Opinião Terça-Feira, 08 de Julho de 2025, 17h:30 | Atualizado:

Terça-Feira, 08 de Julho de 2025, 17h:30 | Atualizado:

Paulo Lemos

A Escola Não É Quartel

 

Paulo Lemos

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Paulo Lemos

 

Em tempos de insegurança, instabilidade social e crise nas instituições, propostas autoritárias ganham força. Entre elas, a adoção das chamadas escolas cívico-militares, modelo que vem se espalhando por estados e municípios sob a promessa de "disciplina", "ordem" e "melhoria do desempenho escolar". Mas por trás dessa fachada aparentemente bem-intencionada, esconde-se uma realidade preocupante: a militarização da educação pública representa um retrocesso pedagógico, ético e democrático.

O que está em jogo não é apenas a presença de militares no espaço escolar. O que se questiona é a substituição do diálogo pela obediência, do pensamento crítico pela doutrinação disciplinar, da diversidade pela padronização de condutas. Afinal, educar é formar sujeitos autônomos, criativos e conscientes – não soldados obedientes e silenciados.

Defensores das escolas cívico-militares argumentam que o modelo melhora os índices educacionais e reduz a violência nas escolas. No entanto, estudos sérios mostram que esses resultados são manipulados por filtros sociais: em geral, essas escolas selecionam estudantes mais disciplinados e famílias mais engajadas, ao mesmo tempo em que afastam alunos considerados “problemáticos” – justamente os que mais precisariam de acolhimento e políticas educacionais efetivas.

Além disso, a lógica do medo e da punição pode até gerar comportamentos passivos no curto prazo, mas não educa para a liberdade, para o pensamento crítico, para a convivência democrática. Como diria Paulo Freire, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

As escolas cívico-militares promovem restrição de liberdades individuais, imposição de uniformes padronizados, códigos de conduta rígidos e rituais obrigatórios. Cabelos, roupas, comportamentos, opiniões – tudo é fiscalizado. O que sobra do pluralismo de ideias? Como ficam os estudantes LGBTQIA+, os jovens de religiões de matriz africana, os adolescentes em sofrimento psíquico, as meninas que questionam o machismo?

A presença de militares, treinados para impor ordem, e não para escutar ou cuidar, transforma o espaço escolar em um ambiente de vigilância constante, onde o erro é punido, e não compreendido. Problemas emocionais, familiares e sociais – que exigem escuta qualificada – são tratados como casos de indisciplina, e não como expressões de sofrimento.

Há também um uso político evidente do modelo. A militarização da escola tem servido como palanque eleitoral para discursos populistas de “combate à doutrinação”, quando, na prática, impõe uma nova doutrinação moralista, nacionalista e conservadora. A pluralidade de ideias, o ensino de direitos humanos, as discussões de gênero e raça são censuradas. Em seu lugar, entra o “cívico” que exalta o hino, mas silencia a crítica.

A escola pública, em sua essência constitucional, deve ser laica, inclusiva e democrática. Não é lugar para militarização, mas para formação de cidadãos livres, éticos e solidários. Transformar escolas em quartéis fere diretamente o artigo 206 da Constituição Federal, que assegura a liberdade de ensinar e aprender, o pluralismo de ideias e a gestão democrática.

Outro aspecto ignorado no debate público é o alto custo das escolas cívico-militares. Enquanto escolas regulares lutam por merenda, infraestrutura básica, bibliotecas e psicólogos escolares, o modelo militarizado consome recursos públicos para pagar militares da reserva, uniformes especiais, estruturas de comando. Investir em repressão não é investir em educação.

O Brasil precisa de professores valorizados, equipes multidisciplinares, escuta ativa, metodologias inclusivas e políticas públicas de combate à desigualdade escolar. Isso, sim, transforma realidades. A disciplina verdadeira não se impõe com gritos ou castigos, mas nasce do respeito mútuo, do vínculo e do exemplo.

A escola cívico-militar não é apenas uma proposta de gestão: é um projeto ideológico que pretende redefinir o papel da escola na sociedade. Ao invés de formar cidadãos críticos, deseja produzir sujeitos obedientes, que não questionam o poder, nem os privilégios.

É preciso resistir. Não com radicalismos, mas com firmeza ética. Precisamos defender a escola como espaço de liberdade, criação e cidadania. Não se educa com farda. Educa-se com escuta, com afeto e com justiça. A escola não é quartel. A escola é, ou deveria ser, o lugar mais democrático de um país.

Paulo Lemos é advogado especialista em Direito Público-administrativo e Eleitoral, Constitucionalista e Criminalista, defensor da escola laica, pública, civil e democrática.





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Comentários (10)

  • Ademir

    Quinta-Feira, 10 de Julho de 2025, 00h05
  • É simples , é só você não colocar seu filho lá , não é obrigatório, os pais escolhem, isso é Democracia, os seus podem contínuas nas ruas, drogas , violência , entender de militância , che Guevara , Paulo Feire , corrupção, degradação familiar, inúteis pra sociedade, turma do nem nem , nem estudam ,.nem trabalham, vai viver sua vida e suas drogas , agora quem quiser optar por coisas boas que optem, simples assim!!!
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  • Derysi Cuneat

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 12h59
  • Quando um esquerdista que tem a cara de um corrupto descondenado pelo 5TF tatuado no corpo, vc já espera as palavras "DEMOCRÁTICO e ÉTICA, além de mais parolagem flácida para adormitar bovinos. Não se pode ter militares, disciplina e melhoria no rendimento nas escolas, mas doutrinação MAXISTA está liberado. Esse pseudo artigo não representa o que a população espera de um ambiente escolar.
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  • Direitos Humanos

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 12h48
  • Pra começo de conversa, não perco meu tempo com gente que tira fotinha mostrando tatuagem ou relógio (você é moleque). Em segundo lugar, não existe absolutamente nada contra escola ser igual quartel. O ensino no Japão é bem rígido. Há respeito pelos professores, por isso são exemplo ao mundo todo. Seu problema, meu caro, como o de todo esquerdinha, é que vocês precisam da vagabundagem pra viver!
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  • Alma Jid.

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 11h18
  • Pior do que a militarização é a doutrinação ideológica reinante nas instituições públicas de ensino.
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  • walter liz

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 10h03
  • as opiniões devem ser respeitadas sim, isso é democracia, agora professor seria muito bom o sr também opinar sobre a escola NÃO civíco militar, o que o sr acha ? mas opine sem ideologia, o sr acredita mesmo que essa escola que vemos hoje totalmente desmantelada, onde os alunos literalmente não aprendem nem o básico é passam de ano, que não respeitam professores etc....
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  • viuuuu

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 08h20
  • Mas esse povo que criticam as escolas civico-militares, são os mesmos que aplaudem a politica chinesa, onde crianças, inclsuive as de pouca idade, são tratadas na escola com disciplina militar. Tem o lado bom, pois lhes dá educação, conhecimento, disicplina, necessários a uma vida adulta exitosa. Não a toa que estudantes chineses estão entre os melhores do mundo, enquanto os do Brasil.... (melhor nem comentar).
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  • Carlos Nunes

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 06h57
  • Pois é, o mundo mudou...pra pior. E a tendência é piorar ainda mais. Já vivemos as etapas do Apocalipse bíblico. Tio DATENA, antes da cadeirada, já fazia a profecia: primeiro, a bandidagem, principalmente as Facções, tomarão as ruas, depois invadirão as casas. Isso já aconteceu. Nas ruas, nas esquinas desse brasilzão, militantes das Facções, já tão espalhados. Os traficantes tão loucos pra adotar o filho ou a filha de alguém. E tão adotando. A família é a última a saber...e quando sabe, chora. O alvo são os jovens...e os locais preferidos, as Escolas. Quanto às Escolas Cívico-Militar, tem uma fila enorme de país, querendo matricular os filhos nelas e não tem vagas. Não são os políticos que devem decidir sobre as Escolas Cívico-Militar. São os pais. E eles apoiam. Ninguém tá seguro nesse Brasil. O Seguro é fictício... até a polícia chegar, a bandidagem já barbarizou... já estrupou... já assassinou. Tia YAKUI, líder idosa do povo tupinambá, num discurso, disse: VIVEMOS UMA DEMOCRACIA DISTORCIDA. Ou seja, uma inversão de valores tremenda. No carnaval, demonizaram a polícia e exaltaram a bandidagem. A polícia é má, e a bandidagem é boa a beça. Não cabeça de quem gerou essa inversão tremenda? Os pais não aceitam isso. Querem matricular os filhos em Escolas Cívico-Militar...antes que seja tarde e sejam adotados pelas Facções. Sorte nossa que as maiores Facções do Brasil (CV e PCC) guerreiam entre si. Se unissem, estaríamos perdidos.
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  • João José

    Quarta-Feira, 09 de Julho de 2025, 05h04
  • Escola também não é ringue de luta ao ar livre, não é ponto de tráfico e não é lugar de desrespeito. Escola é lugar de respeito, disciplina e, principalmente, lugar de adquirir conhecimento, coisa que o Sr. parece não possuir. Coloque seu filho em uma escola convencional. Não, né? Seu filho deve estudar em uma escola particular.
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  • Regis Oliveira

    Terça-Feira, 08 de Julho de 2025, 20h22
  • É impressionante como estamos experienciando tempos diferentes... Quando a "barata" exalta o "inseticida" algo de errado não esta certo... Que nossa CONSTITUIÇÂO seja respeitada... Que nossas crianças cresçam (em qualquer espaço) livres, leves, responsáveis e soltas... E que nossas escolas deem "asas" e não "gaiolas"...
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  • BOTELHO PINTO

    Terça-Feira, 08 de Julho de 2025, 18h54
  • DR PAULO É SIMPLES O SENHOR AVALIAR UM ALUNO DA ESCOLA CÍVICO MILITAR E OUTRO DA ESCOLA DE ENSINO CONTINUADO MODELO PAULO FREIRE, DÁ A MESMA PROVA COM AS MESMAS PERGUNTAS DE UM AO OUTRO, E O SENHOR VAI AVALIAR QUAL TIRA A NOTA MELHOR. SIMPLES ASSIM.
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