A etapa terrestre do Projeto Ribeirinho Cidadão será iniciada a partir desta quinta-feira (6 de março) nas comunidades de Sangradouro, Garimpo do Jatobá, Lambari, Ribeirão da Estiva, Lajes e Vila dos Mendes, no Município de Poconé (distante 104km a sul de Cuiabá). Até o momento cerca de três mil pessoas foram atendidas em dezenas de localidades e vilas espalhadas ao longo da região Pantaneira, que abrange ainda os Municípios de Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger.
“Até agora obtivemos sucesso, tendo em vista os anseios da população por melhores condições de vida, saúde e educação, princípios para o verdadeiro resgate da cidadania e dignidade. Esse ano, com a ajuda da Marinha do Brasil, nosso público, de maneira geral, foi muito mais atingido, uma vez que dividimos responsabilidades médicas e odontológicas”, ponderou o juiz auxiliar da Corregedoria José Antônio Bezerra Filho.
Os principais serviços oferecidos pela expedição envolvem atendimento médico e da Justiça. Uma pequena cirurgia foi realizada para a extração de um objeto que se alojou no olho de um dos ribeirinhos. A situação perdurava por cerca de três meses e os oftalmologistas obtiveram sucesso. Já a Justiça realizou dezenas de casamentos e resolveu situações que se arrastavam há anos.
Um dos casos que chamou atenção foi a disputa pela guarda de uma criança de dez anos por parte das duas avós. O menino mora na comunidade de São Pedro de Joselândia, mas quem detém a guarda oficialmente é a avó paterna, que mora em Poconé. O juiz José Antônio e o defensor Air Praeiro conduziram a conciliação, que terminou com a decisão judicial pela guarda compartilhada.
O menor manifestou o desejo de permanecer na comunidade, mas a avó paterna disse que tem família na localidade e que poderá fazer visitas periódicas para estar ao lado do neto. “Eu trabalho com a venda de doces e salgados e sempre fiquei um pouco cá e outro pouco lá, mas agora vou ficar mais cá que lá. Estou feliz com o resultado das conversas. Brigar não adianta, o que importa para mim é ele estar feliz”, manifestou a avó paterna, Sandra Luíza da Silva de Moraes. “Em virtude de os pais biológicos do menor se encontrarem em local incerto e não sabido, a guarda recai para as acordantes e a decisão foi tomada obedecendo o direito de liberdade do menor”, explicou o magistrado.
Algumas comunidades ficam ilhadas boa parte do ano, mas as dificuldades de acesso são superadas pelo sorriso do ribeirinho e um cenário que a natureza proporciona. “Participo desse projeto há vários anos, fui uma das pessoas que tomou a iniciativa nos idos de 1999, quando ainda era juiz da Comarca de Poconé. Eu conheço a realidade dessa população e para mim é uma grande satisfação poder participar dessa equipe maravilhosa e doar um pouco de amor a essa população sofrida”, concluiu o juiz José Antônio.
A programação segue ainda nesta sexta-feira (7 de março), quando os atendimentos serão realizados na Agrovila das Palmeiras. No sábado, nos assentamentos Pontal da Glória e Santana do Taquaral, e no sábado e domingo na Reserva Indígena Gomes Carneiro.
Dezenas de serviços são oferecidos, como a concessão de aposentadoria do INSS, clínica médica geral e palestras educativas sobre preservação ambiental (Juvam). São parceiros na ação: Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Defensoria Pública, Assembleia Legislativa, TRT, TRE, Ministério Público, Secretaria Estadual de Segurança Pública, Secretaria de Saúde e Secretaria de Meio Ambiente, Prefeitura de Barão de Melgaço e Banco do Brasil.