Nesta quinta-feira, 30 de novembro, a Galeria Arto, em parceria com o Labirinto Espaço Criativo, abrirá a exposição Mapas de Calor: Arte Digital em Altas Temperaturas, com obras de artistas que enfrentam o desafio de produzir arte digital na capital mais quente do país. São cerca de 35 trabalhos mediados a partir de processos computacionais, apresentados em telas, projeções e impressões fine art. A seleção traz técnicas como modelagem 3D, pintura digital, animação digital, videoarte, instalação, arte sonora e inteligência artificial. A abertura será às 19h e a entrada é gratuita.

Entre os artistas estão Amanda Homem, Gora, Tamii, Igor Modolon Souza e Renato Medeiros, que também é pesquisador em Arte e Tecnologia e assina a curadoria do projeto. Além disso, participa Lorena Ferreira, artista de Alto Araguaia (MT) indicada ao Prêmio Pipa 2021, um dos mais importantes da arte contemporânea brasileira. A mostra coletiva ainda destaca o legado da artista visual Regina Pena, morta em 2020 e uma das precursoras da arte digital no estado.

O projeto curatorial convida o público a refletir sobre os impactos ambientais das tecnologias digitais, por muito tempo celebradas como símbolos de modernidade e progresso. Esses impactos são frequentemente negligenciados, apesar dos hábitos online não serem tão inofensivos quanto parecem. O uso dessas tecnologias também contribui para o aquecimento global e, nesse contexto, a montagem da exposição torna-se pertinente em Cuiabá, que enfrenta regularmente temperaturas acima dos 40°C, com recordes batidos anualmente.

Contudo, as tecnologias digitais também podem oferecer ferramentas para expressar e compreender as mudanças climáticas. Para o curador, Renato Medeiros, essa é uma relação conflituosa: “estamos cada vez mais dependentes dessas tecnologias e habituados à sua comodidade, mas é preciso ir além da idealização e do entusiasmo com as inovações”. Para ele, o aquecimento global é uma realidade inegável, que se agrava com as queimadas, a especulação imobiliária e as disputadas fundiárias no interior do estado, temas que estão no mapeamento dos artistas, repercutindo os efeitos do calor extremo.

O curador considera essa discussão inevitável, sobretudo no campo da Arte e Tecnologia. “Mato Grosso ainda tem muito a crescer nesse circuito artístico e estamos apresentando artistas com uma produção digital considerável. Então é fundamental lembrar ao público e a nós mesmos sobre a importância de minimizar esses impactos em nossas práticas digitais cotidianas, especialmente em cidades como Cuiabá.”, afirma Renato. 

Arte e Tecnologia

É possível considerar como arte digital toda prática artística de caráter experimental que utilize tecnologias computacionais como seu meio de produção, armazenamento, apresentação e difusão. Trata-se de uma vertente da arte contemporânea inserida na chamada Arte e Tecnologia, que é um campo interdisciplinar que dialoga diretamente com o desenvolvimento científico e tecnológico, podendo envolver também outras áreas não necessariamente digitais, como a genética ou a mecânica. Atualmente, esse é um setor em expansão na economia criativa.

A origem dessa exposição, inclusive, está na identificação de artistas presentes em Cuiabá, atuando em mercados emergentes como os NFTs e o mercado de impressão fine art, setores em ascensão em várias partes do mundo. Com isso, diante desse potencial, o senso de oportunidade precisa andar lado a lado com o senso crítico, para que seja possível criar imaginários de futuro com condições climáticas mais amenas e práticas sociais mais sustentáveis em Mato Grosso.