Jerusalém – Depois de comemorar a queda intensa de contaminados e mortos pela Covid-19 no país, Israel viu os casos ativos da doença dispararem, passando de 200 para 15 mil no período de um mês e meio.
Segundo as autoridades de saúde locais, a culpada por esse aumento é a variante Delta, que tem uma taxa de transmissão 97% maior do que a cepa original, de acordo com um estudo feito por pesquisadores ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao Imperial College, de Londres.
Para tentar impedir o avanço da doença, o comitê de vacinação contra o coronavírus do Ministério da Saúde de Israel aprovou a administração de uma terceira dose da vacina da Pfizer em idosos, uma vez que eles seriam mais suscetíveis a desenvolver a forma grave da doença. Os membros da delegação decidiram não esperar uma posição final da FDA (Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA) sobre o tema.
O assunto estava sendo debatido pelo governo, uma vez que dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde local mostram que aqueles que receberam primeiro as duas doses da vacina da Pfizer teriam maior probabilidade de se infectarem agora, pois o imunizante estaria perdendo a eficácia com o tempo.
Outro estudo, publicado na última terça-feira (27/7) pela Universidade Hebraica de Jerusalém, também sugeriu que a proteção da vacina na prevenção das formas graves de Covid-19 caiu para 80%, em relação aos cerca de 95% de antes do aparecimento da variante Delta do coronavírus.
Ainda na terça, a própria empresa Pfizer admitiu a seus investidores que uma terceira dose da vacina teria aumentado os anticorpos de cinco a 11 vezes em quem havia se imunizado com as duas doses. Mesmo assim, ainda não se sabe se quem tomar uma nova rodada do imunizante agora poderá receber um reforço novamente.
Isso porque a Pfizer e a Moderna estão trabalhando em novas versões de suas vacinas para que combatam com mais eficiência as variantes do coronavírus. Elas devem ser lançadas até o fim do ano.
Volta das restrições
Por causa da variante Delta, o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, voltou a implementar no país medidas restritivas a qualquer cidadão com mais de 12 anos, elegível para a vacina contra a Covid-19 em Israel. Entre elas estão a obrigatoriedade do uso da máscara em ambientes fechados e a volta do Passaporte Verde, que é um documento QR Code para atestar que o portador recebeu as duas doses da vacina contra o coronavírus.
O documento está sendo exigido em espaços fechados com mais de 100 pessoas, como eventos esportivos, hotéis, atrações turísticas, salas de conferências e orações, academias, concertos, peças de teatro, restaurantes e bares.
Já os adultos não vacinados ou que se recuperaram do coronavírus e menores de 12 anos devem apresentar um teste negativo de Covid-19 para entrar nesses espaços.
Turistas x variante Delta
Para o governo, a variante Delta pode ter chegado ao país por meio de grupos de turistas vindos das chamadas “nações verdes”, ou seja, com poucos casos de Covid-19, e dos próprios residentes que retornaram do exterior.
Isso fez com que Israel endurecesse as regras atuais para viagens e adicionasse mais países à lista de lugares os quais israelenses estão proibidos de visitar, como já é o caso do Brasil. Também aumentou o número de nações na lista vermelha, obrigando os visitantes a cumprirem quarentena na volta.
Essas novas restrições transformaram as férias da administradora brasileira Kássia Venâncio em um estresse sem fim. Ela mora em Jerusalém com o filho, de 4 anos, e o marido, que é espanhol, e tem visto de trabalho em Israel.
“Viemos passar as férias na Espanha e, quando chegamos aqui, os casos de infectados por coronavírus estavam mais controlados. Mas agora o país está enfrentando a quinta onda de Covid-19 e entrou na lista de países vermelhos de Israel, e isso nos afeta por completo. Meu marido já voltou para Jerusalém, mas continuamos por aqui”, conta.
Para que o filho não perca aulas, por causa da quarentena que terão de cumprir em um hotel assim que voltarem, Kássia decidiu antecipar o retorno. “Tenho medo de que os casos continuem subindo e o governo decida fechar o aeroporto. O que mais desejo agora é que quem esteja doente se recupere logo e que o mundo volte à normalidade”, desabafa.
Casos graves
De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde de Israel, 159 pessoas das mais de 15 mil diagnosticadas com coronavírus estão em estado grave. Desde o início da pandemia, 6.463 indivíduos morreram no país, que tem pouco mais de 9 milhões de habitantes. Até o momento, mais de 5,77 milhões de cidadãos israelenses receberam a primeira dose da vacina e cerca de 5,34 milhões, as duas doses.
Ao Metrópoles, o chefe de Assuntos Governamentais e Comunicação da Maccabi, uma das maiores operadoras de saúde de Israel, Ido Hadari, disse que o número de pacientes em estado crítico é baixo, mesmo com o aumento dos infectados. Isso pelo fato de uma grande parte dos israelenses com mais de 12 anos estar vacinada.
“A vacinação continua protegendo contra o coronavírus, e se uma pessoa imunizada for infectada, vai sofrer sintomas leves da doença na grande maioria dos casos. Por isso, a recomendação é que a vacinação continue com força aqui em Israel, principalmente nos adolescentes entre 12 e 15 anos e naqueles que têm imunodeficiência”, explica.
Sobre as restrições para viagens, o especialista afirma que o turismo continua sendo muito importante para Israel, principalmente para a economia, mas concorda com as medidas impostas pelo governo.
“Infelizmente, não podemos receber turistas vindos de países com um número muito alto de casos de coronavírus. Precisamos manter Israel com o mínimo de casos possível de Covid-19, para que o país possa se ver livre do vírus o quanto antes”, lamenta.
O diretor-geral do Ministério da Saúde israelense, Nachman Ash, também declarou à imprensa local que agora não seria a hora de os residentes viajarem para o exterior. Ele chegou a dizer que quem insistisse nisso estaria colocando em risco as suas famílias.