira, 07 de Abril de 2025, 10h30
  • Vai ficar pior ainda pra este bolsonarista inelegível, Lula ate 2030, agora ser humilde cabe em qualquer lugar, basta querer, se não continua a comer capim e o que fazem os bolsominios.
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  • Pedro Cesar França

    Segunda-Feira, 07 de Abril de 2025, 07h52
  • Gostaria muito de saber o que tem haver cidade de direita com o que está acontecendo no crescimento da cidade, politicas publicas tem que ser feita ai lá na baixada cuiabana onde por exemplo cidades da esquerda e uma m.... com o perdão da palavra, não tem nada haver com cardapio de restaurante, tem haver com diploma e conhecimento igual de vcs jormalistas tendenciosos, ao invés de fazer uma matéria seria , ate nisto vem fazer matéria esquerdopata, que nojo, de verdade que nojo.
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  • Nada de anormal

    Domingo, 06 de Abril de 2025, 21h52
  • Nada diferente dos milhares de municipios brasileiros quando iniciaram. Eu fui pioneiro em tres deles. Novo Horizonte do Norte . Tabaporã e Terra Nova do Norte. Era assim mesmo agora tudo esta caminhando bem.
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  • José Antônio Xavier

    Domingo, 06 de Abril de 2025, 10h58
  • Pois é o orgulho é grande não querem ajuda do governo Lula ai fica esperando o Bolsonaro inelegível arrotando grosso só lamento.
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