Quinze grandes empresários franceses que têm negócios no Brasil em setores variados se comprometeram a investir R$ 100 bilhões no país nos próximos cinco anos. A compromisso foi firmado em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris, na França, na sexta-feira.
Em coletiva de imprensa na manhã deste sábado, no horário de Paris, Lula procurou justificar suas viagens e sinalizou que há a possibilidade de um acordo com a França para a produção de helicópteros em unidade no Brasil.
— Estamos levando de volta para o Brasil o compromisso dos 15 maiores investidores franceses, que já têm empresa no Brasil, de nos próximos cinco anos termos um investimento de R$ 100 bilhões. Essa é a novidade — resumiu Lula, acrescentando:
— Se a gente somar os investimentos que nós conseguimos na China, se a gente somar os investimentos que nós conseguimos no Japão, nós vamos perceber que nós estamos fazendo aquilo que todo e qualquer presidente da República precisaria fazer pelo Brasil — afirmou.
A França é a terceira maior origem de investimentos diretos no Brasil. São US$ 66,34 bilhões em estoque. Em 2024, a corrente comercial entre Brasil e França atingiu US$ 9,1 bilhões, crescimento de 8% na comparação com o ano anterior.
Segundo o Planalto, a estimativa é de que mais de mil empresas francesas atuem no Brasil, com responsabilidade direta pela geração de 500 mil postos de trabalho. O presidente brasileiro acrescentou que o trabalho dele é abrir o diálogo entre os empresários brasileiros e estrangeiros para ampliar os negócios.
— O papel do presidente é abrir a porta e dizer para os caras: ‘Olha, está aqui as possibilidades, nós produzimos isso, nós oferecemos isso, o que você tem para nos oferecer?’, e fazer negócio. E foi isso que eu fiz aqui na França — completou.
Lula está na França desde o dia 5 de junho, na primeira viagem de um chefe de Estado brasileiro ao país em 13 anos. Na visita, foram aprofundados os 20 acordos bilaterais do Plano de Ação de Parceria Estratégica Brasil-França.
Helicópteros
Outro projeto discutido entre Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, é o de cooperação para produção de helicópteros na fábrica da empresa brasileira Helibrás, em Itajubá (MG). O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, comentou a iniciativa de usar a planta do Brasil.
— [Os] helicópteros que poderão servir às polícias estaduais, aos governos estaduais, poderão ser empregados pelas agências de saúde e também com objetivos de defesa e controle do meio ambiente. As instalações de Itajubá poderão ser também utilizadas para futuras exportações para outros países da região que tenham interesse — explicou.
Brasil e França assinaram ainda, na atual viagem, acordos bilaterais de cooperação para o desenvolvimento de vacinas e produtos laboratoriais, envolvendo a Fiocruz e instituições francesas, como o Instituto Pasteur.
Acordo UE-Mercosul
Sobre o acordo do Mercosul com a União Europeia (UE), Lula questionou a tese de que a agricultura francesa seria prejudicada pelo agronegócio brasileiro. Para o presidente, a afirmação não está correta porque existem cotas para exportação de produtos brasileiros.
— Se eles cumprissem a cota, no máximo, os franceses iriam comer dois hambúrgueres (de carne importada do Brasil), em média, por ano. É nada — disse o presidente, acrescentando que sugeriu ao presidente Macron que os agricultores brasileiros e franceses se reunissem para discutir o assunto.
— Longe de mim querer prejudicar o pequeno agricultor francês. Eu não quero que a gente pare de comprar vinho da França, embora a gente produza vinho — acrescentou Lula, destacando que a política comercial é uma via mão dupla.
Na sexta-feira, o presidente Macron disse estar disposto a assinar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul ainda este ano, mas somente se incluir medidas para proteger o setor agropecuário europeu, que teme a concorrência do bloco sul-americano.
O presidente lembrou ainda que a UE tem 27 países e que o acordo tem que ser coletivo, apesar da resistência francesa. — Eu acho que o Parlamento Europeu aprova o acordo, independentemente de a França querer ou não, porque a França já deu procuração —finalizou. Neste sábado, Lula seguiu para Nice, onde cumpre a sequência dos compromissos da visita ao país europeu.
Certificação
No campo econômico, o ministro registrou também a certificação do Brasil como país livre da febre aftosa sem vacinação, documento entregue pela Organização Mundial de Saúde Animal em Paris. A medida tem potencial de expandir ainda mais os mercados para a venda de proteína animal brasileira.
O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, ressaltou ainda medidas importantes na área de saúde que fortalecem a cooperação para o desenvolvimento de vacinas e produtos laboratoriais. — A Fiocruz, nossa instituição de ponta, estabeleceu novas parcerias com instituições francesas, incluindo o Instituto Pasteur.