A Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça concedeu liberdade à advogada Mayana Camargo da Silva, suspeita de fazer parte de um “escritório do crime” em Alto Boa Vista (1.085 Km de Cuiabá). Ela e uma “estagiária” de advocacia cobravam propina de pessoas detidas pela PM – que também fazia parte do esquema.
Os magistrados da Segunda Câmara seguiram o voto do desembargador Rui Ramos, relator de um habeas corpus ingressado pela advogada contra a sua prisão. O acórdão (decisão colegiada) foi publicado na última sexta-feira (15).
No voto, o desembargador Rui Ramos revelou que a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) se manifestou de forma favorável à liberdade e que já havia uma ordem de substituição da detenção pela prisão domiciliar. No mês de julho de 2023, o desembargador Rui Ramos julgou um outro habeas corpus em favor da “estagiária” de Direito, Elsa Gama da Silva, que também era do bando.
No julgamento, foi revelado que ela e a advogada Mayana Camargo da Silva foram “trazidas” do município de Barra do Garças (501 Km de Cuiabá) para colocar em prática o esquema em Alto Boa Vista. Conforme as investigações da Polícia Judiciária Civil (PJC), a dupla ficaria de “prontidão” num hotel em Alto Boa Vista, e até mesmo dentro de uma unidade da Polícia Militar do município, comandada pelo sargento PM Kaime Costa Fonseca.
Suspeitos de infrações menores, levados pelos policiais militares, sofriam chantagem e extorsão para pagamentos em dinheiro em troca da liberdade. As investigações revelam ainda que a “estadia” no hotel era paga por agentes públicos da prefeitura de Alto Boa Vista, entre eles o ex-vereador Telmo de Almeida Santos, que até 2021 ocupava o cargo de chefe de gabinete.
A organização criminosa mostrou audácia em suas ações, tendo em vista que até mesmo o filho de uma secretária municipal, detido por dirigir sem CNH, também foi vítima da extorsão. O desembargador citou um caso em que foi cobrado R$ 4,5 mil para “liberar” uma pessoa “trazida” pelo sargento Kaime Costa Fonseca.
Caso negassem o pagamento, o detido era "encaminhado" à Polícia Judiciária Civil (PJC) para formalizar o boletim de ocorrência de forma convencional. Rui Ramos avaliou que os suspeitos fazem parte de um “escritório do crime”. “Para cooptar clientes desse escritório do crime, ela tinha acesso privilegiado aos sistemas da Polícia Militar”, revelou o desembargador.
O processo continua tramitando no Poder Judiciário Estadual.