Um dia após o cumprimento do mandado de busca e apreensão pela Polícia Federal na presidência da Assembleia Legislativa contra o deputado José Riva (PSD), que desmontou até o teto da sala para vasculhar se havia possíveis provas escondidas, os parlamentares mantiveram a discrição e evitaram deixar o plenário para conversar com jornalistas.
O deputado está preso em Brasília desde terça-feira (20) quando foi desencadeada a quinta fase da Operação Ararath. ‘Eu não sou presidente, estou presidente e só vou ocupar o gabinete quando a Justiça oficializar, até porque desmontaram isso aí tudo, até no telhado mexeram’, disse o deputado Romoaldo Júnior (PMDB) se referindo ao gabinete da presidência então ocupado por Riva.
Todas as gavetas e armários do gabinete foram revistados. Por cerca de seis horas, eles verificaram vários itens. Porém, nada do material apreendido foi divulgado, nem pela PF e nem por assessores da Casa. Desde o ano passado, quando a Justiça decretou o afastamento de Riva da presidência, Romoaldo foi alçado ao cargo de presidente por ter sido eleito primeiro vice-presidente. Desde que o prédio da Assembleia Legislativa mudou da rua Barão de Melgaço, Centro de Cuiabá, em 2005, até os dias atuais, Riva sempre se manteve nos cargos de presidente ou primeiro-secretário do Parlamento.
Romoaldo diz que não tem pretensão de ocupar a presidência, enquanto não houver uma decisão julgada no mérito. Ele nega que, além do espaço da presidência, Riva estivesse tomando decisões no Legislativo, conforme citou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), embasado nas investigações do Ministério Público Federal (MPF). ‘Ele (Riva) ocupava o espaço da presidência, o gabinete dele sempre foi aqui. Tem uma decisão liminar que o afasta da presidência e não no mérito, então ele pode voltar. Ele entrou com recursos e nem todos os embargos foram julgados”, alega o peemedebista. Apesar do argumento, Romoaldo relatou que chegou a conversar com José Riva sobre o assunto.
“Conversei com ele sobre o fato que as pessoas não entendem que embora afastado da residência, ele continuasse despachando ali. Eu acho que isso está ficando ruim para você (Riva)’, disse Romoaldo, narrando o diálogo que teria mantido com o parlamentar preso.
Logo após a prisão de Riva, Romoaldo disse que manteve contato, por telefone, com todos os demais parlamentares, que compareceram à sessão noturna. ‘Os trabalhos continuam, o colegiado como um todo sente porque o Riva é uma pessoa muito querida’, disse.
O presidente jura que Riva não assinou qualquer documento ou presidiu sessões após a decisão, em caráter de liminar, que o afastou do cargo. ‘Ele não deu pitaco, deu autonomia para mim e para Mauro Savi (primeiro secretário) tocar’, relatou. Considerada caixa de ressonância da população de Mato Grosso, onde vários assuntos são repercutidos, durante quase 3 horas de sessão plenária, na manhã de ontem, apenas o deputado Adalto de Freitas (SD) falou sobre o assunto. Porém, mais para lamentar e reafirmar que o parlamentar tem direito à defesa e esclarecer os fatos. Para ele, é uma vergonha, já que a população está aplaudindo a operação da PF. Entretanto, Freitas ainda responsabilizou o Poder Executivo. ‘Quando este não cumpre com o seu papel, os outros poderes ficam vulneráveis’, discursou em um momento que havia apenas outros dois deputados em Plenário, Deucimar Silva (PP) e Carlos Avalone (PSDB), ambos suplentes.