O desempenho esportivo brasileiro não pode virar pauta de debate somente de quatro em quatro anos, com uma avalanche de cobranças desproporcionais sobre os atletas para a conquista de medalhas nas Olimpíadas. É preciso discutir o esporte que ocorre no entremeio desse quadriênio e as consequências da falta de uma política pública robusta de fomento e investimentos em formação desportiva.
É preciso distinguir as atividades esportivas entre as destinadas à recreação, ao lazer e à saúde preventiva, daquelas praticadas com caráter profissional no âmbito do esporte de alto rendimento. Mesmo distintas, são convergentes e dependem das políticas públicas para que existam.
Quando ouvimos histórias como de Ítalo Ferreira que começou surfando em tampa de isopor, ou ainda Rebeca Andrade com seus dramas pessoais e sociais, não podemos romantizar como histórias de superação. Infelizmente, não são condições isoladas. É preciso atentar aos problemas da falta de investimentos em formação e infraestrutura esportiva para que o esporte brasileiro deixe de ser marcado pelo martírio dos atletas.
O desempenho não é uma conquista individual, depende de uma série de fatores, principalmente das políticas públicas de estado. Quando a torcida brasileira se frustra com a performance mediana no conjunto da nossa atuação olímpica, é preciso desvencilhar os atletas desta cobrança.
Iniciamos com a dissolução do Ministério dos Esportes, que foi extinto pelo governo Bolsonaro e incorporado à pasta de Cidadania, retirando autonomia e capacidade orçamentária. A principal fonte de financiamento pública hoje são os recursos provenientes da loteria esportiva.
São esses recursos que alimentam muitos fundos desportivos estaduais, e que dispõe o orçamento necessário para a execução de algumas políticas públicas, como a Bolsa Atleta. Com as Olímpiadas de Tóquio vimos como essa renda é fundamental para a manutenção dos atletas. A quantidade de medalhas inéditas para o Brasil, em diversas categorias e modalidades esportivas, prova que ainda somos neófitos quando se trata de investimento público para profissionalização desportiva.
Na condição de Secretário de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso, em 2018 e 2019, conseguimos alcançar grandes feitos no que tange à política pública do desporto. Primeiramente, transformamos a Arena Pantanal de um elefante branco para um potente, inclusivo e democrático complexo esportivo.
Outra conquista foi o resgate da Bolsa Atleta estadual, que estava suspensa há dois anos por falta de pagamento, e ainda incluímos a inédita Bolsa Técnico, que vem auxiliando até hoje as equipes técnicas.
O trunfo que muito me orgulha da nossa passagem pelo poder executivo foi a retomada dos Jogos Escolares da Juventude e as Paralimpíadas Escolares, quando tivemos a maior participação de jovens atletas e paratletas em toda a história do estado, além de alcançarmos recordes em medalhas. Outra importante ação foi a criação de um programa estadual de recuperação de praças esportivas, que garantiu diversas reformas.
Quando, na condição de deputado estadual, cobro no plenário a necessidade de reforma de uma quadra esportiva em uma comunidade, a construção de uma quadra em uma escola ou a recuperação de uma pista de atletismo, é exatamente para que Mato Grosso tenha condições adequadas para que nossos talentos possam despertar. E são tantos!
Aí sim teremos o país que sempre sonhamos e que tanto nos orgulha, com políticas públicas desportivas que criam oportunidades para que nossos jovens brilhem e espalhem o melhor do Brasil para o mundo. Agora, a bola está com os gestores públicos, que deverão fazer o dever de casa.
*Allan Kardec Benitez é Professor da rede estadual de Educação, possui mestrado e doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Deputado Estadual e presidente do Diretório Estadual do PDT-MT.