A Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) detalhou, em relatório técnico, a tentativa de fuga e ocultação de provas por parte dos alvos da Operação Suserano, deflagrada no dia 24 de setembro de 2024, em Mato Grosso. O inquérito aponta que o empresário Alessandro do Nascimento e sua filha Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento adotaram uma série de medidas para evitar o cumprimento dos mandados judiciais e, possivelmente, destruir evidências.
A ação apura crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude em contratos públicos. “Consta que, em razão da ausência do investigado em sua residência na data do cumprimento do referido mandado, a equipe policial deu continuidade às diligências, com o objetivo de localizar Alessandro, realizar a busca pessoal autorizada e notificá-lo quanto ao teor das demais ordens judiciais”, destaca trecho do documento.
Diante da dificuldade de localizá-lo, os investigadores passaram a monitorar deslocamentos e verificar registros de companhias aéreas. Segundo o relatório, Alessandro, sua esposa Herley Cristina Ormond, sua filha menor e Ana Caroline embarcaram em um voo na véspera da operação.
A Polícia apurou que Alessandro chegou a antecipar o próprio voo para horas antes do previsto, o que levantou suspeitas. “Tal circunstância evidencia que ambos já tinham conhecimento prévio das medidas que seriam adotadas contra eles, agindo de forma célere com o objetivo de se evadir da operação e destruir possíveis evidências”, cita o relatório.
A estratégia, porém, não funcionou. Alessandro e a filha Ana Caroline foram abordados no momento do desembarque, já no dia seguinte à deflagração da operação. Durante a busca pessoal, foram localizados R$ 10 mil em espécie, além de um aparelho celular. No entanto, os policiais constataram que o aparelho apresentado por Alessandro não era o mesmo utilizado por ele dias antes. “O aparelho que ele utilizava às vésperas da operação era, na verdade, um iPhone 15 Pro Max”, detalha o documento, reforçando a tentativa de ocultação.
Outro episódio considerado suspeito pela Polícia Civil ocorreu durante o deslocamento dentro do próprio Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande. Os investigadores perceberam uma movimentação incomum entre a esposa de Alessandro e a filha Ana Caroline. “Herley Cristina Ormond solicitou à filha que lhe entregasse um aparelho celular que estava em sua bolsa”, descreve o relatório.
O inquérito também revela que Alessandro fez uma parada pouco antes de embarcar: “Por volta das 00h37min do dia 24/09/2024, minutos antes de seu embarque, Alessandro ingressa na loja Chilli Beans, cumprimenta um terceiro (funcionário do estabelecimento) e, dois minutos depois, sai sozinho”, pontua a investigação.
A visita não foi casual. Após análise das imagens de segurança, os policiais se dirigiram à loja e confirmaram que Alessandro havia deixado ali um celular e um notebook, provavelmente com o intuito de ocultar provas. O funcionário confirmou o fato, e as autoridades descobriram que a loja pertence a Mariana Mandacari e Silva, amiga de infância de Ana Caroline, filha de Alessandro.
A Operação Suserano apura se houve prejuízo de R$ 28 milhões aos cofres públicos na compra de kits agrícolas com sobrepreço. A investigação aponta que parte dos kits foi entregue em cidades onde os deputados ou aliados eram candidatos nas eleições de 2024, o que levou a Polícia Civil a encaminhar o caso à Polícia Federal por suspeita de crime eleitoral.
Os deputados mencionados no relatório são: Eduardo Botelho (UB), na época presidente da ALMT; Juca do Guaraná (MDB); Cláudio Ferreira (PL), atual prefeito de Rondonópolis; Doutor João (MDB); Gilberto Cattani (PL); Fabio Tardin (PSB); Julio Campos (UB), ex-governador do estado; Faissal Calil (PL); Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD); Dr. Eugênio (PSB); Wilson Santos (PSD); Thiago Silva (MDB); Dilmar Dal Bosco (UB); Carlos Avalone (PSDB), além de Alan Kardec (PSB), atual secretário de Ciência e Tecnologia da Informação.
Augusto Heleno Da Costa
Terça-Feira, 17 de Junho de 2025, 16h12