O Pantanal mato-grossense foi utilizado como principal argumento de Cuiabá para sediar a Copa do Mundo de 2014, assim como foi a Amazônia para Manaus (AM). A ironia é que o local que menos recebeu investimentos públicos foi o bioma. Os empresários de pousadas de Poconé, um dos principais destinos de estrangeiros e de brasileiros que se interessam em conhecer a maior planície alagada do mundo e seu ecossistema, estão tendo que se virar sozinhos para fazer a obrigação do estado e se manter com as portas abertas e receber turistas em um padrão de qualidade internacional.
O proprietário do Hotel Porto Jofre Pantanal Norte, Jamil Costa, lembra que durante o governo de Blairo Maggi havia uma parceria público privada entre o hotel e o Estado para a recuperação dos 147 km da rodovia MT-060, a Transpantaneira que liga Poconé a Porto Jofre. Contudo, com a mudança no comando do Paiaguás, a parceria foi esquecida, bem como os investimentos num dos principais corredores do ecoturismo do Estado.
‘Quando vi que há 30 dias de abertura da temporada da pesca, com o fim da piracema em 28 de fevereiro nada tinha sido feito, eu mesmo resolvi colocar dinheiro meu e recuperei com meus recursos próprios 18 pontes. Se não fizesse isso os turistas não iam chegar em minha pousada e eu teria prejuízos’, explicou o empresário.
Ele disse que gastou R$ 82 mil com a restauração das pontes de madeira e a cabeceira das pontes. A mão-de-obra foi dos próprios funcionários do hotel. ‘Demos uma melhorada na estrada de Pixaim até Porto Jofre (cerca de 80 km). Estamos fazendo isso há muito tempo porque o Estado não dá a devida atenção ao pantanal. Sinceramente, eu não sei o que passa na cabeça desses governantes’.
A Transpantaneira tem 122 pontes, apenas duas delas são de concreto. Algumas estão com madeira apodrecendo, outras as laterais estão sem madeiramento, o que causa insegurança a motoristas e turistas. Alguns chegam a pedir para descer da van com medo de cair na água. Durante a seca, a alta temporada das pousadas, dá para se evitar o uso das pontes passando ao lado delas, pelos desvios. Contudo durante a cheia que vai até maio, os desvios estão cobertos de água.
Alguns pontos quando chovem ficam com até 200 metros de extensão da Transpantaneira debaixo de água. A gerente do Pantanal Mato Grosso Hotel, Rosane Inês Kuhslen, disse que a iniciativa privada é quem acaba investindo na região. ‘É uma pena que o pantanal foi deixado de lado. Na época das cheias as pessoas ficam atoladas e estamos no período de temporada da pesca, o movimento poderia ser melhor se o governo prestasse mais atenção na região’.
Dos cerca de 20 mil turistas esperados para desembarcar em Cuiabá para a Copa do Mundo 60% são estrangeiros e 25% de outros estados e apenas 10% locais. Os dois primeiros jogos vão atrair mais estrangeiros.
Pontes e estradas
Donos e funcionários de pousadas que estão todos os dias vivendo os transtornos de uma estrada que vez ou outra é realizada a manutenção. A cobrança é uma só: levantar a estrada, colocar cascalho e trocar pontes de madeira por concreto. O governo havia prometido fazer isso pensando na Copa do Mundo, mas nada foi feito ainda.
O guia de turismo da Pousada Araras Pantanal Eco Lodge, Edson Silva, classificou como uma irresponsabilidade atrair mais visitantes para a região, sem se preocupar em melhorar a infraestrutura. O Estado teve todo o período da seca para recapear a rodovia MT-070, que liga a capital a Poconé, mas começou o trabalho somente agora. A frente de trabalho sai de Poconé com direção ao trevo com a BR-070, com destino a Cáceres.
‘É uma vergonha atrair mais pessoas, vender essa imagem de Copa do Pantanal e não dar infraestrutura,colocando as pessoas em risco nessas estradas sem condições de tráfego decente’. A recepcionista e coordenadora da Araras Pantanal Eco Lodge, Ingrid Grahn, disse que a Ultragas, que abastece a pousada com gás industrial, está impedida de passar com os caminhões carregados com os botijões pelo posto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) na entrada da Transpantaneira.
‘A Sema barrou a nossa entrega e de muitas outras pousadas. Não arrumam a estrada, ela fica perigosa, a ponte com risco e por isso a entrega não pode ser feita. Por isso, as pousadas têm que ter o gasto de ter que comprar gás de cozinha, com despesa maior de locomoção por um problema criado pelo próprio Estado’.
Mea-culpa
O titular da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa), Maurício Guimarães, fez um mea-culpa durante a sabatina, no dia 12 de março, na Assembleia Legislativa, e assumiu que o setor do Turismo não foi tão eficiente nos trabalhos para a Copa do Mundo. ‘Não fomos tão bem. Tínhamos que ter trabalhado com mais firmeza para preparar os equipamentos turísticos, tenho que fazer um mea-culpa porque os trabalhos deveriam estar adiantados’.
O deputado da oposição Dilmar Dal Bosco (DEM) falou que o Estado deve passar vergonha. ‘Foi uma irresponsabilidade vender Nobres, o Pantanal, Chapada e deixar as rodovias assim e largado o setor’.
A assessoria da Secretaria Estadual de Turismo (Sedtur) disse que foi licitado em fevereiro R$ 12 milhões para a substituição de 118 pontes de madeira por pontes de concreto, contudo as obras devem iniciar no final do mês ou início de abril. Todavia, elas não fazem parte do pacote de investimentos da Copa do Mundo e o trabalho deve ser concluído no final do ano.
A Secretaria de Transportes e Pavimentação Urbana (Setpu) deve começar a recuperar os trechos mais críticos da Transpantaneira ainda antes da Copa do Mundo.