A disputa para governo deste ano em Mato Grosso já dá mostras de que será nervosa e concorrida, de que o jogo será bruto, uma verdadeira “guerra” e, com certeza, terá requintes de crueldades.
A tentativa do senador Pedro Taques em “levar” meio no W.O, não deu certo. A estratégia de minar possíveis adversários usando sua influência junto à Polícia Federal e ao Ministério Público teve efeito contrário.
Ainda tentando ganhar a eleição como candidato único, levou de barriga o PSDB e o DEM, impossibilitando que esses partidos construíssem um projeto próprio. Agora na reta final, se aproximou do PR, leia-se Blairo Maggi, se tivesse êxito, ficaria com o apoio do agronegócio e dos seus milhões de reais.
DEM e PSDB sem nome para governo, o PR em seu palanque, rachando a base que governa o estado atualmente, Taques navegaria em céu de brigadeiro. Só não sei se seria no avião do Tampinha (pré-candidato a deputado federal pelo PDT e que já foi preso pela Polícia Federal em Brasília) ou do Fernando Mendonça?
Mas o grande encanto da política é sua dinâmica. Em apenas uma semana tudo virou de cabeça para baixo, não só zerando o jogo, como também abrindo novas possibilidades de nomes.
Pedro Taques já havia vencido alguns obstáculos importantes, avançado várias etapas. Contava como certo que Blairo Maggi não seria candidato, que o juiz Julier da Silva era carta fora do baralho e que o PR estava praticamente em seu colo, que o DEM e o PSDB, sem nome, não teriam para onde correr e, para complementar, os atrasos das obras da Copa que vem deixando todo mundo irritado.
De repente o vento começa a mudar, eis que Mauricio Magalhães, militante histórico do PSDB e ex-secretário de Dante, vendo a maneira humilhante e decadente com que os tucanos entregavam a sigla àquele que em outras épocas foi peça fundamental no desmonte do partido em Mato Grosso, coloca oficialmente seu nome como candidato, deixando os “entreguistas” numa saia justa. O ato do senhor Mauricio Magalhães foi um tapa na cara daqueles que transformaram a política em apenas negócios, escolhendo o caminho mais simples e que trará mais vantagem pessoal.
Na sequência, cansado de ser posto em segundo plano, o DEM resolve empinar a carroça, faz uma reunião em Brasília, no gabinete do deputado Júlio Campos, convida o PTB e o PSDB, dali decidem compor um bloco só, com possibilidades reais de lançarem um nome próprio para o governo. Anunciam para toda a imprensa que não mais fazem parte do projeto de Pedro Taques, que existe essa possibilidade, mas isso seria discutido mais a frente. No meio político a leitura foi de que o senador Pedro Taques começava seu isolamento.
Na mesma semana, o juiz Julier consegue uma decisão no Tribunal Regional Federal, anulando toda operação que envolveu seu nome, deixando claro para todos que tudo teve na verdade um viés político. Inocentado Julier voltou com força, foi aclamado novamente como candidato da base, inclusive tendo o apoio do PR.
Dois dias depois, na quarta fase da operação Ararath, a Polícia Federal faz busca e apreensão na casa e no escritório do braço direto do senador Pedro Taques, o senhor Fernando Mendonça, que foi financeiro da campanha de Taques e já se considerava o futuro secretário de fazenda no governo do senador. Para complicar descobriu-se que sua filha é funcionária do gabinete do senador Taques em Brasília. Todos que transitam pela política no estado sabem do grau de relação de Fernando Mendonça e Pedro Taques. Mendonça chegou a ser dirigente do partido do senador em Várzea Grande, foi excluído após a operação, conforme registro no TER.
Isso criou um grande questionamento na cabeça dos eleitores, dos eleitores e de toda população de Mato Grosso, será Pedro Taques um novo Demóstenes Torres? Para quem não se lembra, Demóstenes era senador pelo estado de Goiás e, assim como Taques, ex-membro do Ministério Público e, assim como nosso senador, seu discurso se baseava no combate à corrupção. Demóstenes foi pego numa situação muito semelhante, envolvido com pessoas ligadas ao crime organizado, sendo esses criminosos grandes financiadores da campanha dele.
No caso de Pedro Taques, Fernando Mendonça foi o maior doador de sua campanha, conforme prestação de contas do TER e, como se não bastasse, há ainda uma interceptação telefônica entre Fernando e outro empresário marcando uma reunião para tratar da arrecadação de campanha para Taques, pois isso daria a eles influência no Palácio Paiaguás.
O fato é que pelo que já foi noticiado, ninguém tem dúvida da ligação de Pedro Taques com Fernando Mendonça, nem de Mendonça com o crime organizado, como bem sustentou o juiz federal Jeferson Schneider em seu despacho: “Com base nas investigações feitas pela Polícia Federal, existem indicativos de que os novos investigados teriam cometido os crimes de fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Também há suspeita, de que recursos públicos dos mais variados poderes tenham sido desviados e “lavados” através de empresas de factoring, consultoria e construtoras em operações triangulares. Há a existência de uma sociedade em negócios por parte de "Júnior Mendonça", pivô da operação, e o empresário Fernando Mendonça França”.
O despacho do juiz Jeferson, que goza de total respeito e credibilidade entre seus pares e na sociedade, joga por terra o discurso moralista que dava um pouco de vantagem ao candidato Pedro Taques, zerando todo processo. Como se diz no bom cuiabanês, “Taques virou bananinha de bulicho”, farinha do mesmo saco, portanto o que vale é daqui pra frente.
Todos os nomes que se apresentarem começarão no mesmo nível, ou seja, Julier, Muvuca, Maurício Magalhães, Lúdio e Pedro Taques iniciam o processo com as mesmas chances. Isso se o senador Taques vir a público se explicar, coisa que não fez até agora, senão começará comendo poeira. Tá mal assessorado, pois, por enquanto, sua única ação foi publicar uma “pesquisa” em um site de notícias, que coloca o formoso senador disparado em primeiro, tentando desviar o assunto, não cola, primeiro porque não condiz com a realidade, segundo que isso não irá aplacar seu desgaste. Ele tem é que explicar suas relações com os investigados, até porque esse caso é tira-gosto, o prato principal será a fraude da Cooperlucas, que corrigidos hoje daria mais de 1 bilhão de reais em desvio de dinheiro público. Sabe-se que o processo dormiu na gaveta do Ministério Público Federal e uma parte simplesmente desapareceu.
Como disse, política muda como o vento e o único nome que ainda pode trazer desequilíbrio nessa disputa é o do senador Blairo Maggi. Para mim, como sempre afirmei, ele é “candidatíssimo”.
Rodrigo Rodrigues, jornalista e analista político.
Melo
Terça-Feira, 25 de Fevereiro de 2014, 21h31