O maior legado nem sempre é a terra, mas sim, o tempo vivido juntos. Ele se constitui através da memória de uma criança ajudando o pai a apertar parafusos ou olhando a chuva cair sobre as plantações, e a escolha consciente de honrar o caminho percorrido por quem veio antes. Em Tapurah, esse caminho está bem traçado na família do delegado de núcleo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), Telmo Souza de Liz, de 51 anos. Há 17 anos o produtor rural trocou Santa Catarina pelas terras mato-grossenses e hoje vê seu filho mais velho, Lucas Andrei de Liz, de 22 anos, cursando agronomia e assumindo, aos poucos, a liderança da fazenda.
A história de sua família com a agricultura é longa. Telmo conta que, desde o início, desejava ver os filhos seguindo seus passos. Natural de Santa Catarina, ele se mudou para Mato Grosso aos 34 anos, com a esposa Luciane e os dois filhos pequenos, Lucas, então com cinco anos, e Bruno, com três. “Vim para cá com a família em busca de crescer, de ter mais oportunidades. Já tínhamos agricultura lá em Santa Catarina, mas aqui era onde tudo estava se expandindo. A gente ouvia falar das grandes áreas em Mato Grosso, era um sonho e acabamos vindo nós quatro”, relembra Telmo.
Mesmo com raízes fortes em Santa Catarina, onde a família mantinha propriedades, plantava soja e criava gado, foi em Tapurah que o projeto de vida se concretizou. “A gente começou pequeno. O Lucas era um guri ainda, tinha cinco para seis anos, mas já me acompanhava em tudo, ficava comigo no caminhão, na colheitadeira e dormia ali mesmo. Eu dava cinco viagens no armazém e ele ia junto às cinco. Eu sempre pensei na sucessão e hoje isso está se realizando”, afirma Telmo.
Lucas conta que cresceu na lida, sempre perto do pai, mesmo quando não ajudava diretamente, e que foi a curiosidade e a vontade de aprender que o conectaram com a agricultura. “Desde pequeno eu sempre gostava muito de estar ali junto, ajudando. Não vou dizer que trabalhava, mas ajudava um pouquinho. Acho que já foi um negócio que estava meio decidido, por sempre estar ali junto”, conta. A decisão de Lucas de retornar à propriedade após um breve período no sul, onde cursou parte da formação militar, selou de vez o compromisso com o legado familiar. “Mesmo tendo oportunidades fora, decidi voltar. Aqui com a família eu já via uma grande oportunidade e eu acreditava muito nisso”, salienta.
Ao longo do tempo, Telmo foi preparando o filho, ele conta que Lucas sempre o acompanhava nas viagens de caminhão, nas operações com colheitadeiras e tratores, muitas vezes dormindo no chão das máquinas, mas sempre por perto. Hoje, parte da área já está no nome de Lucas, que assume não só a lida no campo, mas também a gestão financeira, a comercialização e a responsabilidade de fazer o negócio evoluir.
Lucas reconhece o papel decisivo da educação e da convivência familiar em sua escolha. Para ele, ser produtor rural é mais do que uma profissão. “Não tem coisa igual do que você trabalhar no campo, ter o contato direto com o solo, com a natureza, com a chuva. É algo muito gratificante, eu acredito que seja algo muito divino. Todas as coisas que acontecem no campo estão ligadas à natureza e a natureza está diretamente ligada com as coisas de Deus. É algo que dificilmente você vai reparar morando na cidade, mas no campo você repara direto, porque é algo que está ali na frente dos seus olhos”, acrescenta Lucas.
No fim, o que permanece é o amor pela terra, o respeito pela natureza e a união da família em torno de um propósito maior, a produção de alimentos. A história de Telmo e Lucas de Liz é mais uma prova que o verdadeiro legado se constrói com exemplo e assim seguirá florescendo, geração após geração.