PPK, F1, célula e 4 e 20. Cuidado. Se o seu filho estiver usando esses tipos de expressões em conversas de bate-papo nas redes sociais, ele pode estar marcando uma festa regada a drogas, bebidas alcoólicas e orgias sexuais.
O uso exagerado da internet entre adolescentes e crianças e, principalmente, a falta de conhecimento e monitoração dos pais, tem preocupado a polícia e os especialistas na área de educação. A incidência de crimes na internet envolvendo este tipo de público aumentou significativamente nos últimos anos, conforme a Delegacia Especializada do Adolescente (DEA).
Em Mato Grosso, o que predomina são fotos de adolescentes nus, ou praticando sexo. Outro problema que tem aumentado são as festas regadas a drogas, bebidas e orgias sexuais, que são marcadas nas redes sociais. O setor de inteligência da DEA, inclusive, tem feito um trabalho no sentido de mapear essas festas que são organizadas pelos adolescentes.
Nessa era tecnológica, os pais estão perdendo feio para os filhos quando o assunto são as redes sociais e os perigos que elas podem oferecer para as crianças e os adolescentes, se não houver uma espécie de controle, um filtro moderando sobre o que deve ser visto ou não. A avaliação é feita pelo policial militar, Wagner dos Santos, formado em redes de computadores e especialista em Segurança Pública e Direito Humanos.
Ele destaca que é de suma importância que os pais se capacitem para acompanhar os filhos. “O primeiro de tudo é entender quais são os caminhos da internet. Não adianta o pai falar que não sabe. Então, procure saber, vá a uma aula de informática. Inclusive, a própria internet lhe dá dicas de como entender melhor as ferramentas das redes sociais”, explica Wagner, que na semana passada foi palestrante no Workshop “Navegar Com Segurança: Monitoramento de Crianças e Adolescentes nas redes sociais sob os perigos ocultos na internet”.
O evento foi realizado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT).Wagner sugere que os pais pesquisem programas espiões que servem para acompanhar o que os filhos “andam fuçando na internet”. “Em uma consulta fácil pelo google, os pais podem encontrar diversos programas que ajudam nesse monitoramento”.Ele também recomenda a criação de um perfil falso nas redes sociais onde os pais possam conversar com os filhos, sem serem identificados. “Isso é claro se for para detectar se o filho estiver fazendo alguma coisa errada. Fora isso, se for extrapolar o nível de privacidade, acho desnecessário”, orienta.
Ele também pede para que os adultos fiquem atentos às expressões que os jovens estão usando na internet. Que procurem pesquisar e entender os significados das gírias, que, às vezes, servem para cometer algum tipo de crime. “Por exemplo: quando um jovem fala num grupo que encontrou uma PPK, significa que na festa haverá uma adolescente que está disposta a transar com vários garotos ao mesmo tempo. São as chamadas orgias sexuais entre menores”.Outros exemplos de gírias mais comuns nas redes sociais são o F1, que significa fumar maconha; Célula, que quer dizer uma festa restrita, com um número xis de pessoas; e 4 e 20, que é outra expressão usada para o consumo de drogas.
O PM também cita um caso que aconteceu no início do ano passado, quando uma adolescente de 14 anos foi jogada nua no canteiro central de um colégio no bairro CPA IV. O policial conta que ela participou de uma festa que foi marcada na rede social.
Foi embriagada com vodka, por um grupo de adolescentes, desmaiou durante a festa, e no outro dia amanheceu complementa nua em frente ao colégio. “Mas, por fim, o melhor caminho ainda é o diálogo. É importante que os pais conversem com os seus filhos e mostrem os perigos da internet. Uma boa dica é mostrar alguns exemplos, casos conhecidos de pessoas que tiveram a sua privacidade invadida com a divulgação de fotos espalhadas na rede. Se esse trabalho de diálogo não foi construído, infelizmente os pais são obrigados a monitorar os filhos”, diz Wagner.
REDE MONITORADA
Delegado Eduardo Botelho, da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), confirmou que tem chegado à delegacia denúncias de festas organizadas por adolescentes, onde a há o consumo exagerado de bebidas, drogas e inclusive orgias sexuais. Para acompanhar de perto a questão, a DEA criou um gerenciamento de redes sociais que é feito pelo setor de inteligência da delegacia. Esse setor fica responsável por monitorar, identificar e mapear essas festas.
Depois disso, a DEA coloca agentes infiltrados nesses encontros, que ficam incumbidos de filmar o evento e identificar as infrações para que a polícia possa chegar ao local e efetuar a apreensão em flagrante desses menores.Botelho ressalta que em Mato Grosso a maior incidência de crimes na internet envolvendo adolescentes é a propagação de vídeos eróticos que são espalhados em aplicativos de mensagens e redes sociais, a exemplo do facebook, WhatsApp e Instagram.“Acontece muito quando um casal de adolescente briga ou termina o relacionamento e, por vingança, o rapaz posta vídeos e fotos da ex-namorada nua ou mantendo relação sexual com ela”.
Os adolescentes que cometem esse tipo de crime na internet são enquadrados nos artigos 241-a e 241-b, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê sanções para aqueles que divulguem ou armazenem fotos nuas, vídeos eróticos com cenas de sexo explícito, envolvendo crianças e adolescentes. O adolescente pode ficar detido em centro sócioeducativo de 1 a 6 anos, dependendo da gravidade do caso.
EDUCADORES
Para Néio Lúcio, da Coordenadoria Estadual de Políticas sobre Drogas, não há privacidade quando o assunto é segurança e educar os filhos. “Os pais precisam sim monitorar o que os filhos andam fazendo na internet. Por exemplo, as drogas estão sendo vendidas nas redes sociais. Hoje, o crack é encomendado pela internet e chega a domicílio em sua casa. Outro problema são esses encontros que os jovens marcam para consumir droga sintética”.
O educador ressalta que, às vezes, os pais ficam preocupados em não deixar os filhos saírem para as festas, mas, na verdade, o perigo pode estar dentro de casa. “Pode estar no que ele anda vendo na internet e nos programas de televisão que ele assiste. Então, é importante que os adultos se preparem para educar nessa geração tecnológica”.