Cuiabá x Fluminense – e o atestado de incompetência e ignorância

 

No último sábado houve um grande jogo na Arena Pantanal – arena inacabada, quase de primeiro mundo – e prometia ser um grande espetáculo, algo como o início da celebração de grandes jogos do campeonato brasileiro da série A, pós pandemia. E isso após o estado de Mato Grosso viver décadas de decadência no esporte mais popular do mundo, pois o futebol mato-grossense foi jogado no fundo do poço por causa da incompetência dos gestores dos times estaduais.

Mas parece que o amadorismo, a incompetência e a ignorância não abandonaram o nosso já combalido futebol. Uma sucessão de erros, omissões e “síndrome do porteiro” (aquela doença que acomete quem é escalado para cuidar de alguma porta ou entrada) transformaram e pode transformar em pesadelo a retomada do nosso futebol.

Tudo começou com a falta de informação na venda de ingressos, onde não foi informado se haveria setores exclusivos para cada torcida. Pressupõe-se daí, que tais setores seriam mistos, onde pessoas com um mínimo de civilidade, mas de torcidas diferentes poderiam dividir o espaço. Ademais, a torcida do Cuiabá, até onde se sabe, não tem rivalidade com nenhuma outra, nem com as torcidas do próprio estado.

Pois bem, este articulista e uma amiga, torcedores do Fluminense, compraram ingresso para o setor Oeste Inferior, onde tradicionalmente vão menos pessoas e com uma excelente visibilidade do campo. Qual não foi a surpresa de ambos quando, ao chegar na entrada, foram impedidos de entrar com a camisa do Fluminense, sendo informados que era proibido entrar, ali, com a camisa do time visitante. Oi? Proibido por quê? Acaso haveria um esquadrão da morte pronto para agredir duas pessoas apenas porque torcem para outro time, de outro estado, com rivalidade zero com o time local?

Tentamos acionar a polícia militar, que, a princípio, existe para reprimir crimes, manter a lei e a ordem. E ali, flagrantemente estava ocorrendo um crime – impedir a entrada de uma pessoa em um evento, mesmo tendo ingresso para tanto. E qual não foi nossa surpresa, quando os PMs presentes no local simplesmente lavaram as mãos, foram totalmente omissos, dizendo que não tinham nada a ver com evento e que resolvêssemos o caso com os gestores da arena. Oi (de novo)? Se eles não estavam ali para resolver problemas, estavam ali para que? Para passear e admirar a bela noite enluarada.

Sob o pretexto de “segurança” fomos impedidos de entrar no estádio. Tivemos que tirar a camisa e deixar em uma barraquinha de espetinho. Tive que entrar sem camisa e minha amiga apenas com o sutiã – absurdo!! Com esse ato repugnante, os organizadores do “espetáculo” assumiram que: eram incapazes de manter a segurança dos torcedores, eram incapazes de vender ingressos com um mínimo de informação, os torcedores do Cuiabá são todos uns selvagens criminosos prontos para agredir, homens, mulheres e crianças (sim, crianças foram impedidas de entrar com a camisa do Fluminense naquele setor).

Oras, se o Cuiabá Esporte Clube pretende se manter na série A do campeonato brasileiro, aumentar o número de torcedores e/ou aumentar o público na arena e ser protagonista na ressurreição do futebol mato-grossense, tem que rever, séria e urgentemente, a forma de organização dos jogos, desde o momento em que vende ingressos (com informações claras e precisas) até o momento em que coloca pessoas ignorantes e sem educação na gestão do evento e controle de portaria. Só assim, a arena e o time terão público que o futebol de série A merece. E bem-feito que perdeu!

Eustáquio Rodrigues Filho – Cristão, Servidor Público e Escritor. Autor do livro “Um instante para sempre”. Instagram: @epelomundo