Quinta-Feira, 20 de Fevereiro de 2014, 10h04
Louremberg Alves
Verdades e mitos na política - I

Louremberg Alves

\"Louremberg\"

 

As páginas da história político-eleitoral mato-grossense, assim como as de todas as demais unidades da federação, e desta própria, estão repletas de mitos. Estes, não no sentido de “relatos fantásticos” “acerca dos tempos heroicos”, mas como “afirmação fantasiosa” disseminada com fins “propagandísticos”. 

Objetivos que se revelam com o avanço das pesquisas, das análises e da montagem das peças componentes dos cenários políticos existentes. Castelos – criados pelas vontades de alguns –, então, se transformam em punhados de areia, sem qualquer serventia. 

Pelo menos é assim para quem se preocupa em buscar sempre a interpretação dos fatos, mesmo diante da forte atração que exercem os jogos de palavras, até porque todo o dito no campo político deve ser tomado tanto pelo que ele diz quanto pelo que não diz, e jamais ser entendido como resultado de uma estratégia única, pois o enunciador – independentemente de quem seja - está longe de ser soberano. 

Nesse sentido, em razão do tamanho deste espaço, cabe dizer de pronto: é fantasiosa a frase de que udenistas e peessedistas não passavam ao mesmo tempo pela mesma calçada, tal como igualmente é fantasiosa a assertiva de que o PSD e a UDN nunca foram parceiros. Um documento, cuidadosamente depositado no IHGB, derruba facilmente os referidos relatos. Pois o tal documento traz à luz as diretrizes de um acordo nacional político-partidário do período 1946-1951, durante o governo do cuiabano Eurico Gaspar Dutra, e que envolvia todos os partidos políticos existentes.

Por outro lado, vale acrescentar, eram comuns as presenças de filiados desses dois partidos, lado a lado, nas cerimônias de posse dos membros eleitos da Comissão Executiva do Diretório Municipal do PTB, por exemplo. 

Também era frequente à migração partidária, e coisa alguma acontecia com os chamados vira-casacas, nem mesmo manifestações de repúdio por parte do eleitorado, como alguém poderia dizer. Ao contrário. Aliás, Augusto Mário, grande liderança da UDN, entrou para o tablado da política pelas mãos do PSD, partido pelo qual foi eleito vereador por Cuiabá. “Seu Fiote”, pai do Júlio e do Jayme Campos, filiou-se primeiro na UDN, e, imediatamente depois, se inscreveu no PSD do Filinto Müller, por meio do qual chegou à prefeitura de Várzea Grande. 

Existem, além disso, registros de coligações do PTB, UDN e PSD em vários momentos eleitorais nas cidades mato-grossenses. Situação que nunca ocorreu em Poxoréu e em Cuiabá, em função de desavenças entre integrantes de três ou mais famílias destes lugares, e que foram levadas à arena política. Desavenças, contudo, que não atrapalharam o entendimento entre deputados (menos os do PTB) na eleição de Jary Gomes e Waldir dos Santos, ambos do PSD, respectivamente, presidente e 1º. Vice-presidente da Assembleia Legislativa, em 1950. 

Entendimentos e acordos, claro, que não evitaram as disputas acirradas entre a UDN e o PSD (continua na sexta-feira). 

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista


Fonte: FOLHAMAX
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