Quantos filmes pornôs você já assistiu nos quais a menstruação era naturalizada? Salvo aqueles vídeos voltados para a menofilia, que é o fetiche por sangue menstrual ou por mulher menstruada, poucas vezes você verá a indústria retratando o período natural de toda mulher. E na vida real, quantas pessoas sentem nojo e até deixam de ter relações sexuais durante a menstruação?
O sangue menstrual vem sendo estigmatizado há anos na sociedade. É um dos maiores tabus que existem quando se fala em sexo. Mas isso está mudando. Isso porque a diretora feminista europeia, Erika Lust, está trabalhando para trazer representatividade ao tema. Em declarações ao portal inglês Metro ela afirmou que a menstruação não é retratada na pornografia por um motivo simples: censura. E também porque as pessoas não querem ver o sangue menstrual. Ela reforça que a sociedade traz para o sexo o retrato do que vivemos.
Na visão da sexóloga Luisa Miranda, é preciso normalizar os corpos: “A maneira como lidamos com o sexo, reflete o que vivemos no cotidiano, temos que lembrar que estamos fazendo sexo com pessoas e naturalizar o corpo humano”, defende.
Para Marcella Maretti, psicóloga e sexóloga da Share Your Sex,o fato da menstruação ser poucas vezes retratada em filmes pornográficos reforça o tabu e a ideia de que é algo indesejável na relação sexual: “O mesmo não acontece com o sêmen, que é extremamente exaltado e presente nas pornografias. O que reflete o machismo de nossa sociedade”, compara.
Escondendo a menstruação
Para se ter uma ideia de como funciona na prática, quando uma atriz está menstruada ela cancela as gravações ou esconde o sangue. A pornstar brasileira Mia Linz, de 29 anos, conta que não abre mão de gravar estando no período, diferente de outras atrizes brasileiras que preferem desmarcar as filmagens: “Eu gravava mesmo menstruada, pois viajava fazendo turnês, e ficar uma semana parada gera prejuízo”, relata. Fora do Brasil é comum as pornstars esconderem a menstruação para gravar.
A atriz e camgirl do Sexy Hot conta que desconhece filmes com cenas que mostrem a menstruação: “Quando estava no período, eu utilizava uma bolinha de algodão com lenço umedecido para esconder o sangue. Retirava os resíduos do lenço para não tirar a proteção íntima e gravava as cenas. Nem comunicava ao ator e diretor sobre o período”, explica.
Pornô feminista
A ideia da diretora Erika Lust é retratar o sexo em uma luz realista e positiva que desafia as mensagens muitas vezes derivadas da pornografia convencional. Um exemplo é o novo filme Three, no qual a atriz Gia Green faz sexo durante a menstruação e até brinca com seu sangue enquanto se masturba. A proposta da diretora era deixar o sangue menstrual fazer parte da cena. Ela classificou a experiência como libertadora: “Acabou sendo um dos momentos mais bonitos e estimulantes que já filmei”, declarou.
Para ela, apesar dos progressos que já tivemos em relação ao sexo, a menstruação é provavelmente o maior tabu dos assuntos desse universo.
Benefícios
Apesar do longo caminho a percorrer para normalizar o sangue menstrual em todas as facetas da sociedade, o filme feito pela diretora vem para desconstruir o que estamos acostumados: pornô feito por homens para outros homens.
Vale ressaltar ainda, que o sexo durante a menstruação, além de natural, traz benefícios. A sexóloga Marcella Maretti, lembra que a menstruação pode ser um excelente lubrificante natural, o que faz com que a relação seja mais prazerosa tanto para o homem, quanto para a mulher. E ressalta a importância de não se descuidar do preservativo já que se um dos parceiros tiver qualquer infecção ou doença sexualmente transmissíveis, o contágio pode ser facilitado.