Opinião Segunda-Feira, 05 de Julho de 2021, 13h:15 | Atualizado:

Segunda-Feira, 05 de Julho de 2021, 13h:15 | Atualizado:

Gonçalo de Barros

Verdade? Não, fofoca

 

Gonçalo de Barros

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O que importa mais, o fato ou a sua apreensão? Primeiramente, deve-se entender que a consciência é diferente das coisas e, do ponto de vista do saber, é anterior a elas. 

Então, pode-se destacar que a consciência concebe as ideias das coisas (Descartes), que representa as coisas (Kant), ou ainda que constitui as coisas como significações (Husserl).  

Independente do caminho filosófico a perseguir, está claro que a consciência não é uma coisa e um objeto não é consciência, ou seja, o sujeito do conhecimento é uma realidade separada e distinta da realidade do objeto do conhecimento (Marilena Chaui, Convite à Filosofia). Assim, o sujeito existe e de forma distinta das demais coisas. 

A apreensão do fato tende a ser distinta na proporção da concorrência dos demais sujeitos para a sua compreensão. Daqui advém a noção de que não pode haver verdade absoluta. 

A par disso, por que a metafísica estaria morta ou mesmo superada? 

Para o aristotelismo, é papel da metafísica a investigação das realidades que transcendem a experiência sensível. Ainda que Hume a tenha descartado quase que por completo, entendendo que a razão humana não tem como alcançar o conhecimento da realidade em si, e Habermas a tenha entendido como superada pela filosofia da linguagem, a metafísica sobrevive porque ela dá fundamento à paridade entre objeto e consciência. Se desconsiderada, a razão seria comandada pelos influxos da experiência sensível e perderia densidade na teoria do conhecimento, ou seja, o sujeito perde primazia, a consciência de si reflexiva nunca seria o ponto de partida do saber, muito menos concorreria com a experiência. 

A razão não é a consciência moral que orienta as vontades? Como diferenciar na matemática dois termos, então? A matemática, mesmo considerando a geometria, não seria ciência por não ser objeto de experiência no mundo sensível? 

A apreensão diferenciada de determinado fenômeno por diferentes sujeitos demonstra a paridade entre a experiência sensível e a razão. Mais, a dependência entre elas, sem qualquer sobreposição. 

A realidade externa compete com a realidade interna. É dessa síntese, do confronto entre elas, que nascerá a apreensão, o conhecimento sobre o objeto, que será sempre relativizado e temporal, visto perdurar até ser substituído por outro. 

Também, isso independe de se considerar que o sujeito é um lugar vazio na oração, como parece enaltecer a filosofia da linguagem e Habermas, pois, o mesmo também poderá ser afirmado sobre o objeto do discurso, que está na realidade do mundo, na sociedade e na natureza, como representação e não como semelhança.

Assim, respondendo à pergunta inicial, ambos importam. O fato e o conteúdo de sua apreensão. E as variadas tentativas de afirmação quanto ao conhecimento sobre determinada pessoa sempre será parcial, por isso que a cautela nos é cara, por ser fundamental, e a química dos remédios, perigosa.

Portanto, não fofoque, ignorante!!!

É por aí...

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é graduado em Filosofia e Direito (email; [email protected]).

 





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Comentários (2)

  • bISPO

    Terça-Feira, 06 de Julho de 2021, 11h52
  • Quanto dias se passaram! quantos dias desperdiçados nesse sono profundo! em troca de nada! de uma ilusão! de uma mentira bem armada! quanto tempo jogado fora! tempo precioso que não volta mais! tempo que escorre pelas nossas vidas como agua que escorre pelas mãos! tempo que se esvai, tempo finito! Mal acordamos e os ponteiros começam a correr, num tic-tac esquizofrênico; perdemos tempo, tempo precioso com coisas inúteis, ilusões a todo momento, ilusões bem plantadas em nossas vidas, ilusões que por vezes nós mesmos construímos; como fazer para parar essa máquina, como fazer para resetar o jogo! como fazer por um minuto de lucidez e ver o todo, e não apenas em parte! como fazer para sair dessa matriz? como fazer para começar tudo de novo? começar agora? não tem como meu caro! não tem como meu amigo! a vida não é um jogo! a vida é de verdade, é real, por isso, acorde agora, desse sono profundo, dessa sonâmbules, dessa embriagues intermitente, desse transe permanente, acorde desesperadamente, acorde de imediato, acorde e olhe ao seu redor, acorde e olhe em volta, abra seus olhos, enquanto ainda há tempo....
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  • Edmar Roberto Prandini

    Segunda-Feira, 05 de Julho de 2021, 15h18
  • Certamente que um texto que se apresenta como uma reflexão filosófica precisa guardar certos padrões que o sustentem como filosofia. Assim, por exemplo, há que se respeitar o pensamento de Aristóteles, informando o que diz Aristóteles, ou Habermas, informando o que diz Habermas. Se uma pessoa quer dialogar com Aristóteles ou Habermas e discutir as opiniões deles ou divergir delas, é perfeitamente legítimo que o faça. Mas, antes é preciso ouvir Aristóteles e ouvir Habermas, ou Descartes, ou Hume ou Marx, ou quem quer se seja. Não se poder alterar o conteúdo deles só por discordar total ou parcialmente deles. Quanto à fofoca, quando, por exemplo, há um conflito entre um homem e uma mulher, havendo ciência de agressão física por parte de um dos agressores contra o outro, uma denúncia, que muitos chamariam de "fofoca" trata-se, por vezes, na única forma de evitar a ocorrência de violências mais graves. Que o diga Maria da Penha. Particularmente, penso que a fofoca seja a intromissão descabida que destroça os valores básicos da cidadania e dos direitos fundamentais ou ainda do respeito institucional no Estado democrático. Mas, defender os direitos fundamentais e a democracia nunca será fofoca. Discursos com finalidade oposta a este, sempre serão fofocas. Fraudes, calúnia, difamação, desprezo, silenciamento, falta de transparência, ocultações, são rudezas que guardam forte correlação com a fofoca e seus efeitos.
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