Opinião Quarta-Feira, 09 de Setembro de 2020, 09h:03 | Atualizado:

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José Antônio Lemos

Valeu o sacrifício do Verdão?

 

José Antônio Lemos

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A lembrança dos 10 anos da demolição do antigo Verdão faz retornar a pergunta da época: valeria a pena o sacrifício do belo estádio em troca dos benefícios para a cidade prometidos pela então futura Copa? Quando dos avanços das máquinas demolidoras sobre as arquibancadas a situação era a seguinte: a realização da Copa do Mundo em Cuiabá prometia muitos investimentos e benefícios públicos e privados para a cidade e para o estado, mas era indispensável um novo estádio já que para a FIFA o antigo Verdão não seria adaptável às suas exigências técnicas para os palcos do grande evento. Sem o estádio em condições a Copa não viria para cá e a disputa pelos anunciados benefícios estaria reaberta, o que era ansiosamente aguardado por importantes capitais brasileiras. A desistência de Cuiabá era tida como certa e importantes comentaristas da imprensa nacional insistiam nesta tese, contra Manaus e principalmente, contra Cuiabá, a mais fraquinha, despreparada e desconhecida das sedes escolhidas, até com sabotagens e algumas campanhas preconceituosas contra os cuiabanos.

Quando colocada a questão ainda não tinham sido definidos que investimentos traria a Copa. Assim, como responder naquela hora? Depois é que foi firmada a “matriz de obras da Copa”. Essenciais ao evento eram tidos como certos só a nova Arena, a ampliação do aeroporto e a ligação entre os dois. Já se falava também em uma calha exclusiva para o transporte coletivo ligando o aeroporto ao CPA, porém com o BRT. Mas isto era pouco, ainda mais sem nada compromissado. 

Não aceitar a troca seria “devolver” a Copa entregando a outra cidade as possibilidades das melhorias prometidas, negando às gerações futuras a chance de viverem em uma cidade melhor. Em suma, a responsabilidade era imensa diante de uma aposta arriscada, mas com um prêmio excepcional, em especial para Cuiabá, a menor das sedes da Copa onde tais investimentos fariam enorme diferença, diferente das grandes metrópoles nacionais. Fácil seria apostar na corrupção, incompetência, falta de ética e de responsabilidade pública que, infelizmente, marcam a história de nosso país. Como urbanista e cuiabano, optei em confiar na Copa como um projeto nacional em que o Brasil se expunha ao mundo sem poder “passar vergonha” e que, por isso, o balanço ao final seria positivo para a cidade. A Copa não pelos seus 4 jogos, mas pelos benefícios que poderia trazer em curto prazo. Bandidagem, ladroagem, deixei aos órgãos competentes, MPs, Justiça e às diversas polícias.

Hoje, passados 10 anos, já me arrisco a uma avaliação cidadã certamente polêmica, mas apolítica e desapaixonada para o caso específico de Cuiabá. Não vale para Rio ou qualquer outra metrópole brasileira. Conclusão: valeu a pena, ainda que com muitas obras não concluídas ou com qualidade inferior, mas já ajudando bem a cidade, com algumas poucas como as do VLT prejudicando bastante a todos, bem como com autoridades impunes e outras não devidamente valorizadas. 

Em 2017 o governo estimou em no mínimo R$ 1,0 bilhão, o valor das obras públicas da Copa na cidade, fora o VLT. Delas destaco a ampliação do aeroporto, as trincheiras e viadutos, as avenidas da Guarita, Mario Andreazza, Barbado, a extensão da Archimedes e a ligação direta do São Gonçalo. Como estariam Cuiabá e Várzea Grande sem elas? E a Arena, espetacular! Como investimentos privados destaco a fábrica de cimento no Aguaçu, as 15 torres hoteleiras e os 4 shoppings, sendo duas ampliações e um lançamento em Cuiabá, e a reativação de um projeto em Várzea Grande. Mas o maior legado da Copa foi ter ensinado que manter paralisada uma obra pública sem razões intrínsecas é tão ou mais criminoso quanto corrompê-la em sua origem.

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU e professor aposentado.

 





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