Nos últimos cinco anos, o número de diagnósticos de câncer em Mato Grosso aumentou 71,3%, saindo de 2.839 casos em 2019 para 4.866 casos em 2024. Esse crescimento reflete o aumento na incidência, com os tipos mais frequentes sendo mama (3.373 casos), pele (2.429), próstata (2.395), útero (1.887) e cólon (1.365). O Estado também apresenta dados preocupantes em relação à mortalidade que nos últimos cinco anos chega a 4.590 mortes.
O ano de 2024 foi o mais críticos, com 844 óbitos. Mesmo com a alta nos números, pacientes com câncer em Mato Grosso relatam atrasos no diagnóstico e no início do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 51,3% iniciam a terapia oncológica no prazo ideal de até 30 dias após o diagnóstico. Outros 15,9% começam entre 30 e 60 dias e 32,3% apenas depois de dois meses.
Quem precisa do SUS aponta que um dos principais gargalos está na atenção primária, porta de entrada do SUS e responsável pelas primeiras suspeitas, triagem e encaminhamentos. Quando bem estruturadas, as unidades básicas de saúde desempenham papel fundamental na detecção precoce do câncer, o que pode acelerar o início do tratamento e aumentar as chances de cura. No entanto, em Mato Grosso a falta de profissionais capacitados, de recursos e de agilidade tem contribuído para diagnósticos tardios e atrasos no atendimento oncológico, até mesmo na própria Capital.
A técnica de enfermagem Anna Eliza de Oliveira Silva Leite, 40 anos, é um exemplo. Em fevereiro de 2022, ao sentir um nódulo no seio, procurou o posto de saúde do bairro Jardim Leblon, levando exames preventivos feitos três meses antes. Segundo ela, a médica não realizou exame físico. “Ela olhou os exames, disse que não era nada e me passou uma vitamina”. Com histórico familiar de câncer e conhecimento da área da saúde, ela buscou uma mastologista particular e realizou todos os exames. O diagnóstico de câncer de mama foi confirmado em maio e o tratamento pelo SUS começou apenas em julho, cerca de seis meses após os primeiros sintomas. Nesse tempo, o tumor evoluiu de 3 para 5 centímetros. Anna passou por quimioterapia, cirurgia de quadrantectomia e radioterapia, e segue em tratamento.
A moradora de Campo Verde, Fabiane da Silva, 46, também enfrentou dificuldades na rede básica. Com sintomas de fraqueza e dores no corpo, recebeu diagnóstico inicial de dengue. Só após mais de duas semanas e agravamento do quadro, exames confirmaram leucemia em estágio 4.“No caso da leucemia o avanço é muito rápido. Foi tempo demais”, avalia.
Oncologista Marcos Rezende destaca que falhas na triagem inicial impactam diretamente o sucesso do tratamento. Para ele, campanhas de conscientização e treinamentos periódicos para profissionais da atenção básica são essenciais para acelerar os diagnósticos. “Essas ações não apenas informam a população, mas também ajudam a manter os médicos atentos aos sinais da doença”, afirma.
A demora frequentemente atribuída à pressão sobre a infraestrutura do sistema, que não consegue acompanhar o aumento dos diagnósticos, também está ligada à demora para exames necessários. Oncologista Marcos Rezende afirma que para determinados tipos de câncer, como o de mama, de útero, de pulmão, por exemplo, a principal falha no sistema ainda consiste na realização de exames complexos e biópsias, que em alguns casos pode levar até 6 meses.
“O problema do SUS em relação ao câncer ainda está na demora para realização de exames como ressonância, biópsia, cintilografia, que são exames que se não são feitos de forma particular, acabam atrasando o início”.
PENSADOR
Segunda-Feira, 04 de Agosto de 2025, 10h36