A Polícia Civil encontrou na casa de um dos alvos da operação Reversus, da própria Polícia Civil, R$ 72 mil em dinheiro. A ação foi deflagrada nesta terça-feira (15) para desmantelar um grupo criminoso atuante em Mato Grossoee vários estados do país, especializado em golpes e fraudes eletrônicas na modalidade conhecida como “falso intermediário”. Além do dinheiro, uma caminhonete Dodge Ram também foi apreendida com o alvo.
Segundo o delegado Bruno Mendo Palmiro, responsável pelas investigações na Delegacia Especializada de Estelionato, o grupo criminoso atuava de forma contínua entre os anos de 2023 e 2024, aplicando diversos golpes por meio de anúncios falsos de venda de veículos e gado, causando prejuízos superiores a R$ 800 mil às vítimas. A PJC realizou diligências de forma simultânea em Mato Grosso, Rio de Janeiro, Piauí e Minas Gerais, com o apoio operacional das Polícias Civis dos respectivos Estados.
As investigações começaram após um golpe aplicado em janeiro de 2024, em Cuiabá, no qual a vítima foi atraída por um anúncio fraudulento de venda de veículo no Facebook. Após o primeiro contato, ela foi induzida a manter comunicação com um suposto intermediador — que se passava por advogado — e acabou transferindo R$ 45 mil via Pix, acreditando estar em uma negociação legítima. O dinheiro foi disperso em várias contas até chegar às mãos dos líderes do esquema. "O dinheiro é diversificado em várias contas para dificultar a apuração de lavagem de capitais. Este é um procedimento comum nesse tipo de golpe, de organizações criminosas. Um desses alvos é uma pessoa importante, ligada a facções. Em um dos alvos aqui em Cuiabá, encontramos R$ 72 mil em espécie, além da RAM. É dinheiro demais para estar em casa e não parecer fruto de ilícitos", explicou o delegado Bruno.
Destaca-se que várias pessoas humildes também estão entre os alvos. O delegado explicou que elas vendem ou emprestam suas contas bancárias com a intenção de obter lucro fácil.
"Qual o papel dessas pessoas nesses golpes? É comum que vendam essas contas. Essa prática foi disseminada pelas redes sociais. Geralmente, pessoas oferecem valores relativamente baixos, como R$ 500, para vender ou emprestar suas contas, facilitando o fluxo do dinheiro. Essas pessoas podem ser responsabilizadas. Se você tenta vender ou emprestar sua conta para lucrar facilmente, será responsabilizado. Não apenas há mandados de prisão, mas também buscas e apreensões. A atuação é mais enérgica para punir também quem vende contas", reforçou o delegado.
Na operação, foram cumpridas mais de 50 ordens judiciais, incluindo 27 mandados de prisão preventiva, 24 mandados de busca e apreensão domiciliar — inclusive na Penitenciária Central do Estado (PCE) —, além de sequestros de bens no valor de até R$ 100 mil por investigado e bloqueio de contas bancárias, cujo montante pode chegar a R$ 2,7 milhões.
Durante as investigações, o criminoso Cristyan Nascimento Silva, de 28 anos, foi identificado como autor intelectual da fraude. Ele está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, onde cumpre mais de 40 anos de prisão por crimes como homicídio, tráfico e roubo. Já o responsável pela publicação do anúncio fraudulento teve sua prisão decretada em Teresina (PI).
O dinheiro obtido com o golpe foi inicialmente enviado ao Rio de Janeiro, distribuído entre 13 contas bancárias, e posteriormente transferido de volta a Cuiabá, onde foi redistribuído em 11 contas diferentes. A maior parte do montante se concentrou na conta de Anne Cristina Casaes, de 39 anos, que reside em um condomínio de alto padrão, em Cuiabá, mas foi presa em Belo Horizonte (MG), onde se preparava para uma cirurgia de lipoaspiração.
A investigada possui condenação definitiva por fraudes em Minas Gerais. Ela também é viúva de um homem com extenso histórico criminal, morto por facções criminosas na fronteira com a Bolívia, onde seu corpo e veículo foram incendiados. As investigações revelaram uma estrutura criminosa complexa e altamente coordenada, com divisão clara de tarefas entre os membros e estratégias de movimentação financeira que dificultam o rastreamento dos valores.
Se condenados, os investigados podem ser punidos com até 20 anos de reclusão, considerando a prática conjunta dos crimes de estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A pena pode superar 30 anos em caso de agravantes.
O nome da operação faz alusão ao retorno do dinheiro a Cuiabá, uma vez que o golpe foi iniciado dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE) e, após circular por diversos Estados e contas bancárias, retornou à cidade de origem. Isso evidencia o grau de articulação e sofisticação do grupo criminoso.