Mais que uma pista de apresentação composta por luzes neon, globo espelhado e passos de dança, a cultura Ballroom é um movimento político que celebra a existência de pessoas marginalizadas, entre elas, a comunidade LGBTQIAPN+. Recém-chegada em Mato Grosso, essa cultura tem ganhado destaque cada vez maior, sendo uma das atrações da 21ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+.
Nascida nos subúrbios de Nova York e se fortalecendo a partir da década de 60, o movimento mescla entretenimento e política, onde os participantes são majoritariamente pessoas negras, trans e não binaries. Muito presente na cultura pop, o ballroom é retratado em produções audiovisuais contemporâneas, como a série “Pose” e o reality show “RuPaul’s Drag Race”, que fazem referência e remontam a história do movimento.
Alguns termos vindos do inglês são mantidos na comunidade, é o caso das “houses”, casas que abrigam os participantes que disputam as “balls”, que são os bailes com apresentações artísticas. Aghata Brown, 30, que faz parte da casa Brown, contou um pouco da sua relação com a ballroom.
Ela narra que o primeiro contato foi em conversa com um amigo, que já vivenciava essa cultura no Rio de Janeiro e se movimentava para implementar a ballroom no estado. “E a gente sentou no meio-fio e começou a falar sobre isso e, de repente, na semana seguinte já estávamos com treino de vogue nas praças”, relembra a performer, ao citar as apresentações de voguing, dança com passos inspirados nas poses de modelos da revista Vogue, que se popularizou e ganhou até música e clipe da cantora Madonna.
Agatha relatou que, após muito esforço da comunidade, um projeto foi aprovado por meio de edital público, possibilitando assim a primeira ball em Mato Grosso e desde então alguns encontros acontecem, sempre com muita celebração. Ela destaca que apesar do movimento ser recente e independente, a coletividade é fator principal, com as casas fomentando além dos bailes, oficinas de voguing.
“A minha vida só existe por causa da minha vida dentro da comunidade ballroom e da minha house”, afirma Aghata, mulher trans que vê na ballroom um espaço seguro de acolhimento. Ela destaca o movimento como um espaço para celebrar múltiplas vivências e realidades, o que é chamado de “Realness”. “Para mim, foi uma forte rede de apoio para poder lidar com minhas questões”, finaliza a performer.
A cena mato-grossense
A cultura ballroom é difundida no Brasil há cerca de 11 anos. Em Mato Grosso ela ainda completará 2 anos em 2024, narra Milo Dândi. Ele é 007, pessoas que não têm uma casa dentro da comunidade, mas fomentam a cena da mesma forma.
House Mansão Flor de Lis, House of Brown, House Of Fauth, Casa de Mandacaru e Casa de Laffond são algumas casas citadas por Dândi, homem trans e um dos precursores do movimento em Mato Grosso.
A comunidade ballroom se prepara para um primeiro encontro ao ar livre para um grandioso público, que ocorrerá neste sábado (29), na 21ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Mato Grosso. Milo contou sobre as expectativas para o evento, que terá um baile que abordará o HIV.
Com o nome de positHIVa, e encontro busca combater a desinformação sobre o tema, além de celebrar e desmistificar as vivências de pessoas soropositivas.