Querida Amiga Joanice

 

A morte vem sem avisar. Ela é a única certeza de nossas vidas! A cada dia ficamos mais próximos dela, pois não há um segundo que volte novamente. Na verdade, ela é implacável!

No último dia 16, sábado, você nos pregou essa peça! 

Foi sem se despedir, sem dizer um “tchauzinho”, como costumava falar.

Ficam apenas os momentos felizes que pudemos (seus amigos e familiares) desfrutar na sua presença.

Desde que foi internada (21 dias na UTI), não me deixou sequer opção de visitá-la. Não podia eu, apenas sua amiga, querer tomar esses pequenos momentos de sua família!

A vida é engraçada... 

Temos que dizer às pessoas que amamos, ainda em vida, o quanto elas nos são caras... E eu lhe disse!

Rosário Oeste inteira deve estar de luto! Aquele município lhe ama, e muito! Fez um belíssimo trabalho por lá.

Entendo que as Magistradas e Magistrados possuem um peso diferente quando submetidos ao tão temido julgamento pós-morte. São vocês em vida, os julgadores na terra. Julgaram os atos de seus semelhantes, assim, um erro possui peso maior.

Entretanto, você, estimada Amiga, desempenhou o seu labor com muita garra e amor. O tempo em que trabalhamos juntas foi o suficiente para lhe admirar! Julgou fatos e não pessoas. 

Tens uma das mais valorosas virtudes em minha opinião: a humildade.

Dentre tantas, lembro-me de uma audiência onde apreciava o acordo em um divórcio de pessoas hipossuficientes, assistidos pela Defensoria Pública, quando disse: “- Não há mais possibilidade de voltarem a conviver?”. E eles lhe responderam que não. Quando uma das partes disse que se esqueceu de mencionar o fogão. 

“- Dra, e o fogão?”.

E você, com toda paciência, solucionou o “caso do fogão” realizando o divórcio consensual.

No término da audiência, após a retirada das partes, conversamos sobre as necessidades básicas da sociedade. Como uns tem tanto, e outros tão pouco?

E você me disse: “Rosana, você não ficou com vontade de comprar um fogão para esse sofrido casal e acabar com a briga?” 

Isso a fazia diferente, e amada. 

A sociedade precisa saber que a Juíza Joanice foi, e é, muito humana. 

Não tive oportunidade de despedir de você. O que me consola é saber o quanto cristã você foi. Só assim entendemos essa partida prematura.

Aliás, não consegui permanecer no seu velório. As lágrimas teimaram em cair sem que houvesse controle, e o vexame seria certo.

Preferi me lembrar de você com aquele carinho que se dirigia às pessoas que conversava em audiência. Sempre com um sorriso, olhando-as nos olhos, e com atenção ao bloquinho de rascunho à sua frente. Ali anotava os detalhes do que ouvia, e delicadamente desenhava um monte de rosinhas no canto do papel.

Hoje quero lhe oferecer todas aquelas rosinhas que a vi desenhar...

Olhe por nós! Fique com Deus! 

Sua amiga... Rosana. 

Rosana Leite Antunes de Barros é Defensora Pública Estadual.