A deputada Lucinha (PSD), levada no último domingo por bandidos em fuga falou no plenário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pela primeira vez. A parlamentar se emocionou ao revelar detalhes daquela tarde e disse que temeu por sua vida. A deputada estava em um sítio onde iria comemorar seu aniversário, mas cancelou a festa por causa da chuva do dia anterior. Na manhã de domingo, quatro homens armados de fuzil e encapuzados entraram no local e, para fugir, queriam levar seu segurança no carro. A deputada contou que se identificou como parlamentar e que iria no lugar dele: "quem vai sou eu. Ele tem três moleques em casa para criar. Só me dizer onde vocês querem ir que eu levo".
— Pareciam estar indo à guerra. Eles deram a ordem do pessoal ficar trancado no quarto e não falar nada para ninguém. Eu desci a Serra do Rio da Prata só Deus sabe como. Não parei em nenhum sinal, cortei todos os carros e torcendo para não encontrar a polícia porque os caras estavam para matar ou morrer. Eles estavam a não sei quantos dias dentro da mata — contou a deputada.
Lucinha continuou seu relato. Ao chegar na Avenida Brasil, perguntou para qual local eles queriam ir: "se tem gasolina, eu levo" e ouviu de um dos criminosos, que apontava uma pistola para sua cabeça: "só acelera". A deputada relata que se identificou novamente e eles pegaram sua carteira funcional e se surpreenderam ao confirmar quem era ela.
— Na altura da Vila Kennedy ele mandou entrar. Só que eu estava a 120 km/h. Passei por três barricadas até chegar no destino que eles queriam. Cada cancela que eu passava, puxavam um rádio. Ao chegar no local, o carro desligou porque bloquearam o carro. Pensei: "vou morrer, não tem jeito" — disse.
Com o carro desligado, a deputada conta que a situação ficou mais tensa. Os bandidos não sabiam o que fazer e ela estava preocupada em como sair da favela. Ao ver um carro de aplicativo passando, ela correu na direção do veículo, mas ouviu de um criminoso para parar: "pô, me libera, já trouxe vocês em segurança. Pelo amor de Deus", implorou Lucinha aos traficantes.
— Falei: "é meu aniversário, tenho dois filhos e uma neta. Me libera, já fiz o que era para fazer". Quando entrei no carro e o motorista estava muito nervoso. No trajeto de volta para o sítio ele demorou 30 minutos, trajeto que fiz em 12 minutos — lembrou a deputada, cobrando do governo novas medidas contra o crime na região e agradecendo o apoio recebido, sobretudo da deputada Marta Rocha (PDT), que entrou em contato no dia com os filhos de Lucinha.
O caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande), mas as investigações ficarão a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), que atua para identificar e responsabilizar os autores do crime. As diligências já foram iniciadas.
O carro usado pelos bandidos na fuga é um Jeep Compass preto. O veículo está na 35ª DP e passou por perícia da Draco.
Por determinação do presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar, uma equipe de segurança da Casa foi até a residência da deputada Lucinha acompanhar o caso e prestar total apoio e solidariedade.
Lucinha começou a sua carreira política na década de 80 sendo eleita vereadora pela primeira vez em 1997, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Em 2000, ela foi reeleita. Na época, presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou a Máfia do IPTU. Ela exerceu mais dois mandatos como vereadora. Em 2011, ela tomou posse pela primeira vez como Deputada Estadual.
A seguir, a íntegra da nota divulgada pela Polícia Civil sobre o caso. " A Polícia Civil foi noticiada do fato e agentes da 35ª DP (Campo Grande) deram início às diligências. De acordo com informações iniciais, a vítima estava em um sítio, quando foi abordada por criminosos em fuga, que a levaram com o seu carro. Ela foi libertada e está em casa. As investigações ficarão a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) para identificar e responsabilizar os autores do crime."