Ao completar 295 anos, Cuiabá enfrenta o desafio de um espaço político de construção coletiva permanente. Cultuar o seu passado, preservando a história, planejando o seu futuro é um dever que deve estar na consciência de cada um dos habitantes. Assim como é importante manifestar o direito de cada um dos cuiabanos na busca por uma cidade mais humana. É chegado o momento para uma reflexão pessoal. Pensar numa grande metrópole verdadeiramente humana. Qual seria a melhor maneira de homenagear Cuiabá?
Para responder essa pergunta, é preciso avaliar erros e fazer planos. Como foi permitido derrubar a nossa antiga Catedral, com dinamites? Por que incentivaram esse crescimento vertical, sem um sistema de rede de esgoto? Como enfrentar o colapso do trânsito, voltado especificamente para o automóvel? Como recuperar o rio Cuiabá, para que volte a fartura de peixes e a água límpida? Como deixaram tornar natural matos nas calçadas e terrenos, como se fosse paisagem característica aceita? Como preservar os espaços públicos?
Com certeza, esse crescimento desordenado não é a melhor maneira de homenagear Cuiabá. Homenagear é respeitar. É corrigir erros. Atender a maioria da população. O grande desafio é traduzir este acúmulo de demandas em ações estruturadas.
Homenagear Cuiabá é planejar a cidade para outras gerações. É definir posições em grandes temas urbanos.
Homenagear Cuiabá é recuperar o Rio Cuiabá, não deixando que o esgoto "in natura" seja depositado nas suas águas. Como disse o grande poeta Silva Freire: "Temos uma grande dívida com o nosso rio". Quando fui vereador, tentei prestar uma homenagem ao poeta, sugerindo a criação de um passeio em chatas de Cuiabá a Barão de Melgaço, passando por São Gonçalo, Usina de Itaicy até chegar a Baía de Chacororé. Nesse cruzeiro poderia ser servido o guaraná ralado e assistir-se a lufada de lambari. Nos alto-falante da embarcação, o guia contaria a história da nossa terra. No intervalo, o rasqueado cuiabano. No almoço, a tradicional peixada cuiabana. Numa justa homenagem, esse cruzeiro fluvial chamaria "Circuito Silva Freire".
Homenagear Cuiabá é praticar uma verdadeira revolução das prioridades sociais, democratizando o poder municipal, descentralizando as ações, garantindo a participação de todos. É priorizar a criança, os idosos, as escolas de mesma qualidade para todos, a saúde pública digna, preservar o meio ambiente, transporte coletivo eficiente e ecologicamente correto.
Homenagear Cuiabá é reconhecer a igualdade de cuiabanos e não cuiabanos, de brancos e negros, de respeitar a política como sendo a única via democrática para alcançar os objetivos sociais. Se temos bons políticos, temos bons governos. Um governante pode levar uma cidade a desgraça ou a felicidade.
Homenagear Cuiabá é relembrar a integridade de João Ponce de Arruda, a visão de Júlio Muller e o estadista Marechal Rondon.
Homenagear Cuiabá é respeitar os irmãos sul-mato-grossenses, como a história de Wilson Barbosa Martins, figura ilibada da política sul-mato-grossense e que honrou o Senado da República, teve como alicerce do seu programa de governo: "A solidariedade é o caminho. O governo do estado abrirá suas portas à parceria com entidades religiosas, filantrópicas, clubes de serviço, prefeituras, empresas privadas, cidadãos, principalmente aqueles que contribuem na Campanha da Cidadania contra a Fome e a Miséria, para resolver os graves problemas que atingem nossa população sofrida".
Cuiabá é nossa morada, nosso espaço para formação de famílias, de amizades, de vida. Comemorar o aniversário da cidade é uma forma de dar um abraço na vida em comunidade. Queremos que a cidade floresça e seja a casa de muitas gerações. Uma casa agradável, respeitadora e respeitada, que combine as inovações com a preservação da cultura e da história. Queremos uma cidade que chegue aos 500 anos florescendo e não ruínas. Cada um de nós tem um papel nessa história.
*VICENTE VUOLO é economista (UnB), pós-graduado em Ciência Política (UnB), ex-vereador em Cuiabá e analista legislativo do Senado Federal