Reeducandos da Cadeia Pública de Canarana (823 km a leste de Cuiabá) revelaram talentos que nunca haviam sido aflorados em cursos de artesanatos. Três ex-presos que fizeram curso de sabão em junho do ano passado já montaram uma pequena fábrica em Ribeirão Cascalheira e estão vivendo do ofício.

A juíza Caroline Schneider Guanaes Simões, da 2ª Vara e responsável pelos processos de Execuções Penais, conta que para os presos não é fácil voltar ao mercado de trabalho após o cumprimento da pena, porque o preconceito é muito grande na sociedade, no comércio e meio empresarial. Por isso, os cursos oferecidos na cadeia são uma alternativa de sustento imediato até que eles consigam trabalho de carteira assinada.

A assistente social Regina Akemi Kido Alves destaca que a dificuldade da reinserção na vida em sociedade é ainda maior em cidade pequena. “Aqui todo mundo se conhece e o que se faz de errado todo mundo fica sabendo”, observa.

Além disso, a juíza destaca que todo curso oferecido é muito importante para o próprio bem-estar e satisfação pessoal “porque ajuda a afastar a pessoa do crime e a ocupar a cabeça com coisas saudáveis e positivas”. “Eles ficam mais motivados, porque é uma forma de interação fora das celas”, acrescenta a assistente social. Eles também melhoram o comportamento no ambiente do cárcere, porque este é um dos requisitos para poder participar das formações.

Os cursos ministrados pelo Senar são contratados com recursos advindos das transações penais pecuniárias, ou seja, com aquele dinheiro oriundo do pagamento de multas fixadas nas condenações.

Próximos Cursos

O próximo curso que será oferecido na Cadeia de Canarana será o de Aproveitamento de Resíduos de Madeira na Confecção de Utensílios. Ele será realizado em meados de abril. Os participantes aprenderão a fazer porta-retratos, colheres e outros materiais de uso doméstico e decorativos. Já em meados de maio será o curso de “Alfabetização de Jovens e Adultos”. Para todas as capacitações são 15 vagas.

O último curso ministrado foi o de Pintura em Tecido, entre os dias 17 e 21 de março. O rendimento dos alunos impressionou os organizadores, principalmente por serem homens e nunca terem pegado em um pincel. “Os guardanapos ficaram lindíssimos! E todos aqui no fórum querem comprar”, conta Regina.

Os produtos ainda não chegaram a ser comercializados, mas a ideia é que parte do dinheiro arrecadado vá para a família dos presos, parte fique com eles para o custeio deles na cadeia e a terceira parte seja depositada para que eles retirem quando ganharem a liberdade.

São parceiros do Judiciário na ação o Conselho da Comunidade, o Sindicato Rural e a Cadeia Pública sob gestão do Governo do Estado, onde estão internados 51 em regime fechado e oito albergados.