Líderes de religiões de matriz africana de Brasília e do Entorno de Goiás denunciam intolerância religiosa durante as buscas por Lázaro Barbosa, 32 anos, maníaco acusado de uma série de crimes, entre eles uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia. Ele está foragido há 11 dias e mais de 200 policiais estão empenhados em encontrá-lo na mata localizada nos arredores de Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás.
O pai de santo André Vicente de Souza disse, em um vídeo divulgado neste sábado (19/6), que policiais entraram em seu terreiro de Candomblé, bateram no caseiro do local, quebraram portas e tiraram fotos de objetos religiosos.
As imagens circularam junto à informação de que Lázaro praticou rituais satânicos em seus crimes, ligando, de forma incorreta, o Candomblé à prática delituosa do foragido.
Pai André registrou um boletim de ocorrência na 1ª Delegacia Distrital de Polícia de Águas Lindas de Goiás, nessa sexta-feira (18/6). No depoimento, o religioso afirmou que policiais “tiveram comportamento abusivo, agredindo fisicamente o caseiro, quebrando objetos de cunho religioso e perguntando pelo foragido Lázaro”. Ele não soube dizer a qual corporação os agentes pertencem. A megaoperação para capturar Lázaro envolve policiais federais, civis e militares de Goiás e do DF.
Coordenadora de Política de Promoção e Proteção de Diversidade Religiosa, da Subsecretaria de Direitos Humanos e de Igualdade Racial, da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus), Adna Santos disse à coluna Grande Angular que vincular criminosos aos terreiros gera racismo religioso: “Estamos recebendo áudios de pessoas dizendo que vão invadir os terreiros”.
“O que aparece nas fotos são as vasilhas feitas de barros e os nosso símbolos. Não tinha pedaço de orelha ou crânio, como disseram denúncias anônimas. Não trabalhamos com nada disso. Nós trabalhamos com caridade, entregando cestas básicas. Precisamos desmitificar urgentemente a nossa história”, declarou Adna, conhecida como Mãe Baiana.
Neste sábado (19/6), 13 lideranças e organizações religiosas divulgaram um manifesto no qual repudiam “violentos ataques racistas praticados contra as casas de matrizes africanas na região de Águas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia de Goiás, na tentativa de nos vincular ao foragido conhecido como Lázaro e aos crimes a ele atribuído”.
O texto diz que “são graves os relatos de depredação dos nossos territórios mediante intimidação e agressões físicas”. “As imagens dos alegados ‘rituais satânicos’ que estão sendo divulgadas pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de umas de nossas casas. O que de fato estas imagens retratam são elementos sagrados de nossas divindades, especificamente ligadas ao culto ao Orixá Exu e aos exus guardiães de Umbanda. Estes apetrechos nunca pertenceram ao procurado e nem tampouco guardam relação com o satanismo, referência que não faz parte da cosmogonia e mitologia afro.”
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, responsável pelas coordenação das buscas por Lázaro, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.