Auditor da Receita em Cuiabá copiou dados sigilosos de inimigos de Bolsonaro

 

O auditor fiscal da Receita Federal em Cuiabá, Ricardo Pereira Feitosa, copiou dados sigilosos de inimigos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi revelada numa reportagem do jornal Folha de São Paulo, publicada na última segunda-feira (27). Segundo a matéria, Ricardo Pereira Feitosa acessou e copiou os dados sigilosos nos dias 10, 16 e 18 de julho de 2019, no início da gestão de Bolsonaro. Servidor efetivo da Receita Federal, lotado em Cuiabá, ele ocupou o cargo comissionado de coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita – uma espécie de “setor da inteligência” do órgão.

O acesso aos dados sigilosos não teve nenhuma motivação formal da Receita, que ao menos oficialmente não investigava os “desafetos” do presidente. Um dos alvos, de acordo com a reportagem, foi o então procurador-geral de justiça do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, que coordenava as investigações do “Escândalo das Rachadinhas” da família Bolsonaro.

Dois outros políticos que tiveram participação decisiva na ascensão do ex-presidente ao Poder, mas que haviam “rompido” com o antigo “aliado”, também sofreram invasões – o ex-ministro Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, e o empresário Paulo Marinho.

Gustavo Bebianno era advogado e coordenou a campanha de Jair Bolsonaro em 2018. Ele se voltou contra o “Chefe” após sofrer um processo de “fritura”, da própria cúpula de Bolsonaro, em razão do escândalo das candidaturas laranjas do PSL com o objetivo de desviar verbas eleitorais. Ele acabou demitido da Secretaria-Geral da presidência menos de dois meses depois de ocupar o cargo, em março de 2019.

Após a demissão, Bebianno passou a criticar o ex-presidente e sua família – também composta por políticos, com ou sem mandato. A matéria da Folha de São Paulo revela que ele teve dados sigilosos de seu imposto de renda, entre os anos de 2013 e 2019, acessados e copiados por Ricardo Pereira Feitosa. Bebianno morreu de infarto no mês de março de 2020.

O empresário Paulo Marinho, por sua vez, também era figurinha carimbada ao lado de Bolsonaro durante sua campanha em 2018. Ele chegou a emprestar uma mansão, de sua propriedade, para o então candidato, transformando-a numa espécie de “QG Bolsonarita”, onde eram gravados até mesmo vídeos e trabalhos publicitários em favor do então candidato à presidência.

Paulo Marinho se voltou contra o clã Bolsonaro em razão da “fritura” submetida a Gustavo Bebianno, seu amigo pessoal, e também à saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, no primeiro semestre de 2020. Ele e a esposa tiveram dados sigilosos acessados por Ricardo Pereira Feitosa, no período de 2008 a 2019 (com exceção do ano de 2012), em relação à Marinho, e 2010 a 2013, contra Adriana Bourguignon Marinho, mulher do empresário.

Ainda de acordo com reportagem do jornal paulista, Ricardo Pereira Feitosa teria obtido os dados de ao menos três sistemas de acesso restrito da Receita Federal. Ele responde a um processo administrativo no órgão, que segundo a matéria teria recomendado sua demissão do serviço público, decisão que deve ser tomada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O Portal Transparência do Governo Federal revela que o auditor fiscal tem um salário líquido mensal de R$ 20 mil.