Pedro Enzo e Raimundo Heitor eram dos mais animados entre os alunos da Escola Joanna Santos no dia 23 de julho. O motivo é simples. Eles receberiam uma visita ilustre: Igor Paixão, o atacante do Feyenord da Holanda, que alguns meses depois jogaria a primeira partida de Liga dos Campeões de sua vida - contra o Celtics, da Escócia, uma vitória por 2 a 0 em que ele perdeu um pênalti.
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Paixão, que hoje enfrenta o Atlético de Madri pela segunda rodada da Champions, foi morador do Quilombo do Curaú, localidade com 1800 habitantes a oito quilômetros de Macapá, no Amapá, como Pedro e Raimundo. E, se ele saiu dali, daquela escola, para o outro lado do mundo, é porque repetir o caminho é possível, não?
É o sonho de Raimundo Heitor, que abdicou de fazer uma pergunta para dar ao ídolo uma pulseira de presente. Para serem amigos. "É meu jogador preferido. Quero ser jogador também". Pedro Enzo preferiu perguntar se era verdade que Igor Paixão foi o único aprovado entre 40 crianças que participaram de uma peneira no Coritiba, há dez anos.
Saudado com o Hino Nacional, Igor respondeu a todas as perguntas. E deixou claro que não esquece de onde veio. "É importante saber de nossas raízes, não esquecer nunca. Tenho muito orgulho da minha nação quilombola e do meu estado do Amapá".
Enrolado na bandeira do Amapá, ele comemorou a conquista do título holandês pelo Feyenord na temporada passada. Foram sete pontos de vantagem na tabela de classificação, superando os rivais de sempre, Ajax e PSV.
A história de sucesso de Igor começou lá atrás e foi um sonho tanto dele quanto do pai, José Paixão. Tudo começou quando ele tinha sete anos, em 2007, na escolinha Zico10 e depois no campo do Careca. Começou a se destacar e foi fazer testes fora do estado. Esteve no Corinthians (passou na primeira fase) e no Flamengo (seu time de coração), mas tudo começou a dar certo mesmo em 2013, quando foi aprovado no Coritiba.
"Muita gente criticou meu marido, que largou até a faculdade para concretizar o sonho de Igor ser jogador. Fomos ajudados pelo meu sogro e pelo tio dele, nos deram recursos. Outras pessoas também ajudaram. E tudo deu certo", contou Irlane, a mãe de Igor, ao Diário do Amapá.
Em 2020, o garoto foi emprestado ao Londrina e foi um dos destaques do time que conseguiu o acesso para a Série B, com quatro gols em 31 jogos. O Coritiba o trouxe de volta em 2021 e Igor logo se tornou titular. Era a opção de velocidade que o time não tinha. Foram sete gols, cinco assistência e a conquista do acesso.
Em 2022, marcou o gol do título do paranaense, foi um dos melhores do Brasileiro, com quatro gols em 18 jogos no primeiro turno e acabou vendido. Saiu para o futebol holandês. Foi a maior venda da história do clube, 8 milhões de euros por 80 por cento, superou Rafinha, vendido ao Schalke, da Alemanha, por 5 milhões.
No início, a adaptação não foi fácil. "A parte física e tática é mais intensa na Europa, mas no fim, deu certo". O que valeu foi a amizade com Danilo, centroavante revelado pelo Santos e que está atualmente no Celtic. Na Holanda, Igor mora três meses com o pai e os três meses seguintes com a mãe. O revezamento é necessário porque eles não têm visto de trabalho.
A estreia foi em 8 de setembro de 2022 contra a Lazio, na Itália, pela Liga Europa. Entrou aos 41 do segundo tempo na derrota por 4 x 2. As dificuldades foram superadas e o primeiro ano na Europa teve 12 gols e sete assistências em 35 jogos. Promissor. Fez o último gol na vitória por 3 x 0 sobre o Go Ahead Eagles, que garantiu o título holandês após seis anos de jejum. Em agosto, foi convocado por Ramon Menezes para a seleção olímpica que enfrentou Marrocos.
Com o título holandês, o Feyenoord conquistou o direito de participar da Liga dos Campeões. Está em um grupo com Lazio, Celtic e Atlético de Madri. "É um sonho jogar a Champions League. A ficha ainda não caiu, mas vai dar certo."
A carreira é ascendente e, com certeza, em sua próxima viagem a Curiaú terá mais histórias para contar a seus fãs, seus iguais.