O contexto político brasileiro se mostra, mais uma vez, caótico. O autossilenciamento de legisladores do Congresso Nacional e impedimento de uso deste espaço institucional legítimo para o debate são o reconhecimento que não há argumentação plausível para a defesa dos que fazem constantes ataques à democracia brasileira.
A soberania para os de fita na boca virou moeda de troca. Optam pelo esquecimento de um atentado ao Estado democrático de direito (ataques no 8 de janeiro) e ovacionam aquele que lesa sua pátria numa articulação narcísica - com olhar voltado para si e os seus – e ao mesmo tempo subalterna, colocando os interesses da sua nação abaixo de outra.
Dizem ser patriotas. Se assim o fossem, a febre do boné vermelho - cor que tanto detestam - não se daria, afinal o slogan "Make america great again" não trata do que conhecemos geograficamente por América, mas sim da sugestão de ser o representante máximo de todo um continente. Para além de bocas fechadas, alguns tapavam olhos e ouvidos. Cegueira e incapacidade ouvir o contraditório. Não há possibilidade de diálogo.
Alegam defesa da Constituição Federal. Mas, não consta na Carta Magna a garantia do direito à tentativa ou efetivação de golpe de Estado. Quanto à liberdade de expressão, o artigo 5º, inciso IV, estabelece que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Porém, essa liberdade não é absoluta e possui limites, como a proteção da honra e da imagem das pessoas, e a proibição de incitação à violência ou discriminação. Aqui está outra incoerência, esses que hoje tapam suas bocas com fita - bom que fosse assim sempre - proferiram por diversas vezes horrores sobre:
● Mulheres: “eu não te estupro porque você não merece”.
● Comunidade LGBTQIA+: “prefiro filho morto em acidente a um homossexual”.
● Comunidades tradicionais / pessoas negras: “o quilombola mais leve pesava 5 arrobas”.
● Divergentes políticos: “vamos fuzilar a petralhada do Acre”.
São verdadeiros absurdos que ferem os princípios da vida e dignidade humana, portanto não se justificam pela “liberdade de expressão”.
Por fim, as instituições brasileiras chegam ao momento em que precisam se provar, fazer justiça e resguardar a soberania do país. Se assim for, nossa recente democracia ganha história para contar: resistiu à uma tentativa de golpe que outrora poderia se concretizar. E o Brasil, diante do mundo, se fortalece como nação.
Luan Ribeiro é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso.