O país, atualmente, passa por uma fase muito complicada. Há muito não se via um cenário tão nebuloso quanto o de agora. Reflexo também das crises que ameaçaram e ameaçam o mercado internacional, somado à falta de planejamento governamental e o descontrole dos gastos públicos. Tem gente que acredita, e não sem razão, que o tal quadro pode ser bem pior. Basta que se retire a grossa maquiagem. Providencial no período eleitoral, onde a presidente é candidata à reeleição, e que, por conta disso, recusa-se a adotar medidas impopulares.
O depois da fase político-eleitoral, tudo indica, será a vez de parar o barco, chamado Brasil, que se encontra à deriva. Tarefa nada fácil, sobretudo quando se percebe que as correntes do Plano Real encontram-se enfraquecidas. Isso explica a queda do país na avaliação do FMI. Afinal, o crescimento da sua economia é pífio, com destaque negativo da indústria, enquanto o dragão da inflação vem a galope, apesar dos antídotos irrelevantes do governo.
Perdeu-se muito tempo com o supérfluo. Tanto que, sequer, se percebeu que a crise alastrava por todo o território nacional, com maiores consequências aos localizados na base da pirâmide social. Entende-se, então, o porquê uma recente pesquisa registrou: 63% dos brasileiros dizem que Dilma Rousseff faz menos do que eles esperavam, enquanto outros tantos se acham amedrontados pelo desemprego.
Frustrações e desapontamentos marcam o cotidiano dos brasileiros. Nasce daí a desejo por mudanças, inclusive na maneira de atuar do ‘novo‘ presidente. O problema, contudo, é que ninguém da oposição apresenta as características necessárias para mudar a maneira de administrar o país. Por isso, os pontos perdidos pela presidente, na pesquisa de intenção de votos, não caem nas algibeiras do Aécio Neves e do Eduardo campos.
Situação que eleva o sentimento de frustrações. O que pode fazer com que as pessoas retornem às ruas, com bandeiras reivindicatórias, a despeito da festa da Copa do Mundo. As manifestações tendem a ser mais contundentes que as presenciadas no mês de junho de 2013. Talvez, as futuras movimentações populares sejam embaladas pelos atrasos e superfaturamento das obras destinadas ao referido evento. Dinheiro público aplicado em construções particulares, enquanto escolas e postos de saúde estão longe do ‘padrão FIFA‘.
Cenas antigas de um mesmo filme, cujo script é marcado pela insensibilidade dos governantes, miopia dos parlamentares, sempre acompanhados dos esbanjadores do erário. Daí os rastros da corrupção, dos prejuízos provocados a Petrobrás, dos aditivos de projetos propositadamente mal feitos e dos desvios de parte dos recursos destinados aos municípios e aos Estados.
Fotografias que, infelizmente, não serão facilmente apagadas do grande álbum brasileiro. Pelo menos enquanto o Estado nacional estiver sustentado pelo patrimonialismo, cartorialismo e o corporativismo. Tripé que garante o status velho e carcomido, sempre acompanhado do ‘você sabe com quem está falando?‘. Ao passo que a maioria da população se vê ameaçada pelo custo de vida, pela insegurança e pela falta de leitos. Pobre país grande!
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político