Como profissional da saúde, ao longo de aproximadamente 30 anos da minha jornada nessa área, tive a grata satisfação de conhecer a irmandade de Alcoólicos Anônimos – A. A., a qual se deu inicialmente através do estágio supervisionado de Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT junto ao Hospital Militar, onde fui parceira de policiais e bombeiros militares no desenvolvimento de um projeto de pesquisa intitulado: Alcoolismo: Uma questão a ser trabalhada. Nesse período, tive a oportunidade de contar com apoio de vários profissionais da área, para melhor entender a problemática, principalmente dos pontos de vista físico, psicológico e social.
Compreendi que o alcoolismo é uma questão de saúde pública, que repercute na integralidade da vida das pessoas que apresentam predisposição para desenvolver tal doença. Sendo assim, é um mal que produz severos danos, às vezes danos irreversíveis. Concomitantemente a isso eu fui descobrindo que, além da saúde pública, existe também Alcoólicos Anônimos, que de forma muito simples, porém, altamente organizada e eficaz no compartilhar de experiências entre seus membros com referência à situação comum do alcoolismo, busca a recuperação através da programação dos doze passos, doze tradições e doze conceitos, tendo como único requisito para ser membro o desejo de parar de beber.
Foi dessa forma que fui compreendendo a complexidade social em que o alcoolismo afeta a vida de seus dependentes, atingindo profundamente a vida familiar, profissional e, acima de tudo, interrompendo sonhos.
Posteriormente a essa relevante vivência, o Hospital Militar abriu um processo seletivo, onde fui convidada a participar, e tive a imensa satisfação de ser aprovada. Lá permaneci por 17 anos, e pude estreitar ainda mais a minha convivência profissional com os membros de Alcoólicos Anônimos, participando das reuniões, seminários e outros eventos da irmandade, contribuindo voluntariamente com palestras e relatos de experiências, que foram de profundo aprendizado e gratidão. Posso dizer ainda que laços fortes de amizade foram criados, os quais transcendem o tempo e o espaço.
Naquelas salas de reuniões eu encontrei pessoas de todas as idades, escolaridades, gêneros, raças, etnias e de condições sociais adversas, alguns em vulnerabilidade, outros não, mas, na maioria dos casos seres humanos nos quais o álcool já havia causado graves problemas, com consequências semelhantes que não os diferenciavam, pelo contrário, os uniam num único objetivo de manter a sobriedade, através de 24 horas sem ingerir nada que contivesse álcool.
Recebi incontável apoio em um espaço sobretudo acolhedor, que agregou muito conhecimento à minha vida profissional e pessoal. Foi desse forma que eu pude realizar inúmeras reflexões a respeito do alcoolismo, como sendo uma doença grave e incurável, demanda gritante, que faz vítimas fatais a todo instante e no mundo inteiro. Vale ressaltar que este tema ainda é pouco relevante em termos de tratamento resolutivo neste estado, porém, vemos, a cada dia que passa, mais e mais sequelas advindas do álcool aumentarem na sociedade, onde prevalece o estigma, o preconceito e a exclusão social.
Por outro lado, dentro da renomada instituição de A. A. percebe-se que a gratidão não é apenas um mero sentimento, e sim uma prática diária, pilar fundamental do processo de recuperação. Como demonstram as literaturas, a gratidão é um princípio que leva à ação. Apesar do passado sofrido, todos os membros seguem lutando, em busca de mudanças e de oportunidades de aprendizado e crescimento, bem como, mantendo o propósito de levar a mensagem a tantas pessoas que precisam.
Parabéns Alcoólicos Anônimos pelos 90º salvando vidas. Aos (as) amigos (as) dessa estimada irmandade recebam toda minha reverência, amizade e aplausos.
Laura Cristina Alencastro de Moura é Assistente Social