Opinião Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2014, 09h:24 | Atualizado:

Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2014, 09h:24 | Atualizado:

Rodrigo Vargas

O menino da internet

 

Rodrigo Vargas

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Meu primeiro emprego no jornalismo foi em um pequeno tabloide de oito páginas chamado "On Line". Editado no Diário de Cuiabá, falava exclusivamente sobre internet e circulava uma vez por semana. 

O ano era 1997 e a então chamada rede mundial de computadores apenas engatinhava. 

Tempos de conexão discada (com aquele barulhinho irritante e, ao mesmo tempo, quase mágico que antecedia o acesso), de "fax-modem" a 14.4 Kbps e madrugadas em claro para economizar no telefone fixo. 

Lembro-me do assombro causado pelo ICQ, programinha do capeta que permitia não apenas a conexão direta entre usuários, mas também, absurdo dos absurdos, saber quando os amigos estavam "on line". "Tudo muito tosco, obviamente. Mas, quando se olhava para o potencial daquilo, era impossível não sentir que uma revolução se avizinhava"

Tudo muito tosco, obviamente. Mas, quando se olhava para o potencial daquilo, era impossível não sentir que uma revolução se avizinhava. E que ela seria muito mais ampla do que meramente tecnológica. 

Conceitos como privacidade, direitos autorais e de acesso à informação, liberdade de expressão, produção de conteúdo e ativismo, tal como se conhecia, imploravam por novos significados. 

Minha geração, num limbo entre a infância nem tão analógica e a adolescência nem tão digital, bem que tentou buscar novos rumos diante daquele cenário. 

Mas foi a turma seguinte que de fato captou sua essência fractal, imprevisível e em constante reinvenção. 

Quando tinha 13 anos, o americano Aaron Swartz já desenvolvia plataformas para facilitar a publicação e compartilhamento de conteúdo (notícias, fotografias e postagens em blogs) na internet. Nos anos seguintes, tornou-se um ativista pelo acesso livre às informações de interesse público. 

Celebridade entre os nerds, Swartz ficou mais conhecido entre os "leigos" após se tornar alvo da Procuradoria de Justiça dos EUA. Foi acusado de ter baixado ilegalmente, com o objetivo de compartilhar na rede, milhões de artigos acadêmicos de um serviço por assinatura. 

Após dois anos de briga judicial, sofrendo com depressão e abalado diante da possibilidade de passar boa parte da vida na prisão, Swartz se matou em janeiro do ano passado. Tinha apenas 26 anos. 

Essa história é contada em "O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz", um documentário dirigido por Brian Knappenberger, o mesmo que esmiuçou o fenômeno dos hacktivistas do Anonymous. 

Financiado coletivamente por meio do Kickstarter e disponível gratuitamente no Youtube (com legendas, também fruto de trabalho conjunto, em português), o filme é imperdível. 

É que, em meio à frieza dos códigos e protocolos digitais, a tragédia do garoto prodígio nos lembra do quanto a informação continua a ser uma reserva de poder nas mãos de poucos. 

RODRIGO VARGAS é repórter do jornal Diário de Cuiabá.

[email protected]

 





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